Israel aprova cessar-fogo temporário com Hamas para libertação de reféns em troca de presos palestinos

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Das quase 240 pessoas sequestradas, 50 serão liberadas, incluindo mulheres e crianças. (Foto: Reprodução)

Israel e o grupo fundamentalista islâmico Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo temporário em Gaza. Presos palestinos serão libertados em troca de 50 dos quase 240 reféns sequestrados pelos terroristas durante o ataque de 7 de outubro, que também deixou 1,2 mil mortos em solo israelense. As tratativas foram mediadas por Catar, Egito e Estados Unidos.

“O governo de Israel está comprometido com a tarefa de trazer todos os sequestrados para casa. Na noite de hoje, o governo aprovou as linhas gerais para o primeiro passo para atingir esse objetivo, segundo o qual pelo menos 50 reféns — mulheres e crianças — serão libertados ao longo de quatro dias, durante os quais haverá uma pausa nos combates”, diz o comunicado do escritório do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. “Para cada dez reféns a mais que forem libertados, haverá mais um dia de pausa nos combates.”

O comunicado não faz referência a quantos prisioneiros palestinos estarão envolvidos no acordo Segundo informações preliminares, até 150 pessoas estariam envolvidas na troca. Tampouco há menção ao acesso de ajuda humanitária em Gaza, e ao acesso da a Cruz Vermelha aos reféns que continuarão sob custódia, garantindo seu acesso a medicamentos.

Segundo o Canal 12, citando fontes do governo israelense, a libertação e transferência dos reféns de Gaza para Israel ocorrerá em cinco etapas. Primeiro, o Hamas deverá entregá-los à Cruz Vermelha, que os levarão até representantes das Forças Armadas de Israel. Em seguida, serão submetidos a um exame médico inicial e levados a um dos seis hospitais que foram preparados para recebê-los. Lá, eles se reencontrarão com suas famílias. Nas duas últimas etapas, as autoridades avaliarão quais reféns estão em condições de relatar o que aconteceu para, só então, serem submetidos a um interrogatório.

Ainda de acordo com o Canal 12, a primeira leva de reféns deve ser libertada pelo grupo nesta quinta (23). A expectativa é que 12 israelenses sob custódia do Hamas sejam soltos por dia. Não há menção a esses detalhes no comunicado do primeiro-ministro.

O anúncio do acordo foi feito após uma sequência de reuniões entre o governo israelense e seus Gabinetes de guerra e de segurança, que antecedeu uma ampla votação com representantes de todos os partidos. Antes do início das conversações, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que esperava ter “boas notícias” em breve. Antes da votação final, ele assegurou que “nós não vamos parar depois do cessar-fogo”.

“Quero esclarecer: estamos em guerra, continuaremos em guerra, continuaremos em guerra até atingirmos todos os nossos objetivos. Destruiremos o Hamas, devolveremos todos os nossos sequestrados e desaparecidos e garantiremos que em Gaza não haverá nenhum partido que represente uma ameaça a Israel”, afirmou o premier.

O porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, também ressaltou nessa terça que o acordo não afetará o objetivo principal dos militares: eliminar o grupo terrorista. Ele também acrescentou que as famílias dos reféns seriam informadas primeiro sobre a aprovação da iniciativa antes dela vir a público.

“A meta de devolver os reféns é significativa. Mesmo que isso resulte na redução de algumas das outras coisas, saberemos como restaurar nossas conquistas operacionais”, disse Hagari em resposta à pergunta de um jornalista em uma coletiva pouco antes do anúncio oficial.

Mais cedo, o Catar já havia antecipado que os negociadores nunca haviam estado “tão perto de um acordo”, que prevê a paralisação dos ataques de retaliação ao enclave, que, segundo o Hamas, já deixaram mais de 14,1 mil mortos, entre eles milhares de menores de idade.

O mesmo tom otimista foi antecipado por Ismail Haniyeh, líder político do Hamas que vive no Catar e que, em comunicado no Telegram, afirmou: “Estamos perto de alcançar um acordo para uma trégua”.

Em uma entrevista à TV al-Jazeera, Izzat el Reshiq, um porta-voz do grupo terrorista, antecipou que o acordo incluiria “a liberação de mulheres e crianças reféns em troca da soltura de crianças e mulheres palestinas em prisões da Ocupação”, em referência a Israel , cuja existência o movimento islâmico não reconhece. Reshiq afirmou também que nenhum militar israelense capturado em 7 de outubro seria solto.

O resgate dos reféns foi apontado pelo governo israelense como prioritário, mas sem nenhum avanço positivo nesse sentido desde o início da incursão terrestre ao enclave palestino, o clamor da sociedade civil por respostas aumentou nas últimas semanas, pressionando Netanyahu. Antes de o acordo ser alcançado, o premier chegou a declarar que não cessaria os ataques contra Gaza até que os reféns fossem devolvidos em segurança.

Embora o acordo possa trazer um certo alívio ao enclave palestino, sobretudo à infraestrutura humanitária severamente destruída pelos bombardeios e ataques incessantes de Israel, é improvável que qualquer termo negociado nesta terça seja um acordo de paz definitivo entre os grupos.

A rede britânica BBC chamou a atenção para o comunicado do líder do Hamas, que utilizou o termo árabe “hudna”, explicando se referir a um tipo de pausa temporária.

Quando declarou guerra ao Hamas, Netanyahu e sua cúpula política afirmaram que o grande objetivo seria a eliminação do grupo terrorista — uma meta que não parece ter mudado, embora analistas o apontem como improvável de ser atingido. Nada indica que Israel estaria disposto a rever sua relação com o grupo terrorista, fora negociações pela liberação de reféns.