Ibama multa em R$ 57 milhões esquema que fraudava origem de madeira ilegal

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Via Folhapress

Foto: Ibama/divulgação

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) aplicou R$ 56,8 milhões em multas ao longo das últimas semanas contra um esquema que fraudava a origem de madeira extraída ilegalmente.

Um total de 106 mil m³ de madeira foram bloqueados -segundo o instituto, o valor estimado desse material é de R$ 3 milhões e seriam necessários 5 mil caminhões para transportar essa quantidade de carga.

As ações fazem parte da operação Metaverso, que vem sendo conduzida pelo Ibama desde janeiro. O foco é no Distrito Federal e nos estados do Acre, Amapá, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Roraima e Tocantins.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, as ações de fiscalização do Ibama no sul do Amazonas vêm causando reação de ruralistas, que têm usado influência política e notícias falsas para tentar combater a investida do órgão ambiental.

Parlamentares e o presidente da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Jorge Viana (PT), procuraram a chefia do Ibama e o Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima para tratar das ações.

Entre os boatos que circularam sobre a operação estava o de que mais de 90% da produção do estado tinham sido paralisados. Também corria o rumor de que centenas de empresas tinham sido suspensas e que apreensão de gado estava em curso no Acre.

A informação falsa sobre a paralisação quase total das atividades madeireiras no estado chegou até o presidente da ApexBrasil. Viana foi governador (1999-2007) e senador (2011-2019) pelo Acre.

Em reunião com empresários do setor no estado no dia 8, ele afirmou que considerava as ações do Ibama “preocupantes” e que contataria o órgão para “propor soluções que impeçam a paralisação do setor madeireiro no Acre”. A informação foi divulgada pelo jornal AC 24 Horas e compartilhada pelo próprio político nas redes sociais.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, afirmou que o instituto vem sendo atacado por bolsonaristas justamente pelas ações de fiscalização.

Segundo ele, a enorme reação ao caso da capivara Filó tem relação com isso. No último final de semana, a deputada estadual Joana Darc (União Brasil-AM) liderou uma invasão a uma sede do órgão em Manaus para pressionar pela liberação do animal, inclusive com ameaças e ataques a servidores do órgão.

Parlamentares bolsonaristas também foram às redes sociais criticar o Ibama por querer recolocar a capivara Filó na natureza, junto a uma família de outras capivaras -ela ficou famosa pois vivia com um youtuber, que postava sua rotina com o animal em uma fazenda.

“Estão atacando o Ibama porque temos muitas ações no Amazonas, de embargo de áreas desmatadas, apreensões de gado em terra indígena, em unidade de conservação. Esse caso acabou servindo para tentarem desqualificar o trabalho”, disse Agostinho.

As multas de quase R$ 57 milhões do Ibama foram contra planos de manejo na cidade de Lábrea, que fica a pouco mais de 700 km da capital Manaus e é uma das com maior índice de desmatamento no estado.

O plano de manejo sustentável funciona como um certificado para que fazendeiros, por exemplo, possam extrair madeira de suas propriedades a partir da comprovação de que a exploração não danificará o meio ambiente.

O esquema de fraudes é semelhante ao visto para esquentar o ouro ilegal. Madeira extraída de locais proibidos é registrada como se tivesse saído de planos de manejo aprovados pelo Ibama.

O fraudador, então, vende créditos virtuais de madeira -uma das formas de comercialização de madeira no mercado- como se tivessem saído da propriedade regular e não de áreas irregulares.

Por meio de imagens de satélite, no entanto, o órgão identificou que o terreno onde o plano de manejo havia sido aprovado estava pouco explorado.

“As fraudes foram confirmadas por técnicos da Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas do Ibama que realizaram vistorias em planos de manejo e constataram que parte do volume de madeira informado no Sinaflor [sistema para registro do material extraído] não havia sido extraído naqueles locais”, afirmou o instituto.