Rio São Francisco: Baronesas se espalham pelas cidades ribeirinhas e municípios buscam soluções para o problema

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As cidades ribeirinhas da Bacia do São Francisco enfrentam diversos desafios quanto à boa convivência, cuidado e preservação do rio. Com apenas um dos 505 municípios tratando 100% do seu esgoto (Lagoa da Prata, em Minas Gerais), os problemas se avolumam e mostram a cara através de uma das mais comuns imagens nas águas do Velho Chico: a presença das eichorniacrassipes, nomenclatura científica das popularmente conhecidas baronesas, planta que cresce em grande quantidade em ambientes poluídos com excesso de fósforo ou nitrogênio.

Em Paulo Afonso, cidade baiana localizada no baixo São Francisco, a presença das plantas já custou alguns milhões em prejuízos já que a região tem forte representação na piscicultura. O município vem se esforçando rotineiramente para minimizar os impactos e também está contando com o apoio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco na revitalização de lagoas marginais.

Outra região que amarga dificuldades e consequências ainda piores é a comunidade do distrito Volta do Moxotó, pertencente à cidade de Jatobá (PE), no Submédio São Francisco.

Nesta localidade, banhada pelo Rio Moxotó, afluente intermitente do São Francisco, problemas comuns à maioria das cidades brasileiras que não possuem plano de saneamento, como despejo do esgoto sem tratamento, diminuição da vazão dos barramentos e perímetros de irrigação nas margens do rio contribuem para a formação de um longo tapete de baronesas.

“O rio Moxotó nasce no município de Sertânia em Pernambuco, e desde sua nascente até o encontro com o Lago do Moxotó, formado pelo barramento do rio São Francisco, exatamente no distrito da Volta do Moxotó, em Jatobá, estão as cidades de Sertânia, Ibimirim e Inajá, que não possuem sistemas de esgotamento sanitário, jogando assim todos os esgotos na calha do rio. Além disso, existe a Barragem de Poço da Cruz que represa toda água nos períodos da chuva, diminuindo a vazão drasticamente. Além disso, os perímetros de irrigação a jusante da barragem realizam a pulverização de agrotóxicos, sendo os mesmos lixiviados para o Rio Moxotó. Há também a perfuração de poços, sem controle, na Bacia do Jatobá, que tem águas subterrâneas e alimentam o Rio Moxotó. Devido a todas essas problemáticas, o surgimento e a proliferação das baronesas são constantes”, explicou o Coordenador Regional da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Kleyton Lima. As cidades de Jatobá e Ibimirim estão em fase de elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico, financiado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

Morador de Volta do Moxotó, o produtor cultural Ricardo Araújo de Menezes relata que a comunidade, um dos maiores distritos de Jatobá, não tem saneamento. “Há muito tempo foi feito uma espécie de saneamento apenas para água de pia, tendo como destino final o rio Moxotó, mas depois as pessoas passaram a despejar esgoto de fossa e foi aí que começaram a aparecer as baronesas”, conta o produtor que, em uma agenda de trabalho, acabou se deparando com o acúmulo de grande quantidade da planta e fotografou o evento.

Em pequenas quantidades, a planta pode ser benéfica ao meio ambiente porque pode cumprir o papel de proteção dos peixes que se abrigam entre elas, conforme explica o professor Emerson Soares. “Em ambiente controlado, a baronesa se torna abrigo e evita a predação de peixes, diminui a temperatura da colônia, faz sombreamento possibilitando a reprodução de espécies e serve até de alimento para peixes herbívoros. O problema é quando há grande quantidade, e isso ocorre em ambiente com excesso de fósforo e nitrogênio que são derivados de matéria orgânica, esgoto, fertilizantes e agroquímicos e se o rio tem menos corredeira, o acúmulo em excesso da planta acontece também por ter pouca renovação de água. Além disso, outros fatores também pesam para a proliferação da baronesa, como a diminuição da vazão com maior retenção de água pelas hidrelétricas e assoreamento”, explicou.

