No Pantanal, fogo reaparece com força em rodovia turística de Mato Grosso

0
GrupoSCosta-350x250px

por Fabiano Maisonnave e Lalo de Almeida | Folhapress

Um dos símbolos do incêndio recorde que devastou o Pantanal no ano passado, a rodovia turística Transpantaneira voltou a registrar fogo e fumaça nos últimos dias. A situação preocupa porque setembro é historicamente o mês com mais focos de queimadas na maior planície alagável do planeta.

Desde o sábado (28) até quarta-feira (1º), o fogo destruiu 7.000 hectares, segundo análise do Instituto Centro de Vida (ICV), com base em dados do Global Fire Emission Database, da Nasa, a agência espacial norte-americana.

Com 147 km de extensão, a estrada-parque conecta Poconé (MT) ao povoado de Porto Jofre, de onde saem passeios para observação de onças-pintadas e barcos de pesca esportiva. Nesse trajeto, todo de terra, é fácil avistar a fauna pantaneira. Agora, além dos animais, muitos deles buscando a água cada vez mais escassa, há brigadistas, homens do Corpo de Bombeiros e aviões agrícolas tentando combater as chamas.

A maior presença de combatentes é uma das diferenças positivas em comparação a 2020. Por outro lado, as condições para que o fogo se alastre estão piores: o Pantanal acumula três anos de seca, esvaziando baías e corixos, como são chamados os canais que ligam os rios à planície inundável.

Um dos ícones da estrada, a lagoa de jacarés está com ainda menos água do que no ano passado, aumentando a concentração dos répteis em suas margens (nesta semana, houve registro ainda de jacarés que se refugiaram em uma piscina para fugir do fogo e da seca). Fica difícil imaginar que tenha sobrado algum peixe ali.

Para piorar, uma forte geada registrada no início de julho secou ainda mais a vegetação em quase toda a região.

“Embora os indicadores climatológicos apresentem anomalias no período e estejam mais desfavoráveis neste ano, os investimentos de mais de R$ 43 milhões nas ações de prevenção, preparação, resposta e responsabilização possibilitaram uma melhor estrutura para o enfrentamento dos incêndios”, afirma o coronel Agnaldo Pereira, diretor operacional do Corpo de Bombeiros Militar no estado.

“No Pantanal mato-grossense, houve 92% de redução de focos de calor até 1º de setembro, comparativamente com o mesmo período de 2020”, completa. Segundo o Programa Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a região registrou 475 focos de incêndio nos primeiros oito meses deste ano, contra 5.554 focos no mesmo período do ano passado.

Pereira avalia que, na Transpantaneira, são “apenas dois pontos que requerem maior atenção de resposta”. “Estamos com uma força-tarefa integrando recursos de pessoal no combate aéreo e terrestre com bombeiros militares, brigadistas do ICMBio, do Sesc Pantanal, da [ONG] SOS Pantanal, além do apoio e articulação junto ao sindicato de produtores rurais.”

Uma das medidas tomadas após o desastre de 2020 foi a criação de um pelotão do Corpo de Bombeiros em Poconé, cidade pantaneira a 105 km a sudoeste de Cuiabá.

“No ano passado, houve uma ação muito desorganizada, tanto por parte do governo do estado quanto das ONGs”, afirma o presidente do do Sindicato Rural de Poconé, o pecuarista e sojicultor Raul Santos Costa Neto. Sua família está no Pantanal há quatro gerações.

Entre as melhorias para este ano, Costa Neto destaca o treinamento de brigadistas pelos bombeiros, a instalação da unidade na cidade e o zoneamento do município para saber quem é acionado contra determinado foco de incêndio. Ele diz acreditar que, apesar de a seca no Pantanal estar pior do que no ano passado, a tragédia não vai se repetir. “O estado [de Mato Grosso] e nós estamos muito melhor preparados.”

De acordo com o ICV, o período de janeiro a agosto deste ano acumula 89 mil hectares queimados no Pantanal de Mato Grosso, contra 940 mil hectares no mesmo período de 2020. A situação está mais crítica em Mato Grosso do Sul, onde o bioma já perdeu 458,5 mil hectares para o fogo neste ano, também de acordo com a análise do ICV.

Em todo Mato Grosso (não apenas na parte do Pantanal), a área consumida pelo fogo é de 2,14 milhões de hectares nos primeiros oito meses deste ano, 22% a menos do que no mesmo período de 2020.