A TardeO número de brasileiros que foram vítimas de discriminação por causa de sua classe social cresceu, segundo uma pesquisa do Datafolha, divulgada pela Folha de S. Paulo. Atualmente 30% dos entrevistados afirmam ter sofrido preconceito de classe, mas em 2008, no último levantamento feito pelo instituto sobre o tema, a porcentagem era de 23%. Em 2007 o número era ainda menor: apenas 21% dos brasileiros se sentiram discriminados devido à condição financeira. Esse tipo de preconceito é menos comum no Nordeste, declarado por apenas 25% dos entrevistados. A região Sudeste é onde a discriminação social é mais sentida (35%), seguidas pelo Centro-Oeste e Norte (29%) e Sul (27%).
Segundo a psicóloga Patrícia Estrela, sofrer preconceito pode afetar o psicológico de diversas formas. “Qualquer tipo de trauma, constrangimento ou humilhação pode acarretar sentimentos de injustiça, insegurança, medo e tristeza. E esses sentimentos vão de certa forma moldar os comportamentos desde individuo”, salienta.
O estudo também considerou outras razões pelas quais os brasileiros se sentem discriminados. Em segundo lugar no ranking, “local onde mora” foi apontado por 28% dos entrevistados como motivo de discriminação. Em seguida vêm religião (26%), sexo (24%), cor ou raça (22%) e orientação sexual (9%).
Ainda segundo o levantamento do Datafolha, entre os entrevistados que se declararam homossexuais, 55% disseram ter sido vítimas de preconceito por causa da orientação sexual; e uma a cada três mulheres que responderam a pesquisa disseram ter sofrido preconceito de gênero.
Racismo
Entre os que sofreram preconceito por raça, a maioria se autodeclara preta (55%), 30% são indígenas, 18% pardos e 11% brancos. “Pela lei, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível, com a pena prevista de reclusão de um a três anos e multa. Pode ser agravado no caso de ser cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza”, explica Elisabete da Silva Montesano, Presidente da Comissão da Igualdade Racial OAB de São Caetano do Sul.
Quando se trata de racismo, não são apenas palavras ou imagens que configuram a discriminação. O preconceito também pode acontecer por meio de outros atos como impedir o acesso a estabelecimentos, recusar atendimento, impedir o uso de transporte público ou negar o ingresso de um aluno em um estabelecimento de ensino público ou privado.
O jornalista Denis Nunes foi vítima de preconceito. Ele foi impedido de alugar um carro por ser negro e, como consequência, deixou de viajar. Desde o começo do atendimento, os funcionários do local cismaram com o rapaz, tentando invalidar o aluguel das mais diversas formas. “Imaginei ser um procedimento padrão, já que nunca tinha alugado um carro lá, mas depois contatei a assessoria de imprensa e eles me informaram que isso era feito quando os atendentes desconfiavam de alguém”, relata.
Apesar de ser a ocasião em que Denis se sentiu mais ofendido até hoje, ele conta que existem situações cotidianas na qual ele é vítima de preconceito racial com bastante frequência. “Isso das pessoas se ‘confundirem’ é a coisa do estereótipo, né? Na loja é o negro que tem que trabalhar, é comum. Negro no aeroporto é ajudante, não passageiro. É esse lance que passa despercebido”, comenta.
Situações semelhantes também acontecem com a psicóloga Ellen Moraes Senra. “Já acharam que eu recepcionista do local ao invés de psicóloga, além de ter enfrentado certos comentários da família do meu marido no início do namoro. Eles têm descendência espanhola e ficam testando meu conhecimento algumas vezes”, conta. De acordo com a especialista, ser vítima de preconceito pode minar a autoestima do indivíduo fazendo com que ele acredite estar em um local ao qual não pertence. “Além de poder desencadear muitas inseguranças e até mesmo levar o indivíduo a um processo depressivo”, complementa Senra.
A denúncia de racismo pode ser feita em delegacias comuns e naquelas especializadas em crimes raciais e delitos de intolerância. A queixa também pode ser realizada pelo disque-denúncia próprio de cada cidade ou estado. Quem sofreu racismo pela Internet ou redes sociais, pode fazer a denúncia pelo site do Ministério Público Federal.