PROBLEMA GERA PROBLEMAS: Se a baronesa nasce de um sério problema, ela também, por si, representa e provoca muitos outros. Para a navegação, as plantas se enrolam nas hélices travando os motores; para o abastecimento, pode provocar a queima de bombas que auxiliam no abastecimento das cidades. Foi o que aconteceu no ano passado com a Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), que perdeu uma das duas bombas responsáveis pelo abastecimento da Bacia Leiteira, em Pão de Açúcar, comprometendo 50% do fornecimento, atingindo 200 mil pessoas no sertão alagoano.

Do lado pernambucano, a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) afirma que esse tipo de vegetação causa entupimentos nos equipamentos de captação, provocando desde redução da vazão captada até paralisação do sistema. “Neste caso, é necessário realizar a remoção da vegetação em intervalos de tempo que dependem da quantidade e densidade da vegetação. Também é comum a utilização de equipamentos, boias, grades, telas entre equipamentos que impedem que a planta se aproxime dos equipamentos de captação”, afirmou o gerente regional da Compesa, João Raphael Silva de Queiroz, lembrando que os custos devido à presença de baronesas no rio vão desde a mão de obra para manter os equipamentos de proteção, limpeza dos equipamentos de captação, até custos com perdas de faturamento devido à redução ou interrupção da água captada.

PENSANDO SOLUÇÕES: Em Petrolina, sertão Pernambucano, o projeto Orla Nossa tem executado ações de revitalização das margens do Rio São Francisco, no trecho compreendido entre as orlas I e II do município, de acordo com a Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA). Iniciado em fevereiro de 2017, a proposta é recuperar todo o ecossistema degradado compreendendo a qualidade da água, mata ciliar e fauna. “ Aliando inovação tecnológica de baixo custo e impacto ambiental no manejo das macrófitas (conhecidas como baronesas), são feitas ações de saneamento e educação ambiental. A proposta é desenvolver uma prática de atuação no processo de revitalização do Rio São Francisco alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU)”, explicou o diretor de projetos ambientais, Victor Flores.

Segundo a AMMA, uma média de 19 hectares de baronesas já foram retirados deste trecho do rio São Francisco nos últimos anos, o que possibilitou manter a oxigenação da água. “Após estudos iniciais que evidenciaram a gravidade do trecho eutrofizado, o manejo de macrófitas é feito sempre que as mesmas começam a se decompor no fundo do rio. Foram retiradas do trecho seis pontos de esgoto e reduzido no restante, com a fiscalização e ações corretivas, o que equivale a 72% do esgoto que caía antes do programa e ações de educação ambiental. Já atingimos mais de quatro mil estudantes da rede pública e particular, e pescadores, além de termos liberado mais de 300 mil alevinos no trecho”, acrescentou Flores, lembrando que em junho deste ano, sete mil árvores nativas georreferenciadas com acompanhamento de pesquisa realizada pelo Instituto Federal do Sertão (IF Sertão) foram plantadas nas margens do rio, no mesmo trecho de execução do projeto.

Como a planta se alimenta de poluentes, é preciso impedir que fertilizantes e agrotóxicos sejam despejados no rio, além do esgoto das cidades que chegam às águas sem nenhum tratamento. Por isso, visando a qualidade da bacia, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco auxilia municípios na elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico e vem confirmando em seus diagnósticos a presença do despejo desses poluentes em todas as cidades onde o PMSB já foi executado e nos municípios onde o estudo está em andamento. Em menor escala ou sem nenhum tratamento, as cidades têm destinado seu esgoto ao Velho Chico. Atualmente, seguem em andamento 48 novos planos de saneamento nas quatro regiões fisiográficas da bacia.

CBHSF *Texto: Juciana Cavalcante *Fotos: Ricardo Menezes e Jean César Barros