A falta de saneamento básico gerou mais de 270 mil internações no Brasil em 2019, segundo estudo do Instituto Trata Brasil divulgado nesta terça-feira (05). O número representa um aumento de 12% em relação ao ano anterior, que teve pouco mais de 240 mil internações. É a primeira vez em dez anos que uma alta ocorre.
Em 2020, porém, em um ano marcado pela pandemia do novo coronavírus, dados ainda preliminares voltam a apontar uma queda: 174 mil internações. As internações em 2019 geraram um gasto de R$ 108 milhões para o País. Também resultaram em mais de 2,7 mil mortes – o que significa que, em média, sete pessoas morreram por dia no Brasil em 2019 por causa da falta de acesso a água tratada e esgoto.
Em 2020, houve ao menos 1,9 mil mortes. Ainda assim, uma média de cinco pessoas mortas por dia no Brasil. As hospitalizações pela falta de saneamento são causadas por doenças de veiculação hídrica, que, como o nome já indica, são doenças em que a água é um importante veículo de transmissão, como diarreias, malária, dengue, leptospirose, entre outras.
“As doenças mais ligadas à falta de saneamento básico provêm muitas vezes da ingestão da água imprópria, que não é potável, ou com contato com esgoto”, explica o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. “São doenças muito antigas, que existem há décadas no Brasil e que ainda continuam vivas, mesmo depois de tanto tempo e mesmo já tendo remédios consagrados.”
“Em pleno século 21, num País que está entre as 15 maiores economias do mundo, a gente ainda morrer por diarreia, por febre tifoide, por cólera, por esquistossomose é gravíssimo. O Brasil não deveria mais ter esse tipo de mortalidade por doenças tão antigas”, diz Édison Carlos.
O estudo foi feito a partir de dados públicos do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) e do DataSus, portal do Ministério da Saúde que acompanha os registros de internações, óbitos e ocorrências relacionadas à saúde da população brasileira.
Brasil desigual: dados por região
O estudo destaca que as internações causadas pela falta de saneamento se distribuem pelo País refletindo as condições sanitárias de cada região. A falta de saneamento é mais evidente no Norte, onde somente 12% da população conta com coleta de esgoto.
O Norte teve 42 mil internações em 2019, número mais baixo que as hospitalizações do Nordeste (113,8 mil) e do Sudeste (61,8 mil), mas que representa uma incidência mais alta, já que a população no Norte é muito menor que nessas outras regiões. A taxa de internação no Norte foi de 23 casos por 10 mil habitantes, muito acima da média nacional, de 13, e das outras regiões.
O Sul e o Centro-Oeste tiveram números de internações parecidos, próximos dos 28 mil, mas com taxas distintas: 17 por 10 mil pessoas no Centro-Oeste e 9 no Sul. Já o Sudeste tem os melhores indicadores de incidência (7 casos a cada 10 mil), o que reflete os 79% da população com coleta de esgoto. É importante notar que o Sudeste apresenta números de internação maiores que o Norte (61 mil), mas possui sete vezes mais habitantes, o que faz sua taxa ficar mais baixa.