“Sentença de morte”: o Rio São Francisco chegou ao mais baixo volume de água em 513 anos de história

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Ponte da Ferrovia FIOL sobre o Rio São Francisco

Agredido século após século, em seu lento curso de agonia o Velho Chico chegou a 2017 com o mais baixo volume em seu 513 anos de história, que se completaram em 4 de outubro. O aniversário de seu descobrimento pelo navegador Américo Vespúcio  encontrará o manancial enfrentando uma espécie de sentença de morte, executada enquanto seu curso é literalmente soterrado com reflexo de ações humanas.

Estudo inédito realizado pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos e pela Companhia do Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). Entre outros, o trabalho revela um dado assombroso, que traduz em números algo que sempre se percebeu na prática: o leito do rio recebe por ano nada menos que 23 milhões de toneladas de sedimentos, da nascente na Serra da Canastra, em Minas, à foz no Oceano Atlântico, entre Alagoas e Sergipe. Na prática, é como se a cada ano um milhão de carretas de detritos fossem lançadas na água. Para fazer frente a essa realidade, o estudo propõe outras medidas controversas, que incluem a transposição de águas de outras bacias – enquanto não terminou sequer a polêmica sobre a transposição do próprio São Francisco.

(foto: Arte/EM/D.A Press)

O diagnóstico, fruto de um ano de levantamentos, que apontam que o soterramento do Velho Chico tem como uma das principais causas a ação humana, especialmente o desmatamento, que desencadeia uma série de outras consequências, em efeito cascata. “A taxa de erosão de cada uma das fontes de orçamento sedimentar tem sido impactada pelas modificações humanas da paisagem, que levaram a um aumento geral na produção de sedimentos”, diz um dos trechos do relatório.

Ponte sobre o Rio São Francisco em Bom Jesus da Lapa

Esse estudo não é novidade para quem vive e acompanha a situação do São Francisco. Considerando que as representações sociais da região, em especial da Comissão Pastoral da Terra(CPT), seguimento ligado a Igreja Católica, que tem colocado várias reflexões sobre a  situação com as comunidades e com as representações do estado, de forma constante. Destacando os impactos causados pelo crescimento dos grandes empreendimentos do agronegócio na região Oeste, os quais tem influenciado no volume de chuva, atingindo diretamente o lençol freático, e assim, diminuindo a vasão de forma drástica dos rios Corrente, Grande, Carinhanha, que são as   veias principais do São Francisco na Bacia. No II Seminário de Orientação Funcional promovido pela Corregedoria Geral do Ministério Público da Bahia –MP/BA, realizada  no mês de junho em Bom Jesus da Lapa, Samuel Brito,  chamou a atenção das autoridades para a situação ambiental que é apresentada, onde dados oficiais dizem uma coisa, no entanto os povos vivem nas áreas atingidas sentem outra. “A realidade extrapola esses dados oficiais. […]Nós temos visto aqui no oeste da Bahia, na bacia do são Francisco uma situação que é a seguinte: primeiro se faz depois se licencia, e depois constrói o processo da outorga; então é um processo extremamente contraditório”.

As principais cidades da Bacia do Velho Chico banhadas pelo São Francisco o cenário de beleza em alguns pontos contrasta com os bancos de areia no meio do rio e a água cada vez mais longe da margem. O que faz com o que os moradores ribeirinhos digam que “o rio está com os dias contados se nada for feito”.

O site Notícias da Lapa verificou de perto a situação dramática do São Francisco em diferentes pontos de Bom Jesus da Lapa e Serra do Ramalho, vendo o quanto as margens do rio estão assoreadas, com várias bancos e ilha de areia, realidade que assombra os ribeirinhos que vivem esse contexto diariamente.

Para o agricultor Antônio dos Santos, de Serra do Ramalho, a situação está ficando cada dia pior. “Eu estou aqui nessa região há mais de quarenta anos, eu nunca tinha visto esse rio assim. A gente não consegue mais pegar peixes, e a navegação ficou difícil, tem que saber por onde passar. E a gente não ver preocupação dos governos e nem das empresas, que só aumenta os investimentos que agridem nossa região e o rio.

Braço do São Francisco fechado pela FIOL em Território Quilombola de Bom Jesus da Lapa

O agriculto lamenta a chegada da Ferrovia Oste Leste (FIOL), a gente olha para esse trem aí, fica tentando entender o que eles falaram para a gente quando iam construí essa ponte, ninguém fala dos impactos que estão causando em nossa terra, só fala do progresso. Saíram cortando terras, fechando braços de rios na região de Bom Jesus da Lapa, e a justiça não faz nada.

Conforme Manoel Pereira, pescador da região de Bom Jesus da Lapa, o rio não oferece mais condições de navegação. “Olha, para você ter uma ideia, subindo aí, perto dessas ilhas a gente tem que saber onde passar, sempre alguém bate o barco em algum banco de areia ou pedra. O Poder Público tem que pensar com urgências em medidas, a gente não ver nada de verdade, só discurso. A gente não pode fazer nada. Sempre vivi da pesca, mais cada dia estar difícil”, destaca.

Sem chuvas e com perspectivas sombrias, a revitalização do rio São Francisco aparece como única saída para dar segurança hídrica à região. Mas o plano Novo Chico, promessa do presidente Michel Temer (PMDB) pouco avançou nos últimos meses.

Com informações do em.com.br

4 COMENTÁRIOS

  1. Grande tristeza e mais decepção. Este rio significa o único recurso de vida pata milhares de famílias, este descaso pelo rio é crime não somente ambiental, uma vezcqca sentença de morte não é somente para o rio, mas para todos q dependem dele para viver, é um verdadeiro genicidii, massacre com nosso povo nordestino, já tao sofrido. Muito triste e revoltante. Nossos dirigentes precisam ser julgados não somente pela ladroagem, mas pelas consequências catastróficas e pelas mortes q estão causando. Essa corrupção toda é muito mais seria do q anunciam os jornais. Revoltante. A greve de fome de Don frei Luiz foi i grito fe sicorro e a professia, a prenuncio destas mortes.

  2. O poeta Flávio Leandro assim definiu:

    “Enquanto a ambição for soberana
    Enquanto a grana for força voraz
    Enquanto a última gota de água
    foge das roupas presas nos varais

    Água pro Velho Chico,
    Água até de salpico
    Água pro velho Chico beber
    traz água de qualquer jeito
    água da mágoa do peito
    água pro Velho Chico beber.”

  3. Infelizmente a humanidade não enxerga ou finge q nao enxerga a sua responsabilidade pela destruição da natureza ,atitude esta q revela a grande ignorância do homem q está se destruindo a cada dia q se passa promovendo dias cada vez mais difíceis p
    sua sobrevivência e talvez impossiveis p seus descendentes sobreviver.

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