Os atos em solidariedade às vítimas do crime da Vale em Brumadinho e em defesa do Rio São Francisco marcaram diversos municípios da Bahia nesta segunda-feira (25). No dia em que se completou um mês do maior massacre socioambiental do país, mais de 7 mil pessoas em todo o estado saíram às ruas, e a região do oeste baiano, que faz parte da Bacia do São Francisco, foi uma das mais mobilizadas na defesa do Velho Chico.
Carinhanha, próximo à fronteira com Minas Gerais, deu início às mobilizações na Bahia já na sexta-feira (22), quando cerca de 500 pessoas caminharam pelas ruas da cidade. A ação, que teve participação de estudantes, movimentos sociais, entidades religiosas e sindicatos, chamando a atenção, que o município pode ser um dos primeiros a ser afetado pela contaminação do Velho Chico.
Andreia Neiva, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), destacou a necessidade de mobilização da comunidade. “O ato em Carinhanha foi bem importante, porque é um dos primeiros municípios a receber o São Francisco. E como a gente compreende que, se o afluente está contaminado, essas águas contaminadas vão chegar no São Francisco, é importante essa mobilização pra já começar a garantia de encaminhamentos concretos com relação a minimizar os impactos, e construir proposições futuras pra que não mais aconteça isso”, frisou.
Já no dia 25, mais de 800 pessoas se concentraram na rampa do Mercado Central, no município de Barra, em solidariedade às vítimas de Brumadinho e denunciando os crimes da Vale.
E em Bom Jesus da Lapa, cerca de 2500 manifestantes marcharam da Barrinha até a gruta do Bom Jesus também para denunciar o atual modelo de privatização. “Querem privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Vale, a nossa vida vale muito. A vida dos nossos rios vale muito. Nós reafirmamos que somos todos atingidos por esse projeto de morte”, destaca Pretinha Barreto, do MAB.
Uma das preocupações dos movimentos sociais é a iminente contaminação do rio São Francisco por metais pesados oriundos do rompimento da barragem de Córrego do Feijão. Segundo relatório do IGAM, o Velho Chico pode ser contaminado com metais pesados como arsênio, chumbo e mercúrio, o que causa graves danos ao meio ambiente e à saúde da população. “A gente está preocupado que a situação de Brumadinho atinja o nosso rio. E se atingir, vai atingir a nossa pesca, nossa agricultura e a vida de mais de 14 milhões de pessoas que dependem da Bacia do Rio São Francisco, serão centenas de municípios impactados”, afirma Fransivaldo Rodrigues, também do MAB.
Durante as semanas que antecederam o ato, diversos movimentos sociais construíram a Brigada Popular em Defesa do Rio São Francisco, que realizou atividades de mobilização e conscientização das comunidades que dependem do Velho Chico. Com ações permanente em defesa do Velho Chico. “A Brigada Popular teve o objetivo de mobilizar a população de diversos municípios ribeirinhos pra denunciar o crime da Vale em Brumadinho. Essa é uma ação necessária e permanente, pois os atos do dia 25 foi apenas o começo de muitas lutas”, destaca Fabiano Paixão, do Levante Popular da Juventude, que também compõe a Brigada.
“Essa é uma luta prolongada, porque, a exemplo do que a Samarco, empresa da Vale, fez em Mariana, por exemplo, 3 anos depois os direitos dos atingidos ainda não foram reconhecidos”, alerta. Dom Frei Luiz Cappio, da diocese de Barra, manifesta seu agradecimento pela mobilização no município. “A gente agradece mais uma vez a todos vocês por terem motivado a Barra para participar desses grandes movimentos nacionais que visam valorizar a vida. E nós temos aqui o rio São Francisco, que gera vida para o nosso povo. E a nossa luta é pela sua revitalização”. Para isso, os movimentos sociais destacam a necessidade de organização popular. “Nós que somos povo são franciscano teremos que ter muita força, organização e enfrentamento para garantir a proteção do rio e os nossos direitos”, conclui Andreia Neiva
Crime-tragédia de Brumadinho
O modelo de desenvolvimento e mineração predatória que produziram o rompimento da barragem em Mariana (2015) e arruinou o Rio Doce, hoje protagoniza mais uma violação ambiental e dos direitos humanos – também em Minas Gerais, mas com impacto nacional. O rompimento da barragem da Vale liberou 12 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério no Córrego do Feijão e a lama tóxica já atravessou sete quilômetros, atingindo o Rio Paraopeba, um dos afluentes do Rio São Francisco. Existe a preocupação de que, em breve, o material irá contaminar o maior rio do Nordeste.
O rompimento da barragem em Brumadinho já é o maior desastre com vítimas humanas fatais da história da mineração do Brasil – se os desaparecidos forem contabilizados como mortos. Até o momento, são 169 mortes confirmadas e 141 pessoas desaparecidas.
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