A Polônia e a Bulgária disseram que a Rússia está cortando o fornecimento de gás para os dois países da Otan, nas primeiras ações desse tipo no contexto da guerra da Ucrânia. As duas nações recusaram as exigências do Kremlin de que o pagamento pelo gás fosse feito em rublos e indicaram que não sofrerão escassez.
Os governos dos dois países europeus disseram nesta terça-feira (26) que foram informados pela gigante de energia russa Gazprom de que o fornecimento de gás seria interrompido. Segundo a empresa estatal de gás da Polônia, PGNiG, as entregas pelo gasoduto Yamal-Europa seriam interrompidas na quarta (27). O Ministério da Economia da Bulgária emitiu comunicado semelhante.
Os dois países, também membros da União Europeia, garantiram que não haverá desabastecimento, pois se prepararam para obter o gás que faltava de outras fontes.
Decisão é conhecida no mesmo dia em que a Alemanha anunciou que vai enviar tanques de defesa aérea para Kiev pela primeira vez na guerra, mostrando uma mudança na política anterior de não enviar ajuda militar pesada.
A Polônia tem sido uma forte apoiadora da vizinha Ucrânia durante a invasão russa. É um ponto de trânsito para armas que os Estados Unidos e outras nações ocidentais forneceram aos ucranianos.
O governo polonês confirmou esta semana que estava enviando tanques para o Exército de Kiev. Também anunciou uma lista de sanções visando 50 oligarcas e empresas russas, incluindo a Gazprom.
A Europa importa grandes quantidades de gás natural russo para aquecer residências, gerar eletricidade e abastecer a indústria de combustível. As importações continuaram apesar da guerra na Ucrânia.
Cerca de 60% das importações são pagas em euros e o restante em dólares. O presidente russo, Vladimir Putin, disse no mês passado que, daqui para frente, os compradores estrangeiros “hostis” teriam de pagar a estatal Gazprom em rublos.
A demanda de Putin aparentemente pretendia ajudar a reforçar a moeda russa em meio à guerra na Ucrânia. Líderes europeus disseram que não cumpririam, argumentando que a exigência de rublos violava os termos dos contratos e suas sanções contra a Rússia.
O gasoduto Yamal transporta gás natural da Rússia para Polônia e Alemanha, através da Belarus.
Independência
A Polônia tem recebido anualmente cerca de 9 bilhões de metros cúbicos de gás russo. A empresa de gás da Polônia PGNiG disse que a exigência da Rússia de ser paga em rublos representava uma violação do contrato da Yamal.
Os fluxogramas publicados no site da Rede Europeia de Operadores de Sistemas de Transmissão de Gás mostraram quedas drásticas de fluxos de gás nos pontos de entrada em Kondratki, uma cidade no leste da Polônia, e Vysokaye, na Belarus.
A agência de notícias russa Tass citou a Gazprom dizendo que a Polônia deve pagar por seus fornecimentos de gás sob um novo procedimento.
Já era esperado que a Polônia tivesse seu fornecimento de gás interrompido pela Rússia. A ministra polonesa do Clima, Anna Moskwa, enfatizou que a Polônia estava preparada para tal situação depois de trabalhar durante anos para reduzir sua dependência de fontes de energia russas.
Ela disse que o país tem sido efetivamente independente quando se trata de gás russo há algum tempo. “Não haverá escassez de gás nas casas polonesas”, tuitou Moskwa. A ministra repetiu essa mensagem em uma entrevista coletiva, dizendo: “As estratégias de diversificação apropriadas que introduzimos nos permitem sentirmos seguros nesta situação”, disse ela.
A Polônia vem trabalhando desde a década de 90 para se livrar da energia russa e já estava a caminho de acabar com sua dependência do gás russo este ano. Recentemente, decidiu interromper as importações de carvão russo. O governo de Varsóvia instou outros países europeus a diminuir sua dependência das fontes de energia russas.
A situação é mais complicada na Bulgária, quase totalmente dependente das importações russas de gás. Mas para lidar com a situação, o governo búlgaro declarou que havia realizado “ações para encontrar arranjos alternativos para o fornecimento de gás natural”. A Bulgária garante que “por enquanto” não está prevista nenhuma medida para restringir o consumo.
“O lado búlgaro cumpriu integralmente suas obrigações e fez todos os pagamentos (à Rússia) exigidos no contrato no devido tempo”, disse o governo búlgaro após o anúncio da Gazprom. O país balcânico também denunciou “o novo procedimento de pagamento em duas etapas proposto pelo lado russo”.
“Ele não está em conformidade com o contrato atual até o final deste ano e apresenta riscos significativos para o lado búlgaro, como fazer pagamentos sem receber nenhuma entrega de gás do lado russo”, acrescentou.