Por Folhapress
O risco de evasão escolar no Brasil vem crescendo ao longo do confinamento por causa da pandemia de Covid-19. Em maio, eram 31% os pais que temiam que os filhos abandonassem a escola; em julho, o número subiu para 38%.
Os dados fazem parte de uma pesquisa do instituto Datafolha que vem acompanhando os reflexos da pandemia dentre estudantes da rede pública brasileira. Resultado de uma parceria entre a Fundação Lemann, o Itaú Social e a Imaginable Futures, o levantamento é encaminhado mensalmente aos governos estaduais, com sugestões de iniciativas que possam minimizar o impacto do fechamento das escolas no país.
Essa é a terceira fase da pesquisa “Educação não Presencial na Perspectiva dos Estudantes e suas Famílias”, de abrangência nacional -a primeira fase foi em maio e a segunda, em junho.
O Datafolha realizou, entre 7 e 15 de julho, 1.056 entrevistas, por telefone, com responsáveis por 1.556 estudantes de 6 a 18 anos de escolas municipais e estaduais do país, com uma amostra baseada no Censo de Educação 2019. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, e os resultados têm confiabilidade de 95%.
Após a criação de sistemas de ensino a distância com relativo sucesso – mais de 80% dos estudantes já receberam atividades remotas -, o desafio agora é resgatar o interesse na escola, que vem caindo.
Diante das dificuldades das aulas online e do esgotamento com o confinamento prolongado, aumenta a percepção dos pais de que os filhos não estão evoluindo no aprendizado. Em maio, essa era a visão de 46% dos pais; em julho, 50%. Nos anos finais do ensino fundamental, o índice saltou de 48% para 56%. Entre os que perderam o interesse pelas atividades, chega a 73% os que consideram não estar evoluindo.
Além dos que já estão em risco de evasão, há um grupo que não está motivado nem evoluindo mas segue resiliente (26%). “Eles estão aguentando, mas não sabemos até quando vão aguentar”, diz Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann.
Um dado que chama a atenção de Mizne é que 90% dizem sentir saudades dos professores. Para ele, o resgate dos alunos deve vir daí.
“Nos sistemas a distância, há muitos alunos sem contato direto com os professores. Mais do que pensar nas aulas remotas, precisamos agora investir em salas de aulas virtuais, aproximar o aluno dos colegas e do professor. É impressionante a diferença que faz um único telefonema semanal do professor para o estudante.”
Além do confinamento prolongado, pesa agora o vaivém de previsões para as datas de reabertura das escolas. “A escola tem uma enorme importância para o afeto e a sociabilização. Essa mudança constante de previsões para a reabertura gera mais ansiedade e frustração nas crianças e adolescentes”, diz o pediatra Fausto Carvalho, chefe do departamento de saúde escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo.