Imagens da câmera de segurança de uma casa na cidade de Ibotirama, flagraram o momento em que policiais de uma guarnição da Polícia Militar agrediram pessoas de uma mesma família e invadiram a residência onde elas moram.
O caso aconteceu no dia 5 de julho e foi registrado na Corregedoria da Polícia Militar, em Salvador, e na 28ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) do município. Nesta terça-feira (23), o G1 conversou com Alisson Miranda, uma das vítimas, que contou os momentos que a família passou durante a ação policial.
Alisson, que tem 23 anos e é agente administrativo de um hospital da região, conta que foi abordado por um policial identificado como Gutembergue Marques, na tarde do dia 5 de julho, enquanto estava na própria motocicleta, conversando com uma amiga na frente da casa dela.
“A viatura da Polícia Militar veio com tudo para cima de mim, [os policiais] mandando eu colocar a mão na cabeça. Fiz o que eles pediram. Logo em seguida me chamaram de vagabundo, me dando socos e chutes, inclusive machucaram meu pé”, conta Alisson.
“Eles não pediram, em nenhum momento, minha habilitação, o documento da moto, nada. Simplesmente vieram para me humilhar. Perguntaram onde estava meu carro, como se fosse roubado, como se fosse um carro errado, que não era dentro da lei”
Depois das agressões, o agente administrativo conta que foi para casa e conversou com o pai sobre a situação. Segundo Alisson, não é a primeira vez que Gutembergue tem comportamento agressivo com ele. No entanto, depois que o suspeito entrou na corporação militar, Alisson alega que ele passou a usar da força policial para o ameaçar e coagir .
“Contei ao meu pai o que havia acontecido e aí resolvemos conversar com a família [do policial], porque não é a primeira vez que isso acontece. No passado, ele já teve um problema com a gente, juntou sete meninos para espancar a mim e a meu irmão, quando a gente era criança. Fomos até o Conselho Tutelar na época e o pai dele respondeu pelo caso. Desde então, ele sempre veio com implicância, perseguindo e xingando a gente.
No começo do ano ele se formou para a polícia, tem seis meses de farda. Desde que ele se formou, ele vem jogando indiretas, mas nunca tinha tido a oportunidade como dessa vez, e fez isso comigo.
Alisson e o pai resolveram ir na casa dos pais do Gutembergue, pedir para que eles conversassem com o filho para que parasse com a implicância.
“A gente foi na casa deles pedir por paz, para que ele deixasse a gente em paz. Conversamos com o pai dele, que recebeu a gente bem. Explicamos o que tinha acontecido e falamos que caso isso se repetisse, a gente ia acionar a Corregedoria da PM em Salvador. Aí a mãe dele levantou do sofá e começou a chamar a gente de vagabundo, que ele tinha que fazer isso [agredir] com a gente mesmo”.
Depois de sair da casa dos pais de Gutembergue, Alisson foi para a casa do irmão, que fica na mesma rua em que ele mora. O rapaz aguardava, junto com a família, a chegada do sobrinho recém-nascido.
“Quando chegou a noite, o policial Gutemberg veio com a guarnição e invadiu minha casa. Não tinha ninguém dentro na hora, a gente estava na casa ao lado, mas minha casa tem câmera. Ele invadiu, bagunçou tudo, quebrou minha casa todinha, meus móveis e simplesmente saiu. Minutos depois, os vizinhos foram avisar a gente o que tinha acontecido”.
As imagens registraram o momento em que três policiais agem com truculência e batem no portão. Momentos depois, dá para ver que eles conseguem entrar na residência. Dois militares passam cerca de um minuto e meio dentro da casa e depois saem.
“Quando saímos para ver o que tinha acontecido, ele voltou rapidamente com a pistola na minha cabeça. Eu entrei na minha casa rapidamente e fechei o portão. Aí ele veio empurrando o portão com força, querendo invadir novamente. Me chamando de vagabundo, chamando meu pai de vagabundo também”
As câmeras de segurança também registraram o momento em que um dos policiais agride a mãe de Alisson e aponta uma arma na direção do irmão de Alisson.
“Minha mãe foi passar o cadeado no portão, para que eles não invadissem de novo. Não tinham mandado [judicial] nem nada. Nós não somos pessoas do mal, a gente trabalha, tem moradia fixa, e tudo. Todos trabalham na minha casa. Ele pegou a minha mãe, torceu o braço dela e jogou ela no meio da rua. Muitas pessoas estão revoltadas com isso aqui na nossa cidade. Meu irmão foi tentar defender minha mãe, ele perguntou se meu irmão estava doido, colocou a arma na cabeça dele”.
Foi um momento de terror que a gente passou aqui. Depois ele continuou tentando entrar e não conseguiu, aí ligou para mais policiais. Foi quando chegaram as outras guarnições, de pessoal que conhecia a gente e sabe que a gente é trabalhador.
Junto com os outros policiais que chegaram até a casa da família de Alisson, estava o comandante da guarnição de Gutembergue, que encerrou a situação e orientou que a família de Alisson registrasse a ocorrência do caso.
“O comandante dele perguntou o que tinha acontecido e minha mãe explicou tudo, contou que aqui em casa tinha câmeras, que ele tinha invadido, que agrediu a gente. Aí o comandante disse que ele estava totalmente errado e todos foram embora”.
Ainda conforme Alisson, depois de registrar a ocorrência na Corregedoria da Polícia Militar, em Salvador, um major da PM também pediu que a família fosse na CIPM, para que um inquérito fosse aberto contra Gutembergue. Informações do G1.
Veja o vídeo completo publicado pelo G1: