por Folhapress
Pelo menos 20 pessoas ficaram feridas nesta sexta (5) em Assunção após confrontos nas ruas entre policiais e manifestantes, que pedem a saída do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, pela má gestão da pandemia.
O país vive seu pior momento da crise sanitária, com falta de insumos em hospitais, recorde de novos casos de Covid e vacinação lenta.
Durante o dia, houve protestos em Ciudad del Este e em Assunção. O ato na capital, perto do Congresso, começou pacífico, reunindo jovens que usavam máscaras.
A confusão teve início perto das 20h, quando policiais começaram a reprimir os manifestantes em resposta à provocação de um grupo pequeno de homens encapuzados –participantes dizem que eles haviam sido infiltrados.
Forças de segurança dispararam balas de borracha e bombas de gás em grupos reunidos perto do Congresso. Os ativistas derrubaram barreiras de segurança, construíram barricadas e atiraram pedras na direção dos agentes.
O confronto se espalhou pelas ruas do centro da cidade, que registrou cenas de batalha campal. Em alguns locais, os agentes agitaram panos brancos para tentar pedir que os ativistas se acalmassem.
Após a confusão, parte dos manifestantes foi até a sede da Polícia Nacional exigir falar com o comandante da força, para saber quem havia dado a ordem para o ataque.
Os atos nas ruas ganharam força mesmo após a saída do ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, nesta sexta. Ele deixou o cargo após o Senado aprovar uma resolução que pedia seu afastamento. Sua gestão foi criticada por conta da falta de insumos nos hospitais, a demora na chegada de vacinas e por casos de corrupção que não foram punidos.
Segundo o jornal local ABC, grupos de manifestantes permaneceram em vigília na madrugada diante do Congresso e esperavam convocar novos atos para este sábado (6).
Ainda segundo o jornal, o primeiro escalão do governo está reunido para discutir a crise, e o presidente pediu que todos os ministros coloquem seus cargos à disposição.
“Em nome do presidente, anuncio que ele escutou o povo. Chama pela paz, pela calma entre os paraguaios, e respeita as manifestações pacíficas”, disse Juan Manuel Brunetti, ministro de Tecnologias da Informação e Comunicação. A expectativa era de que Abdo Benítez fizesse um pronunciamento público ainda neste sábado para anunciar mudanças administrativas.
O senador Hugo Richer, da coalizão de esquerda Frente Guasu, pediu a renúncia do presidente e do vice e a convocação de novas eleições.
“Precisamos de um governo que lidere o processo [da crise econômica, sanitária e social], e não acredito que Abdo Benítez tenha essa capacidade.”
Segundo o governo paraguaio, há quase 300 pacientes de Covid em UTIs. Até quinta (4), o país somava 164 mil casos da doença e 3.256 mortes desde o começo da crise.
O presidente Abdo Benítez tomou posse em 2018. Um ano depois, escapou de um processo de impeachment, motivado pela revelação de um acordo secreto entre Brasil e Paraguai sobre a energia gerada em Itaipu, que foi considerado prejudicial aos paraguaios e acabou cancelado.
Na Cúpula do Mercosul, realizada em Bento Gonçalves (RS) em 2019, Abdo Benítez agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro por seu “apoio quando houve uma ameaça à nossa democracia”, referindo-se ao processo de impeachment. O Planalto atuou para arrefecer o processo. Na ocasião, Bolsonaro chamou o mandatário de “irmão paraguaio”.
Antes do pronunciamento do presidente paraguaio neste sábado, a reportagem ouviu de políticos que, por ora, o setor majoritário do partido Colorado, dominado por Horacio Cartes, não votaria por sua saída.
Abdo, 49, integra o Partido Colorado, que governa o país de forma quase ininterrupta desde os anos 1940, inclusive durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).