Está faltando insulina no Sistema Único de Saúde (SUS). As prateleiras vazias de insulina rápida nos estados é fruto de tentativas frustradas do Ministério de Saúde de comprar o produto. Nos dois últimos pregões regulares abertos pela pasta, em agosto de 2022 e em janeiro deste ano, não houve propostas. Em nota publicada no início de abril, a pasta informou que o estoque de insulina rápida acabaria a partir de maio.
Para evitar um desabastecimento nacional, a solução encontrada pelo governo foi abrir uma compra emergencial, quando até mesmo produtos de laboratórios estrangeiros sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) podem ser adquiridos. E foi exatamente o que aconteceu. No último dia 20, o ministério fechou acordo para adquirir 1,3 milhão de tubetes de insulina.
A compra, porém, é contestada pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), que questiona a qualidade da insulina adquirida. “Temos receio acerca dessa nova compra. A Anvisa desconhece o produto e nosso medo é a qualidade dele”, diz o presidente da SBD, Levimar Araújo.
No fim do mês de março, o Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a fazer um alerta ao ministério sobre o risco de faltar insulina para diabetes nos estados. A fiscalização realizada pela Corte de Contas foi aberta a pedido do Congresso Nacional para apurar eventuais “irregularidades existentes nas compras, entregas e armazenamento dos medicamentos utilizados no tratamento de diabetes”.
A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas, que é responsável por transportar a glicose do sangue para o interior das células, para que seja usada como fonte de energia. Ela é produzida principalmente após as refeições, quando a quantidade de açúcar no sangue aumenta. Quando a produção de insulina é insuficiente ou ausente, como no diabetes, o açúcar não consegue ser levado para o interior das células e, por isso, acaba se acumulando no sangue e no resto do organismo, provocando complicações como retinopatia, insuficiência renal, ferimentos que não cicatrizam e até favorecendo o AVC.
A curto prazo, a falta de insulina rápida pode causar náusea, vômitos, dores abdominais, respiração descompassada e confusão mental. Os sintomas vêm de uma condição conhecida por especialistas como cetoacidose diabética. A longo prazo, a falta de insulina rápida pode levar a complicações crônicas, como danos aos nervos, rins, olhos e coração.
RS em alerta
A Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul informou que os 26,4 mil frascos de insulina comprados foram entregues nesta segunda-feira (15). A pasta também recebeu 5.010 unidades do medicamento vindas do Amazonas e que foram remanejadas pelo MS (Ministério da Saúde). Dessa forma, se estima que o atendimento aos pacientes cadastrados esteja garantido pelos próximos 45 dias.
De acordo com Simone Pacheco do Amaral, diretora-adjunta do departamento de assistência farmacêutica, está sendo providenciada uma outra compra pelo Estado para garantir o atendimento em caso dessas situações de desabastecimento do Ministério da Saúde. “Agora nossa meta principal é fazer a distribuição dessa insulina para todas as farmácias de medicamentos especiais do estado”, esclarece.
A insulina análoga de ação rápida é um medicamento especializado, cuja aquisição compete ao Ministério da Saúde, de forma centralizada. O MS informou aos Estados no dia 3 de abril que estava com compra emergencial em andamento para atendimento da demanda brasileira por 180 dias.
A pasta também referiu que a compra estava na fase de qualificação técnica (avaliação dos documentos enviados pelas empresas). No dia 27 de abril, o Ministério da Saúde informou que a partir de consulta de estoque do fármaco em todos os estados, iria remanejar estoques disponíveis para cobertura de outras unidades federativas já desabastecidas.