Em entrevista, Demétrio Rocha explica porque o Bloco Paquera não participará do Lapa Folia 2018

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Um dos blocos carnavalescos mais tradicionais de Bom Jesus da Lapa, o Paquera, após 16 anos de participação no Lapa Folia, toma a decisão “de não botar o bloco na rua” em 2018. O anúncio oficial foi publicado por meio de nota na internet, falando que a diretoria do Paquera tentou de tudo para que isso não acontecesse, e que fazer o impossível traria consequências e convivências, coisas que não estão no padrão de ética e respeito do bloco para com os seus foliões, patrocinadores e parceiros.

Internautas e foliões ficaram sem entender a decisão, especialmente, depois de várias polêmicas envolvendo o bloco nas redes sociais, várias pessoas vincularam a decisão ao anuncio feito pela prefeitura, posteriormente, afirmando que iria acabar com as cordas no circuito e destacando que não iria “patrocinar camarote com recursos públicos no Lapa Folia de 2018”.

O site Notícias da Lapa entrevistou na tarde desta quinta-feira(06) um dos Diretores do Bloco Paquera, Demétrio Rocha, para saber o porquê da não participação no  Lapa Folia 2018, e esclarecer sobre os vários comentários nas redes sociais de Bom Jesus da Lapa.

Notícias da Lapa: O que é o Bloco Paquera para você?

Demétrio Rocha: o  Bloco Paquera passou a ser uma referência de alegria tanto para o município como para a região, e  algumas coisas precisam ser consideradas e avaliadas ao longo desses 17 anos de existência. O Paquera foi responsável pela criação do Lapa Folia, e ao longo desses anos ele passou a ser uma entidade de alegria, uma reunião de alegria da cidade, que se tornou o maior evento particular da região, muito maior que os organizadores.  Diante desses fatores, eu passei a ser refém com o Paquera, considerando a responsabilidade que o bloco tem com a cidade.

Qual a relação do  Bloco Paquera com  o Lapa Folia?

Demétrio Rocha: Em 2001 foi idealizado a proposta do pré-carnaval para Hildebrando de Oliveira Magalhães (Brandinho), o prefeito de Bom Jesus da época, que acatou a ideia, considerando que o carnaval de praça, que era feito na cidade já estava um pouco superado pelo formato que existia nos carnavais de salvador e as micaretas de Feira de Santana e de Vitória da Conquista.  Diante do alto preço das atrações que iam para Salvador, nós resolvemos fazer um pré-carnaval, não uma micareta, e sim um carnaval antecipado com os mesmos moldes que já ocorriam em Aracaju, de 15 a 21 dias antes do carnaval oficial. O prefeito adotou a nossa proposta, e nós fizemos a divulgação. Depois que nós criamos, tudo deu certo, e o gestor chamou outras pessoas que tinham interesse de fazer isso, aí surgiram outros blocos. Nós conseguimos montar os trios, onde inicialmente os circuitos foram criados pela gente, e depois com a ajuda de outros blocos.

Notícias da Lapa: Decisão do Bloco Paquera não Participar do Lapa Folia 2018

Demétrio Rocha: A decisão da direção do Paquera de não participar do Lapa Folia 2018 não foi por acaso, que tentaram de tudo para que isso não acontecesse, considerando a grandiosidade do evento que é esperado por foliões da cidade e de várias partes do Brasil. Nós estávamos preparados para entrar esse ano, tínhamos até uma atração, e já tínhamos anunciado que era Harmonia do Samba, no entanto, nos foi cobrado uma taxa de R$ 100,000, 00 (cem mil reais) na primeira reunião que fizeram com o bloco, isso nos afugentou muito no investimento. Era um pensamento do prefeito, que seria os valores trabalhados com os trios, como compensação para que se liberasse os camarotes. Sendo um entendimento do prefeito, o qual a gente discordava  pelo valor excessivo, e não dava certo.

Notícias da Lapa: Por quê a direção do Paquera desistiu de participar do Lapa Folia mesmo sem as taxas?

