Aproximadamente 12 mil pessoas, ribeirinhos e pequenos agricultores da cidade de Correntina, e de vários municípios da região oeste da Bahia, fizeram uma manifestação na manhã deste sábado (11), em defesa das águas e dos territórios tradicionais do Cerrado e em apoio aos manifestantes que, no último dia 02 de novembro, em número aproximado de 1000 pessoas, realizaram um ato de protesto contra o abuso das águas em duas fazendas no distrito de Rosário.
A manifestação contou também com a participação políticos da região, deputados federais e estaduais, autoridades religiosas, como o bispo da Diocese de Bom Jesus da Lapa, Dom João Santos Cardoso, e com a presença do Juiz Federal Dr. Leonardo Hernandez Santos Soares da Subseção da Justiça Federal de Bom Jesus da Lapa.
Durante o ato diversas representações fizeram o uso da fala, denunciando os problemas socioambientais do Oeste da Bahia, cuja área está inserida na região do Matopiba, proposta governamental de incentivo à produção agrícola nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, e onde estão os últimos remanescentes de Cerrado no Brasil. Projeto da principal fronteira agrícola brasileira.
O Site Notícias da Lapa entrevistou alguns participantes e a maioria afirmou que o ato realizado em Correntina pode ser um divisor de águas no debate sobre a realidade ambiental da região. “O povo entendeu o que a mídia tentou fazer com a nosso povo, distorcer os fatos sem conhecer a nossa realidade. Aqui não existe lideres e nem terroristas, aqui o povo cansou do descaso. Acredito que esse momento mostrou para os políticos e para a mídia que nós não somos terroristas, mostrou que nossa causa é pela água. Mostramos aqui hoje que eles precisam repensar algumas ações nessa região, que as coisas não podem continuar da forma que está. Por mais que o agronegócio é importante, não podemos justificar a destruição de um rio em nome de alguns empregos e do enriquecimento de um pequeno grupo e só pensando na economia, precisamos pensar na vida das pessoas, em quem precisa desse rio”, disse uma representação de Santa Maria da Vitória.
“Aqui a gente vive um clima de medo, qualquer um que se manifeste contra o agronegócio corre risco, já tivemos muitos pequenos agricultores ameaçados. Não adianta dizer que nunca tentamos dialogo, quantas vezes nossas cercas já foram derrubadas, quantos casos de conflitos envolvendo a água já teve por aqui? O povo sabe, o povo sabe de tudo, sabe como tudo tem mudado para pior na região, vê diversas fontes de água secar. E aí? Quando foi que alguém tentou ouvir a nossas denúncias? quando foi que o Estado abriu o diálogo com nossas representações? Aqui parece que não existe Estado, parece que quem manda são os grandes empreendimentos, e o povo fica perdido, fica pedindo socorro, lutando com a força que tem”, denunciou um agricultor.
A manifestação teve início às 7h30 e foi encerrada por volta do meio dia, depois de percorrer ruas centrais da cidade e margear o Rio das Éguas, conhecido por rio Correntina, que corta a cidade de 33 mil habitantes e é um dos que fazem parte da Bacia do Rio Corrente, os participantes deram um abraço simbólico no rio, abraçando a luta pelas águas.
Segundo participantes, aproximadamente 12 mil pessoas compareceram ao ato, já a Polícia Militar disse que foram 8 mil pessoas.
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A manifestação foi pacífica e não foram registrados conflitos. O evento contou com o acompanhamento de mais de 100 policiais, entre civis e militares.
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