Lapa: Jovem presidente do grêmio estudantil do IFBaiano fala sobre direitos do negros e a importância de continuar luta pensando no futuro

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Foto: Warley César

Segunda-feira (20), Dia da Consciência Negra. “Esse processo de identidade para mim foi um pouco difícil, porque até eu me reconhecer, eu olhava no espelho e não me via negra, eu me via uma pessoa branca e que apenas tinha um cabelo meio crespo”.

Primeira mulher a assumir a presidência do Grêmio Estudantil do Instituto Federal Baiano de Bom Jesus da Lapa, Camila Santos Fidelis de Sousa, estudante de Agroecologia, é emblemática nas ações e no debate em defesa da ocupação das mulheres negras nos espaços educacionais no ensino superior público.  A adolescente de 17 anos, natural de Bom Jesus da Lapa, do Distrito Irrigado Formoso, se viu envolvida na luta social, se reconhecendo, apoderando-se como negra depois do movimento estudantil.

Em entrevista ao Site Notícias da Lapa, Camila destaca que o movimento estudantil foi fundamental para ela se reconhecer enquanto mulher negra, enquanto menina, enquanto sujeito que luta pelo seu espaço. “É de extrema importância esse espaço para a gente, de tá demostrando, além de culturalmente, para que as pessoas nos vejam para além de uma cultura. A consciência negra não deve acontecer só uma semana, mais diariamente a menina precisa se mostrar onde ela está inserida, ocupando o seu lugar enquanto mulher. Muitas das vezes a gente sofre muito com o preconceito, principalmente em alguns casos de lideranças. O que eu digo, é um apelo, para que as mulheres se mostrem, assumam esses espaços, que muitas vezes não são dados, mais são invadidos, ocupados, assim como a gente faz aqui no Instituto. Nós ocupamos esse espaço, não apenas como espaço físico, mais como um espaço consciente para que as pessoas fiquem intrigadas e queiram conhecer o nosso movimento, que é para além de um movimento por estética ou status. É um movimento que faça com que mulheres, principalmente mulheres negras ocupem o seu lugar de direito”, afirma.

“Nós estamos aqui em uma luta pelos três pilares do Instituto, que são o Ensino, Pesquisa e Extensão. Só que para além disso, a gente não pode sair daqui sem a consciência de que nós estamos no espaço que foi ocupado para além dos nossos esforços, mais que é nosso de direito. Então nós entramos aqui com a consciência que os Institutos Federais e as Escolas Agrotécnicas elas não são privilégios, e sim, elas são conquistas de lutas de pessoas que antecederam a nós que lutaram para ter esse espaço. A gente vê a luta de 1978, historicamente para que as escolas fossem implantadas”, frisa.

Camila fala que é a partir do momento que as representações compreendem que a escola é um lugar para formar sujeitos críticos, que não saia apenas para o mercado de trabalho, mais que se informe e saiba das questões democráticas, abrindo novas perspectivas de luta. “Dentro de uma escola, a partir de uma gestão democrática, que a gente luta para ter, então nesse contexto, nós entendemos que esse lugar é nosso por direito, que conquistamos e estamos conquistando a partir dos anos”, diz.

Ela ressalta que essa luta não pode parar. “Assim como as pessoas que nos antecederam e conseguiram isso, outras pessoas também vão conseguir a partir de lutas. Por isso, é importante não nos acomodarmos, mais sim lutar com mais intensidade, e que nossa voz seja ouvida, e que todos tenham um diálogo consciente. Isso só começa a partir da questão enquanto identidade, enquanto se reconhecer enquanto negro, enquanto gênero, enquanto mulher ou enquanto homosexual. Espaço que precisa ser de afirmação, para todos esses grupos”, destaca.

Camila é filha de mães solteira, e a sua luta começou na comunidade, que além ser presidente do Grêmio Estudantil, também está inserida na luta do Movimento Sem Terra(MST) nas áreas de reforma agrária, faz parte do Movimento Feminista e participa do Levante Popular pela Juventude. “A luta que eu hoje mais apoio, é a luta pela educação e pela representatividade educacional. Eu deixo uma mensagem a todas as pessoas que ainda não se reconhecem enquanto negro, que se olhem no espelho e veja não só a sua imagem, mais veja todo contexto histórico para que nós chegássemos até no espaço hoje, seja pela questão de cota, seja pela questão de ampla concorrência. Mas chegar nesse espaço do Instituto e saber que foi construído por pessoas que nos antecederam a minha luta, e a luta de várias pessoas aqui dentro. Entendemos que somos negros, e a questão de identidade é a mais importante. O processo dói um pouco, é um pouco arduo, há preconceitos, o racismo ainda é muito forte, mais nós temos que olhar no espelho e saber que a nossa luta o nosso povo resiste e resistiu até hoje, e que essas etapas serão muito, muito dura, mais quando a gente consegue ver que a gente é uma pessoa negra, e eu resisto, isso é gratificante”, finalizou.