Demétrio Rocha: Posteriormente, quando o prefeito tirou essas taxas faltava menos de um mês para o evento, e naquele momento  a gente não estava motivado mais, mesmo assim fomos atrás, no entanto, já não tínhamos mais atrações, e as que tinha não ofereciam mais estruturas. Isso tudo fez com que a gente desistisse, de não realizar um carnaval da mesma qualidade dos outros anos, e nós sentimos que existiam outros fatores externos que não nos dava ambiente para estar dentro do contexto ético, correto que nós pregamos no bloco. Diante disso, a gente não queria mais participar, e não tinha mais clima para isso.

Notícias da Lapa: A questão financeira foi um dos fatores que influenciaram muito na decisão?

Demétrio Rocha: A primeira questão que pesou para a gente não participar esse ano foi dos valores que foram cobrados.  A gente também não achou interessante montar nessa época, considerando que sempre fazíamos as contratações em agosto, como começamos a fazer esse ano. E nós levamos um balde de água fria, pois foi praticamente em novembro que tivemos a primeira reunião, aí a gente ficou meio transtornado.

Notícias da Lapa: A direção do Bloco teve algum prejuízo nos últimos anos que motivassem a não participação no Lapa Folia 2018?

Demétrio Rocha: A direção do Bloco Paquera teve algumas perdas nos últimos 4 anos. Temos que considerar também que a gente teve prejuízo o ano passado. Desde de 2013 e 2017 foram anos muitos ruins para o bloco, foram de muito prejuízos, e esse prejuízo veio no deixar com situação delicada, financeiramente. Então, a gente tem que ter um planejamento. Você fechar a banda em 20 dias, 25 dias, tem que dispor de recursos financeiros para pagar em um tempo curto de evento. Se a gente tivesse fechado em agosto, setembro ou outubro, teríamos tempo para vender os abadas e recursos para poder pagar as bandas.

Notícias da Lapa: A diretoria do Paquera não poderia contratar bandas com custos mais baixos, e não deixar de participar do Lapa Folia 2018?

Demétrio Rocha: A gente tem um padrão de qualidade que sempre foi muito elevado. Considerando que o Paquera é um dos principais blocos da região, que fez escola, tanto é que já batemos o recorde do interior da Bahia, que só bloco de capital consegue. No terceiro e decimo ano tivemos cinco mil foliões na avenida, um recorde que ninguém nunca conseguiu fazer aqui. E se a gente saísse agora, diante da conjuntura, perderíamos o nosso padrão de qualidade.

Notícias da Lapa: O Bloco Paquera recebia patrocínio da prefeitura de Bom Jesus da Lapa para contratar bandas?

Demétrio Rocha: Desde o início nós sempre tivemos apoio da prefeitura. No primeiro ano do mandato do prefeito  Eures Ribeiro não tivemos patrocínio, porque era o primeiro ano de governo dele, no entanto, nos anos seguintes, não podemos deixar de falar que tivemos uma melhora no apoio.

Quais era os valores investidos na contratação das atrações para o Lapa Folia?

