A chegada da proposta da reforma da Previdência ao Congresso já revela quem serão os principais atores nas negociações para aprovação do texto enviado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Na ausência de um líder do governo experiente e com trânsito nas bancadas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), será o grande articulador político da reforma. Como árbitro, é ele quem vai ditar o ritmo do jogo, aumentando o seu poder de barganha com o governo, que ficou mais dependente dele até nas negociações paralelas que já começaram a ser feitas com os governadores.
O primeiro efeito do protagonismo de Maia é a decisão de fazer a reforma passar pelas comissões novamente, prolongando o tempo de tramitação. Mais do que uma maneira de driblar um possível risco jurídico por estar aproveitando a reforma do ex-presidente Michel Temer (como desejava a equipe econômica), ele garantiu palco a seus apoiadores para que aparecessem aos eleitores em cadeia nacional. Esse foi o acordo de Maia para se reeleger à presidência da Casa, inclusive com o apoio da oposição.
Se o presidente foi obrigado a rever a sua posição histórica contrária à reforma e admitiu que errou, agora terá de convencer os seus seguidores que lhe garantiram a vitória nas eleições a pressionarem com o mesmo engajamento os deputados a votarem a favor da proposta. Partido de Bolsonaro, o PSL começa dividido e deve jogar contra os interesses da equipe econômica, principalmente na parte da reforma que trata das regras dos policiais.
Fiador da reforma, o ministro da Economia, Paulo Guedes, terá, pelo menos no primeiro momento, de deixar em banho-maria algumas propostas centrais da sua política econômica, como a redução dos subsídios e algumas privatizações e fusões, para evitar conflitos com as bancadas num momento muito sensível de negociação. Alterações mais radicais nas regras trabalhistas, como a criação da carteira verde e amarela, também ficarão de lado.
O ministro foi aconselhado a concentrar esforços na reforma e a apaziguar os ânimos com quem teve os interesses contrariados por essas outras medidas. Depois da formação do ministério com o discurso de que não haverá “toma lá, dá cá”, o governo começou a rever a estratégia para buscar apoio.
Emendas
Cargos e velocidade de liberação de emendas já estão na mira dos parlamentares. Segundo interlocutores, essas são moedas de troca não só para contemplar a base aliada, mas também para neutralizar as vozes contrários no “palanque” da comissão especial.
O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, a quem oficialmente cabe a função de articulador político, até agora não tomou as rédeas do posto, que na prática vai sendo ocupado pelo secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho. Ex-deputado, Marinho é visto como uma figura carismática e habilidosa para conduzir os detalhes dos pontos de maior rejeição pelos deputados, que acabarão sendo negociados. A tarefa principal será reduzir a desidratação já esperada da proposta.
Num Congresso de perfil mais conservador, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) desponta com uma força de atração dos jovens e como cabo eleitoral atrás de votos pela reforma. Ele já tem gravado vídeos explicativos sobre a proposta e briga por um posto de destaque na comissão.
Na oposição, o deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE), ex-coordenador econômico da campanha de Ciro Gomes à Presidência, é ouvido pela área técnica e cotado para presidir a comissão especial. Benevides pode atrair votos do partido dele e outros de oposição, mas não gostou da proposta de capitalização desenhada pela equipe de Guedes.
Candidato a relator da reforma, o ex-líder do governo Temer Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), é visto como um bom negociador, mas que precisa ser acompanhado de perto pelo governo para evitar negociações independentes sem que os técnicos tenham colocado o custo na ponta do lápis. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.