O dia Internacional das Mulheres que será celebrado na próxima sexta-feira (8), é um marco na luta das mulheres pela superação da sua condição histórica de subalternidade na sociedade que historicamente se apresenta como machista e capitalista patriarcal. São séculos de luta das mulheres trabalhadoras pelo direito à vida, pelo controle do seu corpo, contra seu apagamento cultural e intelectual, pela igualdade de condições de trabalho e salários, contra o assédio, o sexismo e o machismo.
E para falar um pouco do contexto de luta, durante a semana do dia Internacional das Mulheres, o site Notícias da Lapa resolveu entrevistar algumas das principais figuras femininas do município de Bom Jesus da Lapa, para entender sua trajetória profissional e seus principais desafios. E claro, a relação disso tudo com o universo de luta por direitos. A entrevistada de hoje, segunda-feira(4) é Carlídia Pereira de Almeida, oriunda do quilombo Lagoa do Peixe no município de Bom Jesus da Lapa.
“A luta constante das mulheres negras por liberdade, igualdade, justiça social entre tantas outras, tem se intensificado diante do cenário politico assustador que está aí”.
“Sou Bacharel em Engenharia Agronômica pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), pós graduada em Inovação Social com Ênfase em Economia Solidaria e Agroecologia pelo Instituto Federal Baiano Campos de Bom Jesus da Lapa; pós graduada em Educação Ambiental com Ênfase em Espaços Educadores Sustentáveis pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais (PPGER) pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) em Porto Seguro”.
“É interessante e importante apresentar dessa forma enquanto mulher negra quilombola encorajando assim outras companheiras e dizer que é possível. A academia é um espaço negado ate hoje ao povo negro e é por esses e por outros espaços que as “mulheres negras” vêm lutando e ocupando e vai ocupar muito mais, somos um povo resistente”, destacou Carlídia.
Ela destaca, que o cenário de luta por direitos, por vezes demostrado de forma velada, é ponto de uma grande luta social para seu enfrentamento no país, especialmente no atual contexto. “A luta constante das mulheres negras por liberdade, igualdade, justiça social entre tantas outras, tem se intensificado diante do cenário politico assustador que está ai. São perdas de direito a cada dia. O momento é tenso, momento de organizar e mobilizar as bases para o enfrentamento em tempos sombrios”.
Carlídia chama a atenção para a realidade de violência no Brasil, que na maioria das vezes passa despercebida, citando os dados recentes da pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, realizada pelo Instituto Datafolha, que mostra que no ano passado 27,4% das brasileiras acima dos 16 anos passaram por algum tipo de violência. Onde 42% dos casos de violência ocorreram no ambiente doméstico. Além disso, mais da metade das vítimas (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda. “Vivemos em uma sociedade onde o numero de mulheres assassinadas aumenta diariamente vitima dos vários tipos de violência e pouco vem sendo feito, geralmente os agressores são classificados como loucos, anti-socias, quando na verdade são homens em perfeito estado, homens extremamente machistas, racistas, homofobicos que não dão valor às vidas das mulheres”, lamenta.
E continuando, ela destaca que o debate e as ações precisam ser fortalecidas dentro da sociedade, tanto pelo poder público como pelos movimentos organizados. Frisando, que na pesquisa, a desigualdade de gênero é a raiz de todos os problemas da violência contra a mulher, mostrando que na perspectiva racial, as mulheres negras se mostram mais vulneráveis. Onde 28,4% das mulheres negras relataram ter sofrido alguma violência, contra 24,7% das mulheres brancas. “São muitas as injustiças, desigualdade, opressão, abandono entre tantas outras cometidas às mulheres negras, precisamos estar unidas e fortalecidas contra esse sistema opressor, nos empoderar, por tanto, em meio a todos os percalços nós mulheres negras estamos assumindo as rédeas da situação e nos efetivando enquanto sujeito dinamizador e protagonistas da nossa própria história, doravante nos mesmas cantaremos e contaremos nossas lutas e lidas, somos sujeitos ativos do nosso caminhar”, afirmou.
“Como diz Angela Davis, quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”, finalizou Carlídia.
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