Folhapress – O ministro da Economia, Paulo Guedes, agora também está se dedicando a temas políticos. No Fórum Econômico Mundial de Davos, quer mostrar que o Brasil, além de ser um país em recuperação econômica, tem uma democracia estável. Portanto, oferece um ambiente completo de boas oportunidades a investidores do mundo todo. Esse é o recado que Guedes quer passar para cerca de 50 executivos de empresas e representantes de governos com quem tem agenda durante o evento na Suíça.
“Ecos provocados pelos próprios brasileiros que se opõem ao governo deram uma ideia errônea aos investidores sobre o que tem acontecido. Eu vou apresentar os números [em reuniões a investidores]”, diz ele. “O Brasil tem uma democracia estável, pujante e que funciona, e os investidores precisam ter clareza disso”, disse o ministro à Folha.
O Fórum, que reúne representantes de governos, empresas e entidades dos mais diversos setores para tratar de temas como economia sustentável e quarta revolução industrial, ocorre de 21 a 24 de janeiro.
Segundo Guedes, os investidores estavam cautelosos em relação ao novo governo do Brasil no Fórum em 2019, e agora ele retorna para mostrar os números da recuperação econômica e fatos que demonstram a “força institucional” do país.
O Brasil começou 2019 com previsão de crescimento acima de 2%, mas deve ter terminado o ano com avanço ao redor de 1,12%, segundo estimativa do governo. Os dados oficiais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) saem em 4 de março. Para 2020, a projeção do governo é de avanço de 2,40% do PIB (Produto Interno Bruto).
No painel sobre projeções para o crescimento da América Latina, o primeiro em Davos no qual falou sobre números da economia, Guedes afirmou que a economia brasileira cresceria 1%, 2%, 3% e 4% a cada ano do governo.
Segundo o ministro, a América Latina está dividida em duas partes. O Brasil, buscando as reformas e o restante dos países enfrentando diferentes crises. “Sabe quanto cresceu a América Latina o ano passado? 0,2%. A América Latina está estagnada. O Brasil está indo para 2,5%. Está todo mundo vibrando: reboca a gente. A América Latina com problemas para tudo quanto é lado e o Brasil fazendo as reformas”, diz.
Na avaliação de Guedes, um dos indicativos de que as instituições “estão saudáveis” no país foi a reação do governo aos protestos contra o vídeo do ex-secretário especial da Cultura, Roberto Alvim. Em pronunciamento na sexta-feira (17), Alvim copiou Joseph Goebbels, ministro da propaganda durante o governo Nazista de Hitler, e provocou uma onda de protestos que fez o presidente Jair Bolsonaro a demiti-lo.
“A mais recente demonstração de que nossa democracia está fortalecida foi a rápida decisão do presidente Bolsonaro de demitir o secretário”, diz Guedes, que soube do vídeo e sua repercussão quando estava nos Estados Unidos para apresentar uma palestra na Mont Pelegrín Society, na Universidade de Stanford.
Guedes afirmou ainda a jornalistas que o governo deve aderir ao acordo de compras governamentais que autoriza a participação de empresas estrangeiras nessas licitações.
Segundo o ministro, a medida é um “ataque frontal à corrupção”.
“Toda vez que o governo for comprar alguma coisa, entra todo mundo. Não dá para fazer aqueles acordos para financiamento de campanha, eu te ajudo a te eleger e depois você me dá recurso público”, afirmou.
Sobre o risco de a adesão ao acordo limitar a possibilidade de políticas industriais, Guedes afirmou que o governo precisa fazer escolhas.
“Você tem que saber o que você quer. É um trade-off. Você quer ter as melhores prática, receber os maiores fluxos de investimentos e se integrar às cadeias globais de negócio ou você quer continuar sendo o que eu disse durante a campanha também, 200 milhões de trouxas servindo a seis empreiteiras, seis bancos. Não. O Brasil não é uma fábrica de bilionários as custas de seus consumidores”, disse.
No que se refere a economia, o recado que o ministro tentará passar é que as oportunidades no mundo dos negócios estão no Brasil.
“O Brasil é a maior fronteira de investimentos do mundo, tirando Estados Unidos e China. Mineração, óleo gás, infraestrutura, está tudo aberto para investimento privado [no Brasil] num mundo que está desacelerando e numa América Latina estagnada”, diz Guedes.
Os presidentes de grandes empresas são destaque na agenda do ministro ao longo da semana.
Falará de agenda econômica e política do Brasil com Axel Weber, presidente do banco UBS. Já com Mark Machin, presidente do CPP Investment Board (fundo de pensão canadense) falará sobre a agenda de reformas e opções de investimentos. Também participará do tradicional almoço para clientes do Itaú Unibanco, que ocorre nesta terça.
Tem reuniões com Tim Cook, presidente da Apple, e Brad Smith, presidente da Microsoft, para tratar sobre a oportunidade de projetos no Brasil.
Para Ryan McInerney, presidente da Visa, pretende apresentar a reforma do sistema financeiro que está em curso no Brasil e tratar de eventuais investimentos do grupo que possam reduzir a informalidade e expandir o acesso a produtos financeiros.
Com Lakshmi Mittal, presidente global da companhia de mineração Arcelor Mittal, a meta é tratar do futuro da indústria de aço e investimentos no Brasil.
Na área de energia, tem agenda com Mike Wirth, presidente da Chevron, uma das maiores petroleiras do mundo, para discutir oportunidades de investimento no Brasil, e com Francisco Reynés, presidente da Naturgy, empresa espanhola da área de gás natural, setor que o governo prioriza.
Também tem reunião bilateral com Dara Khosrowshahi, presidente da Uber, na qual vai tratar sobre questões trabalhistas e tributárias.