Por *Zenilda Martins
O respeito à diversidade cultural: um dos grandes desafios da sociedade brasileira
Não somos apenas um ser biológico; somos também um ser cultural, social e que vive uma dimensão espiritual. Na condição de humanos não é possível a existência de uma dimensão sem as outras, porque somos a unidade no múltiplo e a multiplicidade no uno.
Nessa multiplicidade que somos, precisamos refletir sobre esse Ser de Cultura, uma vez que temos enfrentado no Brasil, assim como em muitas outras partes desse planeta, a manifestação de grupos que lutam para de forma dominadora destruir essa diversidade cultural que caracteriza a espécie humana.
Se compreendemos cultura como todos os padrões de comportamento, as manifestações intelectuais, as crenças, as manifestações artísticas, etc., transmitidos coletivamente em uma sociedade, compreenderemos também que a principal característica da cultura é a diversidade. Isso porque as pessoas que formam uma referida sociedade não têm características e concepções iguais.
A cultura é transmitida de geração a geração e sofre alterações de acordo com a sociedade em que ela está inserida. É comum a assimilações de uma cultura a outra e, há muitos casos em que essa assimilação é enriquecedora. Atualmente o grande problema não está na assimilação de culturas. Temos presenciado algo muito mais complexo que é a não aceitação dessa diversidade cultural e a pretensão de querer sufocar ou extinguir determinadas manifestações culturais porque divergem da visão e ou percepção de um determinado grupo ou classe social.
Assim, respeitar uma manifestação artística, seja artes plásticas, cênicas ou qualquer outra arte, não implica que eu tenha que ir a eventos apreciar essa arte e gostar dela. Respeitar as manifestações das religiões de matrizes africanas ou qualquer outra religião, não exige que me torne um adepto dessa religiosidade. E essa postura de respeito deve ser considerada para qualquer manifestação da diversidade cultural que forma a nossa sociedade.
Respeitar é diferente de tornar-se, render-se, absorver. Desejar que a sociedade em que vivo tenha apenas as manifestações culturais das quais sou adepto é querer matar a multiplicidade natural da espécie humana. O que é impossível e, que somente terá como resultado conflitos que nos empobrecem enquanto humanos.
Ademais, é muita pretensão da parte de quem assim deseja que sua cultura seja única, dominante e correta. Esses adjetivos não se aplicam quando se trata de manifestações culturais.
Dessa forma alguns questionamentos devem nos inquietar: As pessoas não sabem o que é cultura ou elas têm mesmo a pretensão de sufocar a diversidade cultural característica do nosso país? A família e as instituições de educação formal não têm cumprido com o seu papel no que se refere ao educar para o conhecimento e o respeito ao diferente? Por que a intolerância e o desrespeito a algumas manifestações culturais têm crescido tanto em nosso país? Há no Brasil a pretensão de uma determinada classe social de impor uma cultura hegemônica? Tais questionamentos exigem nossas ações: De que lado estamos? Somos adeptos da cultura única, hegemônica? Se somos, estamos a beira do caos.
Se não, precisamos fazer a nossa parte: educar os nossos filhos para o respeito à diversidade; ser exemplo desse respeito; frente a uma atitude de intolerância nos posicionar contra essa postura, ao contrário de pensarmos que é melhor ficar numa situação de neutralidade para não termos conflito com nenhum dos lados envolvidos. Comecemos por melhorar o que está mais perto de nós e poderemos ir longe.
*Zenilda Correia Martins é graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB e Especializada em Formação Socioeconômica do Brasil.