por Vitor Castro/Bahia Notícia
Uma gestante moradora da cidade de Bom Jesus da Lapa, na região do Velho Chico, tem enfrentado dificuldades para tomar a segunda dose do imunizante contra a Covid-19. Após tomar uma primeira dose da vacina Oxford/Astrazeneca – cuja aplicação foi suspensa para gestantes e puérperas pelo Ministério da Saúde-, a mulher precisa tomar o imunizante produzido por outra farmacêutica. No entanto, de acordo com o relato feito ao Bahia Notícias, a Secretaria Municipal de Saúde da cidade se nega a ofertar o imunizante, versão rebatida pela gestão municipal.
De acordo com o relato da gestante, que preferiu não se identificar, sem saber que estava grávida, ela tomou uma primeira dose da vacina produzida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica Astrazeneca. No entanto, após o registro da morte de uma grávida associada ao imunizante, o Ministério da Saúde determinou que estas se vacinassem apenas com os imunizantes da Pfizer ou Coronavac.
A mulher relatou que, ao tentar tomar a segunda dose, enfrentou diversas dificuldades junto ao município. Em um primeiro momento ela foi informada que não poderia ter acesso a vacina, pois o município não teria recebido “nenhuma recomendação da CIB dizendo que iria acatar a nota do ministério, e que eu só poderia me vacinar quando essa nota saísse”, relatou.
A partir daí, muitas idas e vindas foram registradas. A gestante entrou em contato com a ouvidoria do SUS na Bahia, com o secretário de Saúde do município e com representantes da Comissão Intergestores Bipartite da Bahia (CIB). “Falei com a pessoa e ela me disse que estava ciente da nota [do ministério], que teria uma reunião essa semana que acabou não ocorrendo, mas que eles iriam emitir uma nota dizendo para os municípios que o estado iria seguir a recomendação do governo federal”, contou.
“Na sexta-feira fui me vacinar e fui informada que agora o problema não era mais a nota emitida pela CIB, mas sim o seguinte: Que a prefeitura tem a Pfizer para ser aplicada, mas com recomendação de aplicação para primeira dose, e não segunda. Acontece que as grávidas estão se recusando a tomar Coronavac. A minha obstetra não me autorizou a tomar a Coronavac porque ela disse que os estudos que não há estudos que comprovem intercambialidade entre a AstraZeneca e a Coronavac”, disse.
De acordo com a diretora de Vigilância em Saúde de Bom Jesus da Lapa, Laís Sento Sé, apesar do município ter recebido doses do imunizante da Pfizer – que já se esgotaram -, este não poderia ser direcionado para segunda doses de gestantes. “Saiu uma nota do MS dizendo que já poderia fazer intercambilaidade com vacina no caso das gestantes. Que as que tomaram Oxford podem tomar Butantan (Coronavac) ou Pfizer. Essa gestante em questão veio tomar a vacina só que nosso município não tem segunda dose de Pfizer. Quando recebemos para primeira dose, não podemos usar para segunda, senão, não tem como garantir a segunda dose daquela pessoa que tomou a primeira deste imunizante em questão. Foi ofertado para ela a vacina do Butantan e ela se nega a tomar esse imunizante”, justificou.
A diretora informou ainda que outras gestantes estão na mesma situação, e não aceitam tomar uma segunda dose da Coronavac. Estas aguardam a chegada de segunda dose da Pfizer. “Muitas vezes o MS aprova uma coisa, mas não manda as vacinas. Assim como foi com os bancários que foram incluídos depois. Estou no aguardo de receber a Pfizer. Enquanto não receber, não posso fazer outra vacina. Tenho a do Butantan, mas ela se nega a fazer”.
Ao Bahia Notícias, a Sesab informou que mantem a orientação emitida no último dia 20 que orienta que as mulheres que já têm mais de 45 dias de parida devem se vacinar com a segunda dose do mesmo imunizante que tomaram ainda gestantes, enquanto não há estudos conclusivos acerca da eficácia e possíveis consequências da intercambialidade entre vacinas de laboratórios e tecnologias diferentes. Se a primeira dose tiver sido feita com a vacina da AstraZeneca, as mulheres devem aguardar o prazo pós-parto de 45 dias para completar o esquema vacinal.
