Lapa: Ilha da Mariquinha, há 4 km da sede, famílias vivem sem assistência do Poder Público

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A Ilha da Mariquinha é uma comunidade ribeirinha, às margens Rio São Francisco, localizada há apenas 4 km da sede de Bom Jesus da Lapa, e tem como principal fonte de renda a pesca e a plantação de hortas. Embora esteja tão perto da cidade, o poder público tem se mostrado ausente há anos. Muitos moradores tiveram que se mudar para a cidade diante das dificuldades.

“Tem muito tempo que a prefeitura não passa pelo menos uma máquina aqui, só promete que vai resolver”.

“São mais de 100 famílias, nossa associação era maior, hoje temos uma base de 70 nomes para serem cadastrados, estamos recomeçando, fazendo o povo acreditar de novo. A associação ficou muitos anos sem funcionar, o povo deixou de acreditar, pois, não conseguia nada com a prefeitura, aí o povo deixou de acreditar em alguma coisa”. Afirmou um dos moradores.

Igreja da comunidade, segundo os moradores a ultima festa que teve foi a missa do Vaqueiro. “Acabou a alegria da comunidade o povo foi embora, e aqui ficou um vazio.

Diante da fala dos moradores, constatamos uma situação de abandono, pois a comunidade não tem nem um tipo de assistência do Poder Municipal, Estadual ou Federal. “Olha, aqui é difícil, não tem água potável, vem só um carro pipa do município de vez em quando. A gente tem que ficar pedindo; e demora viu. Não temos energia, não temos nenhum tipo de assistência de saúde, nem agentes de saúde temos, como o senhor (jornalista) está andando ai e vendo, as estradas estão abandonadas, poeira e buraco, passaram um patrol aqui nelas na época do antigo prefeito. Olha onde a rede elétrica está, tão pertinho”, desabafou uma das representações.

Foi feito um único poço artesiano na comunidade, mas nunca funcionou. “Tem vários anos que abriram esse poço aqui, não serviu de nada, está aí abandonado, não tem energia. Enquanto isso o povo fica com sede, e ninguém vem aqui olhar a nossa realidade”.

Muitos moradores tombaram a terra, no entanto, diante das condições mínimas para produzir, deixaram tudo e foram embora para cidade. Teve moradores que se revoltaram, venderam a terra, outros largaram.

Diante da situação um morador se revoltou e arrancou a caixa que era para armazenar água, e abandonou.

“Moço aqui você ainda não viu nada, a situação é difícil, estamos esquecidos, não existe um benefício aqui do Estado, estamos abandonados”, afirmou.

“O povo tem vontade de trabalhar, no entanto falta a condição para irrigar as plantações. A escola tem mais de 8 anos que fechou, os alunos estudam na rua, o carro vai pegar na comunidade. “E tem lugar que se o senhor seguir, vai ouvir dos pais, o ônibus não vai, o povo precisa trazer alguns meninos de carroça até o local, o ponto do ônibus. Quando chove  ninguém roda, é muito difícil”, lamentou.

“Aqui era onde funcionava a escola, tinha muitos alunos, só que o tempo foi passando, as coisas foram ficando difíceis, os benefícios não chegaram, e o povo foi indo embora.

Um dos moradores mostrou a antiga escola da comunidade, e afirmou que  tinha muitos alunos, no entanto, diante das dificuldades o povo foi embora. A “maioria dos alunos foram sumindo tudo, sem condição de ficar nas  terras com os pais, sem água, sem nada, só promessas das coisas ficarem boas. O povo vai abandonando os terrenos. Como é que sobrevive num lugar desse aqui? Só quem tem alguma coisinha pra segurar”, indagou um morador.

Visão do morro do Bom Jesus há poucos quilômetros da comunidade, mesmo perto, parece distante diante da situação vivenciada pelos moradores.

“Aqui era nosso campo, acabou, não tem mais juventude na comunidade, ninguém quer ficar nesse lugar, sem as mínimas condições, a gente vê o morro daqui, pertinho, e ao mesmo tempo parece distante. Os jovens buscam outras coisas e deixam seu lugar, ou com a família ou vai sozinho”.

“Tem muitas casas aqui desse jeito, o povo começa e larga, outros terminaram e largaram”.

Segundo alguns moradores muita gente começou a construir casas e deixou as paredes na metade, devido à falta de condições, outros fizeram casas e abandonaram.“Olha, aqui com 10 mil você abre o poço, pelo menos para quem quer trabalhar; a água aqui é rasa, só que ninguém abre”.

Mesmo com as dificuldades muitos moradores conseguem produzir hortaliças que abastecem vários mercados em Bom Jesus da Lapa e a feira do município. Criando improvisos, por não ter outro jeito.

Para poder molhar as hortaliça foi um dos moradores abriu um buraco no chão fez uma parede em volta. “Uso um motor para puxar essa água, só que fica muito caro o óleo e a encanação estraga logo.

Os moradores da ilha da Mariquinha relatam que muitas hortaliças ficam perdidas, em função da quantidade de ferro existente na água, queima as folhas, causando prejuízos.

Trabalhador mostra a plantação com grande parte queimada em função da água. “Aqui a gente busca de todos os jeitos, tem horas que a gente consegue uma água, depois que molha pega e lava a folhas, mesmo assim é difícil, é tanto trabalho. Todos aqui vivem disso, sem assistência ou orientação”.

“Olha, moramos aqui nas margens do São Francisco, pertinho do morro do Bom Jesus, muita gente pensa que está perto do rio é sinal de riqueza, num sei se é, para mim não é. Tanta água aí, mais como é que trabalha, como é que produz se não temos meios. A principal forma que a gente pensa seria a energia elétrica, ia ajudar de mais. A gente não da conta de manter um motor. Estamos esperando a energia chegar, o vereador Romeu (Thessing) está buscando revolver”, frisou um morador.

Aqui tem o nome de ilha, mais não é ilha, falaram que foi uma senhora que colocou esse nome.

Parece que essa realidade é desconhecida, ou ignorada, ainda mais por esta comunidade estar tão próxima da cidade e do Santuário do Bom Jesus, mas ao mesmo tempo, parecer estar tão distante.

Distância é uma palavra que descreve bem a Ilha de Canabrava: distância das políticas públicas, distância dos direitos, distância da cidadania, num ambiente onde moram pessoas, gente simples, que planta, cria pequenos animais, pesca e principalmente, paga seus impostos como todo cidadão brasileiro.

Ainda que as condições sejam precárias, os ribeirinhos agora estão “plantando” as sementes da esperança e esperam colher melhorias nas condições de vida na forma de direitos e igualdade.