Desmatamento e agronegócio são responsáveis pela falta de chuvas, dizem palestrantes em evento do MP

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Nesta semana do Meio Ambiente a nossa equipe esteve presente no II Seminário de Orientação Funcional promovido pela Corregedoria Geral do Ministério Público da Bahia –MP/BA, em Bom Jesus da Lapa, nos dias 1 e 2 de junho, onde registramos as falas de diversas autoridades na área ambiental.

O Gerente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA de Barreiras, Eduardo Zenildo Soares, mostrou que de acordo os dados oficiais a realidade crítica da região Oeste.

O representante do IBAMA alertou para os vários impactos causados pelo agronegócio, e das escalas de devastação criadas pelos grandes projetos, em especial o MATOPIBA, (sigla que designa a região formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), conhecida como a nova Fronteira Agrícola do Brasil,”.

Durante a sua explanação, o gerente afirmou que hoje essas regiões são as que mais tem sido ocupadas pelo agronegócio, e tem derrubado grande quantidade de áreas nativas para introdução de lavoura, causando grande impactos nos ciclos das chuvas e no processo de absorção das águas da chuva pelo solo, na diferença do processo de evapotranspiração nas áreas impactadas pela lavoura e as sem introdução de lavouras.  “Durante a estiagem aproximadamente 60% da evapotranspiração (perda de água de uma comunidade ou ecossistema para a atmosfera, causada pela evaporação a partir do solo e pela transpiração das plantas) é menor nas áreas de cultivo, ou seja, você tem menos emissão de umidade em natura do que no cerrado, isso vai significar o quê? Quanto menos emissão, de menor a evapotranspiração, maior vai ser a quantidade de ar mais seco, e se você tem mais evapotranspiração o ar vai ser mais úmido”.

Áreas de cultivos do lado das veredas, (FONTE: IBAMA Barreiras)

Segundo Eduardo, essa dinâmica é um dos fatores pela falta de chuva na região, as correntes de ar vindas da Amazônia responsáveis pelas chuvas por aqui, chegam nos chapadões no entanto voltam, batem na massa de ar seco, com isso vai retardando os períodos chuvosos. “Maior agricultura, você tem menos cerrado, menor volume de chuva, tá chovendo menos uma das explicações é essa aí”.

O pesquisador baiano,  o antropólogo Altair Sales Barbosa, profundo conhecedor da região, aponta que restam apenas de 2% a 5% de áreas nativas dessa vegetação e que a devastação se alastrou pelo cerrado baiano, localizado no oeste do estado. “O que aconteceu ali é algo nunca visto na história da humanidade.  Não existe mais nada de intacto lá. Só lavoura de um lado e do outro”. E chama a atenção para o desastre que significa o projeto do Matopiba, que reúne os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, grande produtora de soja, milho e algodão.  Altair explica que, uma vez desmatado, o cerrado não se recupera “jamais”, por conta de suas características evolutivas. Com a perda da vegetação – que têm um sistema de raízes que funciona como uma “esponja”, sugando a água da chuva para o solo – há um impacto direto na alimentação das nascentes dos rios, que se espalham pela região. A previsão de Altair é que com menos água vários rios irão desaparecer de “maneira irreversível”, incluindo o São Francisco. “Se continuar da forma como está, é só uma questão de pouco tempo”.  Para quem pensa que o problema está distante, nas profundezas do Brasil, vale lembrar das cada vez mais constantes crises de abastecimento de água nas grandes metrópoles, situação que, para o pesquisador, será “eternamente crescente”. “Vamos ficar o tempo todo pedindo chuva para abastecer represas”.