por Daniela Kresch | Folhapress
Israel enfrenta uma quarta e severa onda de Covid-19 após a chegada da variante delta, no começo de julho. Um mês e meio depois, o país lida com um aumento significativo no número de infectados, hospitalizações e mortes, mesmo com um dos maiores índices de vacinação do mundo: quase 60% da população -ou 74% dos maiores de 12 anos- estão completamente imunizados.
O percentual talvez tenha aproximado Israel da imunidade coletiva diante do vírus original. Mas certamente não é mais suficiente na era da delta. Assim, há cada vez mais indícios de que os fármacos atuais protegem com menor eficácia cinco meses após a aplicação. E, como o país começou a vacinação em massa no fim de dezembro, boa parte dos vacinados recebeu a segunda dose há mais tempo.
Ao longo de toda a pandemia, 6.748 pessoas já morreram de Covid em Israel, 262 das quais de 1° a 19 de agosto, quando a média semanal alcançou 21 vítimas por dia. A última vez que houve registro de cifra semelhante foi em 2 de março, quando o país saía da terceira onda por meio da vacinação. Desde abril, as mortes diárias nunca haviam passado de três, com alguns dias sem registros de óbitos.
Os índices voltaram a subir após a chegada da variante delta. Na quinta (19), mais de 8.300 pessoas receberam o diagnóstico de coronavírus –maior valor desde 1° de fevereiro. A quantidade de internações também é a maior desde o começo de abril: cerca de 600 pessoas estão hospitalizadas em estado grave, das quais cerca de 90% não se vacinaram ou receberam apenas uma dose do imunizante.
Assim, os israelenses, que pensavam ter se livrado de vez da pandemia após um ano e meio, viram o governo impor outra vez o uso de máscaras em locais fechados e quase todas as restrições relacionadas a aglomerações e distanciamento -incluindo o chamado “passe verde”, que permite somente a vacinados entrar em locais como restaurantes, hotéis, estádios, teatros, cinemas e academias.
E outras medidas, inéditas, estão sendo adotadas. A primeira e mais importante é a aplicação da terceira dose da vacina da Pfizer, a única usada em Israel, em todos os habitantes com mais de 40 anos.
O país foi o primeiro a optar por esse caminho, iniciado em 30 de julho, e até agora mais de 1,2 milhão de pessoas já receberam a dose extra. Também já podem receber o reforço professores e mulheres grávidas imunizadas há mais de cinco meses. Em duas semanas, todos poderão tomar mais uma dose.
“A terceira dose é muito importante! A grande maioria dos mortos não se vacinou como deveria”, disse o premiê Naftali Bennett, 49, ao receber a terceira dose, na sexta (20). “De 105 mortes recentes por coronavírus, 103 foram de pessoas que não completaram as vacinações exigidas. Não há lugar para outra opinião. A ciência e os fatos provam que as vacinas salvam vidas.”
Os resultados já estão sendo observados. O plano de saúde Maccabi divulgou dados na quarta (18) indicando que o reforço tem se mostrado até agora 86% eficaz na prevenção de infecções em idosos –índice elevado, considerada a queda da eficácia das duas doses anteriores para pouco abaixo de 16% nessa faixa.
Segundo o estudo, de 149.144 pessoas que receberam a terceira dose, só 37 contraíram o vírus. Já no grupo de 149.144 que só tomou duas doses, 1.064 se infectaram.
“A vacina provou mais uma vez sua eficácia”, disse Anat Ekka Zohar, que liderou o estudo. “Ela também demonstrou proteção contra a variante delta. A dose tripla é a solução para conter o surto atual.”
O professor Eran Segal, do Instituto Weizmann, também está otimista. Ele observou que o ritmo dos novos infectados e de doentes graves já começou a cair. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 594 pacientes gravemente enfermos estavam internados na sexta, redução de 7 em relação ao dia anterior –caso nada fosse feito, o instituto estima que esse número já deveria estar em 768.
“Os números são bons, mas ainda não posso dizer que estancamos o corona”, alertou Salman Zarka, diretor-geral do Centro Médico Ziv e considerado o czar da Covid em Israel.
Além da terceira dose, as autoridades também adotaram testes rápidos de antígenos em crianças de 3 a 11 anos de idade. Como elas não estão liberadas para receber vacinas e, assim, obter um “passe verde”, só podem entrar nos locais que exigem o documento com um teste negativo.
Uma das maiores preocupações do governo, agora, é com o início do ano letivo, em 1° de setembro. Para mapear as cidades mais problemáticas, o Ministério da Saúde está fazendo testes que checam a presença de anticorpos nas crianças de 3 a 11 anos, além da realização de exames rápidos antes de cada dia escolar. Em alunos com mais de 12 anos -já autorizados a se vacinar-, não haverá verificações diárias, mas uma classe que não tiver 70% dos estudantes imunizados fará aulas remotas.
“Estamos numa corrida contra a pandemia”, disse o ministro da Saúde, Nitzan Horowitz, que tem esbarrado em alguns grupos que titubeiam em receber o imunizante. Se antes da delta negacionistas ou hesitantes não incomodavam tanto, agora são vistos como obstáculo à queda dos números.
No caso da terceira dose, por exemplo, 60% da população acima dos 50 anos já se imunizou. Mas entre os árabe-israelense e os ultraortodoxos, esse índice é de 10% e 25%, respectivamente. Ambos os grupos desconfiam das autoridades médicas e tendem a acreditar mais em notícias falsas e teorias conspiratórias antivacinas, bem como parte dos imigrantes russos e etíopes.
Também hesitam em receber até mesmo a primeira dose jovens de 18 a 30 anos, ignorando o fato de que, mesmo assintomáticos, podem infectar pessoas mais velhas e que não estão imunes a quadros severos da doença. Atrapalham, ainda, os novos esforços para a vacinação em massa os que se dizem antivacinação por ideologia. Mesmo poucos, provocam muito barulho em redes sociais ou nas ruas.
Paralelamente, mais ameaças começam a aparecer, como a nova variante lambda, detectada primeiro no Peru -25 casos já foram detectados em Israel. Por enquanto, porém, Bennett descarta realizar mais um fechamento total da economia: “Um lockdown destruirá o futuro do país”.