Demétrio Rocha: Foi colocado que a gente recebia dinheiro público para investimento no bloco. Só para ficar claro, ano passado por exemplo, nós tivemos um investimento de quase R$ 1 milhão, e as ajuda para o trio elétrico e outra ajudas não chegam a 7% do investimento total, do valor de toda estrutura do bloco. Sendo que Ivete Sangalo vendeu de 500 a 600 abadas na pista. Quando esse modelo surgiu, tirando o camarote, ele promovia uma coisa muito interessante, uma parceria que eu acho significante, pois nós fazíamos o carnaval sem necessidade de quantidade de recursos de dinheiro público e todos participavam. Vamos citar um exemplo, quando você tem hoje um carnaval, onde você gasta para contratar atrações de R$ 300,000, 00 (trezentos mil) a R$ 400,000,00(quatrocentos mil reais) como vai ser parecido com esse ano, que deve chegar com toda a estrutura a uns R$ 400,000,00 a 500,000,00(trezentos a quatrocentos mil reais), podemos comparar com os anos anteriores, onde você chega a uma divisão ou apoio para os blocos todos no carnaval que não chega a um terço disso. Reforçando a comparação, em 2017, só uma atração do Paquera saiu por R$ 350,000,00 (trezentos e cinquenta mil reais). É um modelo onde as pessoas que podem pagar, pagam. Quem quer sair no bloco Paquera paga, só que a pipoca, ela também participa, com muito menos dinheiro público. Então é uma falácia dizer que a gente recebia dinheiro público, isso é um grande erro que está sendo colocado, nós recebíamos um apoio, mais ele nunca foi superior ao valor de 5% ou 10% do que era investido e nunca foi investido nada na área de camarotes, absolutamente nada. Na época de Wesley Safadão era R$ 350,000,00 (trezentos e cinquenta mil reais), no final ficou por 400,000,00(quatrocentos mil reais). Onda que a prefeitura iria contratar uma atração por 400,000,00(quatrocentos mil)? Quem pagou essa atração? Foi o folião do bloco Paquera que estava comprando o abadá, e o povo que não podia comprar, também esteve lá. Outro dado importante, nós contratamos de 120 a 150 cordeiros, só na pista, em torno de 70 segurança no bloco. Imagina, isso são seguranças, protegem os foliões que estão no bloco, e dá também um sentimento de segurança para todos aqueles que estão na folia.

Notícias da Lapa: O comentário na rua que vocês estavam usando o dinheiro público com o Bloco Paquera,  incomoda?

Demétrio Rocha: A questão que mais incomoda é dizer que o bloco usa dinheiro público, pelo contrário, ele nunca usou dinheiro público para apoiar camarote. A pista o ano passado não vendeu 500 abadas, com Ivete Sangalo, mais a pipoca tava cheia, e quem pagou foi o meu bolso, onde eu tive um prejuízo de mais de R$ 120,000,000 (cento e vinte mil reais) pessoais investidos para fazer a alegria para as pessoas, e não foi de dinheiro público nenhum, foi do meu bolso, bem maior que o apoio que eu recebi. Em 2013 a gente teve um prejuízo de 200 mil, e as pessoas não entendem, e a gente pagou sozinho, porque a gente gosta de carnaval.

Notícias da Lapa: Os comentários nas redes sociais, qual o sentimento que fica?

Demétrio Rocha: Esse ponto é o que mais machuca, é o que mais dói. Eu fiz uma nota e publiquei no Facebook. O que mais machuca é a gente fazer tanto e receber isso em troca. Entendo a minha posição pública, e sei que ela gera diversos desgastes. Eu fiquei muito chateado por envolver a CODEVASF nesse processo, o meu Superintendente que eu admiro muito. Porque eu vou trabalhar para todo tipo de Superintendente que estiver aqui, independentemente ,de partido.  Eu tenho a minha formação política partidária, no entanto, trabalho para todos, aqui é do Estado, aqui é do povo brasileiro. Aqui não é do PT, aqui não é do PSDB, não é do PMDB, não é de ninguém isso aqui, isso aqui é do povo. Então vou na rádio com o superintendente, vou na entrega de trator, vou onde for. A gente trabalha de forma muito ética no bloco e “as pessoas usam coisas maldosas” que não pagamos, nós pagamos todos os prejuízos, o que não tivemos de condição de pagar, dividimos.

Notícias da Lapa: Qual o futuro do Bloco Paquera?

Demétrio Rocha: Em 2019 estamos querendo voltar com força total, de forma mais harmoniosa, com uma nova bagagem de aprendizado do que nós vivemos esse ano, sem está junto com forças que sejam ruins para a gente e para a cidade, a gente quer ficar distante disso. Esse momento é importante para a gente oxigenar de novo, rever modelo, rever as críticas e fazer um carnaval mais social. Vamos pensar em projeto que renove o sentido da festa, o que é carnaval, com novo formato. Essa parada foi importante, para a gente melhorar e repensar. Agradeço aos filões pelo apoio, gente de várias partes do Brasil que eu não sabia que fazia parte do nosso bloco. Agradecemos o Site Notícias da Lapa que nos abriu esse espaço, pois não pudemos falar em todos os outros canais, fomos bloqueados e isso nos deixou muito tristes.