Os Estados brasileiros não estão preparados, em sua maioria, para atender no SUS (Sistema Único de Saúde). Em casos de sintomas respiratórios mais graves, quando a suplementação de oxigênio não é suficiente, a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) é o único lugar que conta com recurso de suporte.
As situações mais preocupantes estão nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, as mais pobres e mais dependentes do SUS. Já nas regiões Sul e no Sudeste, o Rio de Janeiro é o único Estado precário.
Menos de 10% dos municípios contam com leitos de UTI, públicos ou privados, e os pacientes vão precisar ser encaminhados a hospitais de referência regionais.
Apesar do SUS cumprir em média, porém, no limite, a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) de ter o mínimo de um leito de UTI para cada 10 mil habitantes, dois terços deles não chegam a isso, conforme dados do Conselho Federal de Medicina e números do Ministério da Saúde e do IBGE.
No auge da epidemia demanda chegou a 2,4 leitos de UTI por 10 mil habitantes, segundo a Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), mais que o dobro da média disponível no SUS.
Entre as diferenças entre Brasil e Itália está o menor percentual entre a população brasileira de pessoas mais velhas, mais afetadas pelo coronavírus.
Contando as UTIs do SUS e as do setor privado, o País conta com aproximadamente 47 mil leitos, com média de 2,1 a cada 10 mil pessoas, ainda assim abaixo do que vem sendo necessário em outros países.
No Brasil 75% das pessoas usam o SUS e 25% têm plano de saúde, estes sim atendendo folgadamente os parâmetros da OMS em todos os Estados, com média de 4,8 leitos por 10 mil segurados.
Antes do coronavírus, a taxa de ocupação das UTIs para adultos no SUS já era de 95%, o que mantém sistematicamente os hospitais ligados ao sistema sob pressão. A área privada tem taxa de 80%, segundo a Amib.
Os casos graves de infecção pelo coronavírus demandam de internação em UTIs por entre 14 a 21 dias, em média o dobro ou o triplo do tempo na rede pública.
Em outros casos, semelhantes a gripes, sequer é necessária a permanência em leito hospitalar.
Mais de 30% dos leitos de UTI são destinados a crianças, necessitando de adaptação para adultos durante a crise da Covid-19.
“A questão é a distribuição desses leitos, levando em conta os dois sistemas [público e privado] e as disparidades regionais”, afirma Ederlon Rezende, ex-presidente e membro do conselho consultivo da Amib.
No Nordeste, somente dois dos sete Estados (Pernambuco e Sergipe) cumprem, no SUS, o mínimo recomendado pela OMS. Nos sete do Norte, só Rondônia. Nos quatro do Centro-Oeste, apenas Goiás.
O clima mais quente é a esperança de menor propagação do vírus nessas regiões, embora ainda não seja algo confirmado. No entanto, a maioria dos casos no Brasil ainda se concentre no Sul e no Sudeste.
O Estado do Rio de Janeiro é o único nessas duas regiões onde o sistema público está abaixo da meta, com 0,97 leito de UTI para cada 10 mil pessoas. Ainda assim é o terceiro Estado com mais leitos privados em proporção aos beneficiários dos planos (8,7 por 10 mil).
O Ministério da Saúde promete aumento de 1.000 para 2.000 a instalação de novos leitos de UTI na rede pública, o que ainda assim não atenderia as recomendações da OMS.
O aumento de leitos hospitalares comuns e de UTI, para pacientes graves, estão nos planos dos governos estaduais caso avance e se agrave a pandemia causada pelo novo coronavírus.
Há Estados que já preparam planos com leitos exclusivos para pacientes graves com Covid-19 ou preveem o uso da rede privada.
Rezende, da Amib, afirma que a montagem de um leito básico de UTI custa R$ 100 mil e sua manutenção, sobretudo com gasto destinado a pessoal, cerca de R$ 2.000 mensais.
Também há uma recomendação que vai ao encontro da abertura de espaço nas UTIs que demanda a adoção de tratamentos paliativos para doentes terminais fora das unidades. Também é possível usar outros espaços onde há equipamentos de respiração, como salas de cirurgia e pós-operatório.
Critérios de internação em UTI
Na última semana o Ministério da Saúde informou que vai mudar os critérios para o uso de leitos nas UTIs por causa do número crescente de casos. Atualmente, há três níveis de prioridade: pacientes em estado crítico e instável que necessitem de monitoramento que não pode ser obtido fora da UTI (como tratamentos com suporte ventilatório e drogas vasoativas contínuas); pacientes com necessidade de monitoramento intensivo e com duas doenças simultâneas (comorbidade); e pacientes em estado terminal.
De acordo com o secretário-executivo da pasta, pacientes terminais não serão mais levados a este setor. “Estamos pensando em sugestões e alterações do uso dos leitos. Não vamos colocar pacientes de forma desnecessária em um hospital. Tem critérios na utilização para situação de emergência”, disse João Gabbardo dos Reis.