Barra: Comunidade Pedra Negra da Extrema é reconhecida como quilombola pela Fundação Palmares

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Pedra que dá nome a comunidade. O homem ao lado, é o senhor Nezinho, filho do Josué, um dos mais antigos da comunidade.

Fundação Palmares reconheceu a comunidade Pedra Negra da Extrema, no município de Barra, como quilombola, a publicação saiu no dia 17 de agosto. Reivindicação de moradores, agora, é a titulação do território  parte da União.

A comunidade de Pedra Negra da Extrema e fica localizada no extremo sul do município de Barra, e o Rio São Francisco é a fonte principal de sustento, que além do abastecimento da água para as atividades domésticas, ainda oferece sustento por meio da pesca e da fertilização das terras com as enchentes. É também este rio que enche as diversas lagoas espalhadas pelo território, sendo utilizadas para dá água aos animais, pescar e também para o uso doméstico.

O território da comunidade é formado basicamente por planície e pequenas elevações em alguns trechos. A vegetação é característica da caatinga, porém possui um trecho que se alaga durante as cheias do rio, apresentando vegetação própria de áreas alagadas.

A cultura local é típica das comunidades ribeirinhas, que trazem no seu imaginário popular uma série de mitos e lendas ligas às relações da população com o rio e com a natureza de um modo geral. É importante destacar que as lendas mais comuns são as de compadre d’agua, visto que a população é formada por muitos pescadores.

Nas histórias contadas pelos moradores mais antigos o compadre d’água é apresentado como um ser encantado que aparece geralmente para as pessoas que fazem algum mal para a natureza, que gostam de falar chingamentos ou até mesmo desafiam o compadre d’água. Ele costuma fazer maretas (ondas fortes no rio), virar embarcações ou ainda derrubar barrancas no rio, porém, para as pessoas que o agrada, oferecendo fumo, ele traz sorte na pescaria.

O moradores relatam ainda que sua aparência física é de uma pessoa negra com a cabeça redonda, semelhante a de uma pessoa, possui nadadeiras nos pés e nas mãos, semelhantes a de um pato.

Existem ainda muitas outras lendas dos chamados “encantamentos” como gritador, lobisomem e curupira que fazem parte da cultura local, que comumente estabelecem como elementos importantes na relação dos moradores com a natureza e também com as crenças religiosas.

No âmbito das tradições religiosas existem eventos importantes para a vida cultural da comunidade como festa da padroeira Santa Luzia, que ocorre no dia 13 de dezembro. Porém, os preparativos se iniciam muito antes com as visitas nas comunidades vizinhas para “ pedir esmolas” para a festa. Para isso, reúnem-se um grupo de pessoas que passam de casa em casa com a imagem da santa ou com a bandeira da mesma, cantando, rezando e sambando com o samba de caixa, ao final da visita cada morador oferece uma contribuição para a realização dos festejos que inclui as novenas culminando na missa dia 13 de dezembro. Neste mesmo dia ocorre a festa dançante em um dos salões de festa da comunidade.

No que tange às tradições religiosas, por séculos, ocorre a vigília da sexta-feira da paixão na qual a comunidade, sobretudo as pessoas mais velhas, rezam benditos, ladainhas e ofícios até o galo cantar que é o denominado Romper da aleluia. A noite é permeada de paradas para rodas de conversa onde são lembrados os causos antigos e muito café; paralelo a isso alguns jovens, divididos em grupos, vão organizando a preparação para a brincadeira do judas que acontece no amanhecer do dia. A organização consiste em um grupo pegar escondido nas casas das pessoas objetos do uso diário, outro grupo prepara versos sobre fatos e resenhas do dono do objeto ( que é o testamento do Judas) e outro grupo confecciona o boneco do judas que tem tamanho de um ser humano, é feito de forma caricaturada, com restos de roupas velhas, cabeça de cabaça e o enchimento do corpo é feito de tecido. Quando a pessoa for que teve seu objeto “roubado” for buscá-lo, é lido o testamento, e caso queira o mesmo tem o direito de atirar de espingarda contra o boneco, objetivando derrubar da corda que o enforca do alto de um pau.

Outra tradição da comunidade que por décadas vinha acontecendo, é alguns jovens e adolescentes vestido de careta no período de carnaval, os mesmos saiam irreconhecíveis com chicotes correndo atrás das crianças, aterrorizando-as até o dia de domingo de intrude, onde, para comemorar, todos eram surpreendidos jogando água um no outro, de modo bem divertido e festejante.

É tradição religiosa em Pedra Negra, a realização da Novena de Natal nas casas dos moradores culminando em uma celebração na igreja católica local.

Outro evento que já está virando tradição é a festa do missionário católico Neto, que desde o ano de 2000 ele vem fazer missões na comunidade e de 2007 para cá é realizada a comemoração do aniversário de seu aniversário no mês de julho, com toda a comunidade e a presença e animação de um sanfoneiro.

No mês de junho a comunidade costuma realizar uma quadrilha junina na qual as damas e cavalheiro se caracterizam com trajes caipiras e coreografam passos do forró tradicional.

Em relação aos esportes é comum os rapazes da comunidade se reunirem aos finais de semana para treinar futebol num campo da comunidade, normalmente o time costuma ir disputar torneios em outras comunidades bem como receber outros dias em dias de festas.

O reconhecimento pela Fundação Palmares vai permitir o acesso a políticas públicas diferenciadas, e titulação territorial   por parte do governo federal.

Saiba como conseguir a certificação

Como a comunidade deve proceder para a emissão da certidão de autodefinição como remanescente de quilombo:

  1. A comunidade deve possuir uma associação legalmente constituída; e apresentar uma ata de reunião convocada para a autodefinição aprovada pela maioria dos morados, acompanhada de lista de presença devidamente assinada;
  2. Nos locais onde não existe associação, a comunidade deve convocar uma assembleia para deliberar sobre o assunto autodefinição, aprovada pela maioria de seus membros, acompanhada de lista de presença;
  3. Enviar esta documentação a FCP, juntamente com fotos, documentos, estudos, reportagens, que atestem a história do grupo e suas manifestações culturais;
  4. Apresentação de relato sintético da história;
  5. Solicitar ao Presidente da FCP a emissão da certidão de autodefinição.

(Fonte: Conteúdo do Relatório da comunidade de Pedra Negra da Extrema)

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