A policial militar, Tainá Gomes, 28 anos, agredida verbalmente pelo vereador de Salvador e cantor de Igor Kannário (PHS), durante a micareta de Feira de Santana, em 21 de maio, processou o autoproclamado ”Princípe do Gueto” por calúnia. O processo foi distribuído na última segunda-feira (2) na 16ª Vara Criminal de Salvador e segue a rito, segundo o site Bocão News. Se for condenado, Kannário pode perder o mandato e ficar inelegível. Ele faz planos de ser candidato a deputado no próximo ano na base de ACM Neto (DEM).
Relembre o caso:
No depoimento, a policial conta como tudo ocorreu: ”No domingo dia 21/05/2017, percorri cerca de 120 quilômetros para trabalhar na Cidade de Feira de Santana, especificamente na Micareta de Feira, tudo ocorria conforme esperado, sendo utilizado todas a técnicas por mim apreendidas para permitir que a festa ocorresse em paz, dirimindo com a utilização da força necessária as desordens provenientes daqueles descompromissados com a corrente do bem e ordem pública. Em um certo momento, onde me encontrava em patrulha ao lado do trio do cantor e vereador Igor Kanário ocorreu um tumulto, onde foi necessário intervir em uma rixa (um estado e hostilidade entre pessoas), uma desordem da qual foi necessária a utilização da força para proteger aqueles que ali estavam”.
A PFEM ainda disse se sentir humilhada com a situação.”Fiquei barbarizada com discurso dele, pois o que ele disse que falei (que vai ter que provar) não faz parte do meu vocabulário, me sentir humilhada como policial, como Cristã e como Mulher, que venci preconceitos para chegar até onde me encontro. Ingressei na carreira Policial Militar não foi para ocupar um cargo público e sim por idealismo, continuarei servindo com honra e com garbo a população baiana, nós mulheres somos o que nós queremos, temos competência para isto, jamais esquecerei aquela situação vexatória na qual fui violentada moralmente sem direito de defesa e contraditório, mais grave as palavras afrontaram toda corporação”.
Leia a carta na íntegra:
Me chamo Tainá Gomes, tenho 28 anos, estudante de direito e policial militar do Estado da Bahia, mulher e guerreira que jurou garantir a segurança de todos, sem distinção de cor, credo, raça ou procedência social, destaco que mesmo com o custo da própria vida em uma sociedade cada dia mais violenta onde a imprensa noticia quase diuturnamente a morte de policiais militares. Uma escolha que não me trás nenhuma desonra , a pátria amada verá que uma filha sua não foge a luta.
No domingo dia 21/05/2017 , percorri cerca de 120 quilômetros para trabalhar na Cidade de Feira de Santana, especificamente na Micareta de Feira , tudo ocorria conforme esperado, sendo utilizado todas a técnicas por mim apreendidas para permitir que a festa ocorresse em paz, dirimindo com a utilização da força necessária as desordens provenientes daqueles descompromissados com a corrente do bem e ordem pública.
Em um certo momento , onde me encontrava em patrulha ao lado do trio do cantor e vereador Igor Kanário ocorreu um tumulto, onde foi necessário intervir em uma rixa ( um estado e hostilidade entre pessoas ), uma desordem da qual foi necessária a utilização da força para proteger aqueles que ali estavam apenas com animus jocandir ( intenção de brincar ) daqueles que tinham em seu ímpeto o animus Iaedendi ( intenção de ferir ) ,garantindo a volta de muitos pais e mães de famílias aos seus lares.
Neste momento o Vereador , Igor Kanário, de cima de seu trio fez sinal de negação com a cabeça e repreendeu a minha patrulha, momento que me antecipei a ele informando que estávamos fazendo o nosso trabalho e solicitando respeito. Apesar da minha voz sair inaudível por conta do barulho do trio elétrico, o mesmo então iniciou seu discurso, uma verdadeira depredação pública , questionando quem era eu, que era apenas uma soldado da policia militar, que em nada mandava, que nem oficialato possuía, fazendo gestos obscenos e incitando toda a população que o seguia contra mim, que me sentir naquele momento impotente.
Fiquei barbarizada com discurso dele, pois o que ele disse que falei ( que vai ter que provar ) não faz parte do meu vocabulário, me sentir humilhada como policial, como Cristã e como Mulher , que venci preconceitos para chegar até onde me encontro. Ingressei na carreira Policial Militar não foi para ocupar um cargo público e sim por idealismo, continuarei servindo com honra e com garbo a população baiana, nós mulheres somos o que nós queremos, temos competência para isto, jamais esquecerei aquela situação vexatória na qual fui violentada moralmente sem direito de defesa e contraditório, mais grave as palavras afrontaram toda corporação.
Sempre pedi tanto a Deus e todos as vezes que visto essa farda agradeço a Ele pela oportunidade de fazer aquilo que gosto, participei de um certame bastante concorrido, não foi fácil , esperava apenas respeito, saliento que nunca imaginei sofrer tamanho assédio moral em pleno exercício da função (de serviço). Toda vez que for preciso o uso progressivo da força para manter a minha integridade e a ordem pública eu o farei, sou profissional de segurança pública, técnica, fui instruída da melhor forma por aqueles e aquelas que acreditam nesta corrente do bem.
No dia seguinte ao saber do ocorrido vários amigos e colegas entraram em contato comigo para saber o que realmente aconteceu afirmando que não conseguiam me imaginar falando o que ele afirmou que eu disse. Quem acusa tem ônus de provar, minhas atitudes eu respondo, de cabeça erguida e sei bem de minha boa educação. Para completar a assessoria do cantor postou uma nota de “esclarecimento” me imputando mais uma acusação: de fazer gesto obscenos pra ele.
Talvez Vereador, se o Srº tivesse frequentado palestras instrutivas sobre legislação, conduta e ética, que são ministradas para todos o que assumem tal posição, no início de seus mandatos, saberia que não possui imunidade parlamentar , seus ‘‘benefícios’’ se limitam somente ao âmbito interno.
É nesta ordem que escrevo lamentando a postura deste Parlamentar e pedindo providências para que posturas como estas não seja encorajada, peço atenção ao Ministério Público este que tem salvaguardado nossa nação.
As providências serão tomadas e todos aqueles que tentarem intervir na contra mão da lei serão em igual grau expostos.
SOLDADA PM T. GOMES.
A Secretaria de Segurança Pública criticou a conduta do cantor e vai tomar ”providências judiciais”. ”A SSP entende que levantar e instigar uma disputa de poderes em um evento público, inclusive desqualificando a centenária e respeitosa Polícia Militar não são condutas esperadas de um artista e membro do legislativo. Ressalta ainda que o fato está sendo avaliado e que, caso se configure desacato, a SSP tomará as providências judiciais cabíveis”, diz a nota.