“Defender o aborto é levantar a bandeira da violência”: padre Marcos comenta legalização do aborto; discussão recomeçou nesta segunda no STF

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O aborto voltou a ser debatido nesta sexta-feira (03/08), no STF – Supremo Tribunal Federal. A ação foi encaminhada pelo PSOL – Partido Socialismo e Liberdade, pedindo que a interrupção da gravidez feita por decisão da mulher nas 12 primeiras semanas não seja mais considerada crime. O tema relatado por Rosa Weber que decidiu ouvir especialistas antes de emitir um parecer, no primeiro dia de audiências, realizada na sexta-feira(03), ouviu argumentos prós e contras. Nesta segunda-feira(06), a discussão foi retomada pelo Supremo.
Em entrevista ao Site Notícias da Lapa, o Formador do Seminário Redentorista da Diocese de Bom Jesus da Lapa,  auxilar da Paróquia São João Batista e terapeuta, padre Marcos Silva, CSsR, contou que  a temática sobre o aborto tem feito parte das discussões  sociais e dentro da própria igreja, e agora esse semana volta com mais intensidade, sendo pauta do STF, onde se pensa na descriminalização do aborto até a decima segunda semana de gestação. “A Igreja sempre levantou sua voz contra o aborto e a favor da vida. A Igreja toma para si o mesmo projeto de Jesus, que sempre foi a favor da vida”, disse.
Ele destacou que todo cristão sabe que a defesa da vida  é um dos pontos principais colocado nos evangelhos, e que todo tipo de ação violenta contra a vida, Jesus foi contra. “Jesus era contra todo sinal de morte, e toda atitude violenta de morte. Tanto ações desordenadas que levam à morte do corpo físico, como também, a morte do espirito: a violência, a opressão, e tudo aquilo que mata a essência do ser humano”, frisou o padre.
Nós vemos e vivemos em uma sociedade, onde o individualismo, a falta de perspectiva de vida e a falta de espiritualidade fazem com que um grupo de pessoas optem pelo aborto, ou seja, uma  maneira violenta de interromper a vida. A Igreja, que é profética,  não se cala diante disso”, pontuou.
Padre Marcos falou que optar pelo aborto, também é sinal do distanciamento da humanidade de Deus. “Não tem como uma pessoa perceber a vida como dom e defende-la, se ela mesma não faz uma experiência da própria vida como dom.  Essa esperiência de sermos dom de Deus só é possível por meio da participação em uma comunidade, a partir do conhecimento da Palavra de Deus, e de um caminho espiritual. Nós somos seres abertos para o transcedente, deveríamos buscar Deus, mas o que percebemos hoje, é que as pessoas não buscam Deus, e colocam no lugar Dele, a ideologia capitalista, seus desejos, interesses e contra-valores e a busca da falsa liberdade. Sem essa relação espiritual, não tem como você defender a vida ”, e destacou que o primeiro problema envolvendo o aborto, está na base da sociedade, em função da falta de espiritualidade. “Muitos já não estão vivendo uma relação com Deus. Prrecisariamos entender, ou perguntar, o que representa a vida para alguém que pensa em fazer o aborto. Será que valoriza a própria vida?” Questionou.
“Porque quem valoriza a própria vida, vai saber também valorizar a vida de um ser que já está ali em formação. E a   Igreja Católica, por meio da CNBB – Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil tem convocado todos os seus leigos, e todos aqueles que seguem a vida cristã, a se unirem no processo de sensibilização em prol da vida. A vida precisa ser respeitada em todas as suas manifestações, e a CNBB nos diz: desde o idoso fragilizado por causa da sua enfermidade, até a criança recém nascida, ou aquele que ainda vem nascer, são expressões de vida, e por isso,  precisa ser cuidado e valorizado”, lembrou.
O formador frisou que a mídia enfatiza a questão do aborto, defendendo, como se essa escolha  fosse a única saída. ” A solução não  está em tirar a vida”, e destacou que é preciso fazer  um trabalho de educação sexual, “e fazer um processo de conscientização da vida, da responsabilidade, e provocar  uma ampla discussão sobre as consequências desse ato. Não é tirar a vida de um inocente que vai resolver o problema do nosso país, de uma gravidez indesejada ou de uma gravidez resultante de outro ato violento”, colocou.
Padre Marcos que é terapeuta,  falou que o aborto deixa marcas profundas nas vidas das mulheres, que na maioria das vezes são motivas pelo pensamento social, ou pelos seus parceiros. Carregam uma dor psíquica muito grande. E quando alguém pensa em cometer esse tipo de ação, já fica impregnado na vida da criança, sendo algo muito delicado, porque mexe com a mente, e com toda estrutura do ser, da personalidade. Estamos tratando com algo que é dom de Deus, e nenhum homem ou mulher tem o direito de tirar”, explicou.
Disse que o  aborto é uma ação injusta contra um indefeso, e abre portas para outros tipos de violência na sociedade. A igreja é contra o aborto, mas é  misericordiosa em acolher quem passou por essa experiência, e que hoje estão extremamente machucadas. “Defender o aborto é levantar a bandeira da violência e abrir portas para outros tipos de violência”, destacou.
Ainda de acordo o Pe. Marcos, no momento de fragilidade da mulher, que engravida, seja por uma forma não planejada ou vítima de uma violência sexual, essa sociedade esvaziada de valores apresenta o aborto como a única solução, aumentando ainda mais as marcas do sofrimento, e mais consequências para a realidade da mulher. Nesse momento a mulher,  pode decidir pelo aborto, como se fosse a resolução. “Claro que a mulher está ferida na sua dignidade, que ela está sofrida. Mas a gente não pode ver o aborto apenas como a única solução. A igreja apresenta uma outra possibilidade. A gravidez pode não ter sido planejada, ou resultado de um ato que humanamente não é sadio, porém, a vida que está aí é um dom de Deus, e a Igreja convida essa mulher a partir daí, a ter outra perspectiva”, finalizou.