Ainda de acordo com a Sesab, a imunização com vacinas da Oxford/AstraZeneca e Janssen-Cilag, de composição com vetor viral, para vacinação das gestantes e puérperas a partir de 18 anos continua suspensa. Para este público, a vacinação deverá ser realizada com as vacinas dos fabricantes Sinovac/Butantan e Pfizer/Wyeth, “a vacinação poderá ser realizada em qualquer trimestre da gestação e deve ser avaliada individualmente por cada paciente junto ao seu médico, para avaliação da relação risco-benefício”.
Em relação a possibilidade da Sesab autorizar que os municípios convertam imunizantes destinados à 1ª dose em 2ª dose de gestantes, a pasta informou que quando o “Ministério da Saúde envia doses de vacinas, já determina se os imunizantes devem ser destinados para a primeira ou segunda aplicação”.
ASSOCIAÇÃO DE IMUNIZANTES
A intercambialidade, ou seja, a aplicação de uma vacina de uma farmacêutica, associada com um outro imunizante na segunda dose, ainda está sendo estudada em diversas partes do mundo. No entanto, até então, não são satisfatórios os estudos publicados, como defende a infectologista Clarissa Ramos. “Há estudos avaliando as vacinas diferentes, só que não tem resultado publicado. Com base na teoria que usamos para outras vacinas, em geral não há nenhum risco ou perigo. Mas também não sabemos o benefício. Será que ela vai estar devidamente imunizada com uma dose de cada? Não tem como a gente saber sem estudo”, disse.A especialista defendeu não considerar a segunda dose de um outro imunizante como eficaz para a cobertura vacinal. E exemplificou: “Eu não consideraria como uma segunda dose essa aplicação da Coronavac. Se ela tomar a Coronavac, ele terá que completar o esquema vacinal da Coronavac. Ou seja, passando o prazo estabelecido da primeira aplicação do imunizante, tomar a segunda dose. Por esse ponto de vista, é mais aceitável a gente desconsiderar essa primeira dose da vacina de Oxford e recomeçar. Mas a gente montar um esquema novo com uma dose de uma vacina, e a segunda dose de outra, no momento atual ainda não podemos afirmar que haverá proteção. A nível de efeito adverso, não tem nenhum perigo se se respeitar o espaçamento. Só não saberemos se a pessoal estará realmente imunizada”, opinou.
Ainda de acordo com a especialista, não havendo disponibilidade de uma vacina para completar um esquema, principalmente em gestantes o início de uma novo ciclo vacinal seria o recomendado. “Que você inicie o esquema com outra vacina que você tenha disponível. O ideal é não faltar vacina. Na sua falta, o ideal é recomeçar o esquema com a vacina disponível. Com uma dose de uma, e outra de outra, eu não tenho como garantir que a pessoa está imunizada”, disse.
A especialista defendeu não considerar a segunda dose de um outro imunizante como eficaz para a cobertura vacinal. E exemplificou: “Eu não consideraria como uma segunda dose essa aplicação da Coronavac. Se ela tomar a Coronavac, ele terá que completar o esquema vacinal da Coronavac. Ou seja, passando o prazo estabelecido da primeira aplicação do imunizante, tomar a segunda dose. Por esse ponto de vista, é mais aceitável a gente desconsiderar essa primeira dose da vacina de Oxford e recomeçar. Mas a gente montar um esquema novo com uma dose de uma vacina, e a segunda dose de outra, no momento atual ainda não podemos afirmar que haverá proteção. A nível de efeito adverso, não tem nenhum perigo se se respeitar o espaçamento. Só não saberemos se a pessoal estará realmente imunizada”, opinou.
Ainda de acordo com a especialista, não havendo disponibilidade de uma vacina para completar um esquema, principalmente em gestantes o início de uma novo ciclo vacinal seria o recomendado. “Que você inicie o esquema com outra vacina que você tenha disponível. O ideal é não faltar vacina. Na sua falta, o ideal é recomeçar o esquema com a vacina disponível. Com uma dose de uma, e outra de outra, eu não tenho como garantir que a pessoa está imunizada”, disse.