Via Itatiaia
A inconstância de vazões, com o rio seco e cheio em períodos curtos, tem sido uma rotina na região do São Francisco —como é chamada a parte final do rio, entre Alagoas e Sergipe. A ‘seca’ afeta moradores e peixes. É isso que mostra a reportagem publicada, neste domingo (21), pelo colunista Carlos Madeiro da UOL.
A vazão do rio no local é controlada pela Hidrelétrica de Xingó, da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), que regula as comportas para saída da água, atendendo à demanda do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
No domingo (14), a vazão média diária de Xingó caiu de 2.248 m³/s, no dia 12; para 1.087 m³/s,.
Além de baixa, a vazão média operada naquele dia não é constante. No mesmo dia, sofreu diversas variações e chegou a 677 m³/s às 14h. Porém, às 21h do dia anterior, foi quase três vezes maior: 1.621 m³/s.
A vazão fica em muitos momentos abaixo do que determina a resolução 2.081/2017, da ANA (Agência Nacional das Águas), de 1.100m³/s.
Segundo apurou a reportagem nos dados da ANA, em ao menos 25 dias a cota não atingiu esse limite mínimo, chegando a 797 m³/s em 9 de janeiro.
Consequências
Especialistas afirmam que variações intensas assim prejudicam fauna e flora, além de afetar atividades econômicas —como a pesca e a navegação.
A reportagem recebeu fotos e vídeos de peixes mortos e de marcas que indicam reduções bruscas da vazão dos rios, que criam pequenos lagos em regiões que antes eram rio.
Um grupo de pesquisadores e pessoas afetadas escreveu uma carta aberta endereçada ao MPF (Ministério Público Federal) para que sejam tomadas providências para frear as mudanças de vazão.
A situação tem sido acompanhada com preocupação pelo CBHSF (Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco), que vai cobrar do ONS o fim das mudanças bruscas.
O que diz a ONS
Em nota enviada à portagem do UOL, o ONS diz que “é sensível às necessidades da população” e que “segue todos os requisitos legais relacionados aos usos múltiplos das águas e ambientais vigentes”, estabelecidos em regulamentações.
“Para esta usina, com o objetivo de reduzir oscilações de aumento do fluxo de água, visando minimizar impacto nas margens do rio, são consideradas taxas máximas de variação diária e horária”, diz, sem citar valores.
Ainda segundo o operador, “diante deste cenário, o ONS costuma calibrar o uso dos recursos energéticos existentes de maneira a manter o equilíbrio do Sistema Interligado Nacional (SIN) e usar de forma otimizada a energia gerada”.
O ONS ainda diz que a prática não é adotada “apenas neste empreendimento, mas é um cuidado que é tomado independentemente da fonte usada”.
Já a ANA se limitou a dizer que as variações de vazão estão de acordo com a resolução da agência e não fez qualquer menção às mudanças abruptas de valores.
A Chesf não respondeu aos questionamentos feitos pela coluna.