No Pará, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que sua família “é atacada o tempo todo” e que a reeleição “é natural”.
Bolsonaro, que deixou o evento sem falar com jornalistas, participou da inauguração na sexta-feira (14) da pavimentação de um trecho de 51 quilômetros da BR-163, entre Mato Grosso e os portos de Miritituba, no Pará.
A obra, iniciada no governo Michel Temer, foi tocada pelo Exército e pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
“Governar é eleger prioridades e não deixar obras paradas nem inventar obras para aparecer e se reeleger lá na frente. Eu não estou preocupado com a reeleição. Reeleição é algo natural, se você trabalhar ela vem”, disse o presidente.
Não é a primeira vez que o presidente menciona a reeleição. Em julho do ano passado, Bolsonaro disse que entregaria um país melhor a quem sucedê-lo em 2026.
“Não é fácil querer fazer a coisa certa neste país. Lembro do [jornalista] Alexandre Garcia, que há poucos dias fez um comentário sobre levar para o Japão os 210 milhões de brasileiros e trazer para cá 135 milhões de japoneses. Daqui a 10 anos, como estaria o Japão e como estaria o Brasil? A conclusão é de vocês.”
Em Altamira (PA), Bolsonaro discursou no marco zero da rodovia, onde o então presidente Ernesto Geisel inaugurou 3.500 quilômetros de extensão em 1976.
A estrada, importante via de escoamento de produção para o agronegócio, ainda tem trechos sem asfalto que somam mais de 50 quilômetros entre Itaituba (PA) e Santarém (PA). O Ministério da Infraestrutura prevê terminar a pavimentação ainda neste ano. O governo prevê que neste ano sejam escoadas 14 milhões de toneladas de carga pela BR-163.
Aplaudido por uma plateia de apoiadores, militares e políticos locais, Bolsonaro discursou por 15 minutos. Ele lembrou que estava no terceiro ano de formação da Academia Militar das Agulhas Negras quando Geisel inaugurou a estrada.
No mesmo evento, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, disse estar emocionado ao ver Bolsonaro no mesmo marco visitado pelo presidente do regime militar.
Em sua fala, Bolsonaro disse lamentar um acidente de trânsito na BR-163 que ocorreu nesta sexta em que quatro militares saíram feridos. Eles estavam a caminho da inauguração da pavimentação da estrada. Um dos militares teve traumatismo craniano e precisou ser transferido a Belém.
Bolsonaro reafirmou que não haverá demarcação de terras indígenas em seu governo.
“Já temos 14% do território nacional demarcado como terra indígena. Criaram uma verdadeira indústria da demarcação.”
Sem apresentar evidências, o presidente disse ainda que a política de demarcação de áreas indígenas de governos anteriores atendeu a interesses estrangeiros.
Entre os apoiadores de Bolsonaro presentes no local estavam os pecuaristas e garimpeiros Ednaldo José da Silva e Marcelo Silva, que percorreram 200 quilômetros de Peixoto de Azevedo (MT) até o evento.
Não conseguiram lugar na plateia, mas conversaram durante três minutos com o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), na saída do local. Pediram que Mendes baixe o ICMS para o diesel no estado, mas o governador respondeu que não tem condições fiscais de reduzir o imposto.
A medida tem sido sugerida por Bolsonaro a governadores como forma de mitigar o impacto da alta do petróleo no preço final do combustível.
“Viemos para ver o Bolsonaro, mas não conseguimos. Somos eleitores dele, usamos demais a BR-163 para escoar produção. A gente usa a estrada até Santarém, e a obra foi um progresso para todos”, diz Ednaldo da Silva.
A ESTRADA
Segundo o governo federal, além do pavimento, a BR-163 recebeu manutenção em 1.300 quilômetros entre Sinop (MT) e Santarém (MT).
A reportagem percorreu 390 quilômetros entre Sinop e Cachoeira da Serra, distrito de Altamira. O trecho, no qual predomina a circulação de caminhões que transportam grãos, tem pista simples e sem acostamento em quase toda a sua extensão.
Nas áreas em que existe acostamento, há desníveis e irregularidades no asfalto. Entre as cidades de Novo Progresso (PA) e Altamira, um trecho de 12 quilômetros está sem sinalização ou com a pintura quase invisível para os motoristas.
Na manhã desta sexta-feira, a reportagem encontrou duas equipes do Dnit trabalhando nas proximidades de Cachoeira da Serra. Uma delas atuava na recuperação do asfalto da via.
Um levantamento do Movimento Pró-Logística, que representa produtores rurais que pagam fretes entre Sinop e os portos de Miritituba, o valor da carga transportada no trajeto já caiu com a conclusão das obras de R$ 230 por tonelada para R$ 170.
Segundo Edson Vaz Ferreira, diretor-executivo da organização, a viagem de um caminhão de sete eixos custava em média R$ 8.700 no início do ano passado, quando ainda havia atoleiros no caminho até os portos de Miritituba. Agora, diz ele, o preço é de R$ 6.500, 26% a menos.
O tempo de viagem no trajeto Sinop-Miritituba, que chegou a ser de dez dias, pode ser feito em quatro, de acordo com Ferreira. Informações da Folhapress.