Em entrevista publicada neste sábado (1) pelo jornal argentino La Nación, o presidente Jair Bolsonaro fez duras críticas à ex-presidente Cristina Kirchner e disse apoiar a política econômica “saudável” do presidente Mauricio Macri.
“A economia é importante? Sim, e eles [os argentinos] podem contar com o apoio do Brasil no que for necessário para que possamos fazer o melhor para o povo argentino através de uma economia saudável como a que estamos tendo com Macri”, afirmou ao repórter Alberto Almendáriz, em encontro no Palácio do Planalto.
O governo de Mauricio Macri está cada vez mais impopular em função da crise econômica do país, que começou a se agravar em meados de 2018, com a disparada do preço do dólar.
A inflação acumulada é de 15,6% este ano, o índice de pobreza está em 33% e a perspectiva é de encolhimento do PIB. O desemprego atingiu 9,1%, com a taxa de emprego informal beirando os 40% –eram 34% no início da gestão Macri. O país enfrentou nova greve geral esta semana.
Bolsonaro afirmou ao jornal que considera a Argentina um país “irmão” e que espera que os argentinos escolham um governante de centro-direita nas eleições de outubro, como fizeram Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Colômbia.
A reportagem ressalta as recentes críticas de Bolsonaro à ex-mandatária Cristina Kirchner e seu apoio à reeleição do direitista Mauricio Macri nas eleições de outubro, ato que o La Nación considera uma “quebra da tradição diplomática de não opinar sobre assuntos eleitorais de outro país”.
Bolsonaro afirmou ainda que “Argentina e Brasil não podem voltar para a corrupção do passado, uma corrupção desenfreada pela busca do poder”.
Esta foi a primeira entrevista de Bolsonaro para um veículo de imprensa argentino. O presidente visita Buenos Aires a partir de quinta-feira (6), quando se encontrará com seu par argentino.
O La Nación fez questão de ressaltar, logo no primeiro parágrafo da reportagem, que o brasileiro nunca esteve em Buenos Aires, “nem sequer antes de ser mandatário”.
Segundo Bolsonaro, ele e Macri vão tratar de medidas de cooperação bilateral entre os dois países — sem especificar quais–, e de um acordo futuro do Mercosul com a União Europeia que está nos estágios finais e deverá estimular as economias regionais.
Bolsonaro disse ainda esperar que a Argentina “continue defendendo a democracia, a liberdade e o livre comércio” e que o país, junto com o Brasil, não pode “se despreocupar” da questão da Venezuela. Ambas as nações fazem parte do Grupo de Lima, conjunto de 14 países latino-americanos que debatem a crise no regime do ditador Nicolás Maduro.
Respondeu às críticas de que a economia brasileira não vai bem dizendo que a classe executiva está satisfeita com suas atitudes nestes cinco primeiros meses de governo e que mudar a direção econômica para a centro-direita não é como guiar uma canoa, e sim um transatlântico. Também ressaltou o apoio de Trump para que o país seja membro da OCDE.
Com relação às acusações de corrupção contra seu filho Flávio, disse estar desgastado, mas que é ele quem deve responder por suas ações. Acrescentou estar confiante de que “ele não fez nada errado”. Também negou que a saída de Gustavo Bebianno do governo tenha se dado por suspeitas de corrupção, mas não respondeu à pergunta do repórter sobre quais foram as reais razões.
A reportagem aponta que a popularidade do governante brasileiro está em baixa, a economia do país, “em retrocesso”, e que ele encontra obstáculos para aprovar suas reformas no Congresso.