O mercado financeiro começou a quinta-feira (21) reagindo à ameaça de fim do teto de gastos e ao consequente avanço do risco de se investir no Brasil.
Pouco depois das 11h, o Ibovespa operava em queda de 1,87%, aos 108.717 pontos. Já o dólar spot subia 0,70%, cotado a R$ 5,6371, após chegar aos R$ 5,6753 mais cedo.
Antes da abertura, os juros futuros também disparavam, enquanto taxas de contratos de DI saltavam 60 pontos-base, conforme o mercado colocava nos preços o pavor de que o governo fure o teto de gastos e abra caminho para descontrole fiscal.
Na véspera, o ministro da Cidadania, João Roma, confirmou o Auxílio Brasil de R$ 400 para 17 milhões de famílias. Ninguém questiona a necessidade de oferecer ajuda às famílias vulneráveis nesse momento. O grande problema é que nem Roma, nem Paulo Guedes, ministro da Economia, explicaram de onde virá o dinheiro.
Ao tentar explicar, Guedes disse que pensa em duas alternativas: a primeira é um “puxadinho” de R$ 30 bilhões no teto, regra constitucional que limita os gastos públicos à inflação do ano anterior. A lei foi criada em 2016, num momento em que os gastos do governo federal ficavam 6% acima do índice oficial de preços.
A segunda é uma sincronização dos índices de inflação que corrige o limite do teto e as despesas do governo, que abriria espaço de R$ 45 bilhões. Mas o ministro não detalhou como isso seria possível.
Economistas relataram que ninguém está entendendo esse número.
Seja mudando a correção do teto, seja fazendo um puxadinho, economistas interpretam que o governo está abandonando o teto de gastos e estamos num ponto de inflexão na política econômica.
A âncora fiscal do País está deixando de existir, o que abre a porta para a escalada de gastos, o que afeta a percepção de risco, inflação, juros e dívidas.
Uma segunda leitura é que isso acontece para abrir espaço não para um programa social, mas para emendas parlamentares, num sinal de populismo.
Por fim, o relator da reforma do Imposto de Renda avalia corrigir em 41% todas as faixas da tabela do IR. Com reajuste maior, a margem para arrecadação diminui. Lembrando que o governo contava com a reforma para ter fonte de renda para o IR, mas apesar da pressão, o relator reforçou que não vai apressar o assunto.