O especialista responsável pela controversa estratégia da Suécia para enfrentar a pandemia de coronavírus admitiu, em entrevista veiculada nesta quarta-feira (03), que ter ido na contramão do resto do mundo pode ter sido um erro e causado mortes em excesso no país.
“Se estivéssemos diante da mesma doença, com o mesmo conhecimento que temos hoje, acho que a nossa resposta seria alguma coisa entre o que a Suécia fez e o que o resto do mundo fez”, disse o epidemiologista Anders Tegnell.
Desde o início da pandemia, a Suécia adotou uma estratégia mais suave do que a maioria dos países europeus para conter o vírus, apelando para a responsabilidade individual de proteger grupos de risco e com poucas restrições de movimentação aos cidadãos.
Faculdades e universidades foram, de fato, fechadas, visitas a lares de idosos foram proibidas, assim como eventos com mais de 50 pessoas. Mas creches, escolas, restaurantes e comércio continuaram abertos, o que acabou mudando pouco a rotina dos suecos.
A abordagem mais relaxada para conter o vírus vinha recebendo críticas no país. Em abril, por exemplo, um grupo de 22 cientistas das mais renomadas universidades do país publicou uma carta repudiando a estratégia do governo do primeiro-ministro Stefan Löfven (social-democrata) e cobrando restrições mais duras de movimento.
O caso sueco chegou a ser citado como exemplo pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que, sem base científica, abertamente se opõe ao confinamento obrigatório. Mas os números sugerem uma estratégia problemática por parte da Suécia.
A taxa de mortalidade da Covid-19 no país nórdico ficou abaixo dos países europeus mais atingidos pela pandemia, como Itália (555 mortes por milhão de habitantes), Espanha (581) e Reino Unido (593).
Porém, com mais de 4.460 mortos, a taxa na Suécia está entre as mais altas do mundo (439 para cada milhão de habitantes) e supera de longe as das vizinhas Dinamarca (100), Noruega (45) e Finlândia (58), que impuseram bloqueios muito mais duros no início da pandemia.
Os números levaram Tegnell a reconhecer, pela primeira vez publicamente, que a estratégia está resultando em um número excessivo de mortes: “Claramente, há potencial de melhoria no que fizemos na Suécia”, admitiu.