Bom Jesus da Lapa: pais quilombolas e indígenas defendem legado de respeito à natureza

0
GrupoSCosta-350x250px

Via Agência Brasil

12/08/2023, Filha Márcia e José Fragoso. – Matéria para o dia dos pais. Foto: Aquivo Pessoal

A herança nas plantas da roça, no barulho do rio, no rochedo do monte, no canto dos pássaros, no movimento das manhãs, no silêncio da noite. O valor do respeito à terra e da luta para se manter no mesmo lugar. Para comunidades tradicionais, o significado da paternidade não está na ligado a bens que são deixados, mas ao legado que permanece. 

Um professor

A herança é a luta, conforme explica o cacique José Fragoso, de 71 anos, do povo pataxó. Ele vive em Bom Jesus da Lapa (BA), na Aldeia Tibá, e é pai de cinco filhos. E busca tentar passar o que ouviu do pai dele e também do avô. “O pai é como um professor. O que eu ouvi passei pra eles”.

“Eles” são mais até que os filhos biológicos. São as mais de 100 pessoas que vivem na aldeia. Como Fragoso se tornou o mais velho no lugar, é como se fosse um pai deles todos. Foi com os mais antigos que aprendeu o melhor momento para a banana, abacaxi, melancia e para o urucum. Aprendeu que tem que haver respeito à natureza. O excedente do que consomem é vendido em feirinha na região. Neste ano, a prefeitura compra para a cidade o que é plantado pelos indígenas, motivo de grande orgulho do pai indígena.

Uma das filhas do cacique é a agente de saúde Márcia Ferreira da Silva, de 47 anos, que se emociona ao falar do pai. “Ele me ensinou o respeito às pessoas e ao meio ambiente. Ele sempre focou muito valorizar a mãe terra, a nossa cultura e o modo de viver, para não deixar acabar. Ele nos motiva sempre a nunca desistir”.

Quilombo, o gol e o futuro

2/08/2023, Orgulho do pai, Florisvaldo, Marcos Flávio é surdo e jogador da Seleção Brasileira para deficientes auditivos. Foto: Arquivo Pessoal

Ainda em Bom Jesus da Lapa (BA), uma comunidade quilombola, a Araçá Cariacá, também busca manter os ensinamentos dos pais, dos mais velhos. Florisvaldo Rodrigues, de 51, vive em gratidão com a comunidade de mais de 700 pessoas. Ele recorda que o maior presente como pai que ele recebeu foi o apoio de todos na criação de um filho deficiente auditivo, Marcos Flávio da Silva, de 25 anos.

“As pessoas me ajudaram, estimularam que ele praticasse esporte e hoje ele joga em Brasília, na Seleção Brasileira para pessoas com deficiência auditiva”.

O rapaz afirmou à reportagem   que tem muito amor pela comunidade em que nasceu e cresceu, e também pelo pai que o impulsionou a buscar seus sonhos. “Eu agradeço muito por esse momento que estou passando e quero ajudar a minha família”, disse. “Tenho muito intimidade com meu pai porque ele é guerreiro e amoroso por mim e para minha família. Estou sem palavras para dizer”, acrescentou. As palavras e os sonhos concretizados do filho formam o golaço que o pai comemora todos os dias.