Maior ação contra trabalho escravo da história resgata 593 trabalhadores

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Entre os setores econômicos, a agropecuária concentra 72% do total de trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão – MPT

A Operação Resgate IV, realizada entre julho e agosto deste ano, é a maior ação já promovida no Brasil contra o trabalho escravo contemporâneo. Durante essa operação, 593 trabalhadores foram resgatados de condições degradantes, um aumento de 11,65% em relação ao número de resgatados na operação anterior em 2023.

A operação, coordenada pelos ministérios do Trabalho e Emprego (MTE), Público do Trabalho (MPT) e Público Federal (MPF), contou com a participação das polícias Federal (PF) e Rodoviária Federal (PRF) e da Defensoria Pública da União (DPU). Mais de 23 equipes de fiscalização realizaram 130 inspeções em 15 estados e no Distrito Federal, entre 19 de julho e 28 de agosto.

Os estados com o maior número de resgates foram Minas Gerais (291), São Paulo (143), Pernambuco (91) e o Distrito Federal (29). A maioria dos resgatados, cerca de 72%, trabalhava na agropecuária, 17% na indústria e 11% no comércio e serviços. As principais atividades rurais envolvidas foram o cultivo de cebola, horticultura, café e alho, enquanto nas áreas urbanas destacaram-se a fabricação de álcool e administração de obras.

Casos notáveis incluíram a utilização de transporte terrestre, aéreo e fluvial para acessar áreas remotas em Mato Grosso do Sul, onde 13 trabalhadores paraguaios foram resgatados. Em Pernambuco, 18 pacientes internados em uma clínica para dependentes químicos foram encontrados realizando trabalho compulsório. Em Minas Gerais, 59 trabalhadores, incluindo sete mulheres e quatro menores de idade, foram encontrados em condições análogas à escravidão enquanto colhiam alho.

Durante a operação, foram resgatadas 18 crianças e adolescentes submetidos a trabalho infantil, 16 dos quais também estavam em condições semelhantes à escravidão, com inspeções realizadas em Amapá, Distrito Federal, Mato Grosso e Minas Gerais.

André Roston, coordenador geral de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Análogo ao de Escravo e Tráfico de Pessoas (MTE), informou que os trabalhadores resgatados receberam cerca de R$ 1,91 milhão em verbas rescisórias, de um total estimado de R$ 3,46 milhões. O valor total pode aumentar à medida que outros pagamentos são negociados ou judicializados.

A operação também destacou o resgate de uma trabalhadora doméstica de 94 anos em Mato Grosso, a mais idosa já resgatada no Brasil. Ela havia trabalhado sem salário durante 64 anos e foi garantida a ela uma casa e um salário mínimo mensal.

A Operação Resgate IV é a maior ação conjunta no país voltada ao combate do trabalho análogo à escravidão e tráfico de pessoas, marcada pelo Dia Internacional para a Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição e pela data de falecimento do abolicionista Luís Gama.

Além disso, a operação identificou e resgatou trabalhadores estrangeiros em condições precárias, como os quatro argentinos encontrados em Anta Gorda (RS), que foram libertados e retornaram para a Argentina após receberem suas verbas rescisórias.