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As pessoas que acompanham o noticiário regional e nacional sobre o novo coronavírus já estão cansadas e até assustadas com o número de casos e mortes em função da COVID-19, que não para de crescer. De acordo com o Professor e Pesquisador da UFOB, Doutor Jaime Henrique Amorim, os números não param de subir porque a estratégia de combate ao vírus no Brasil está equivocada.
Jaime Amorim é é biomédico (UESC), mestre em Genética e Biologia Molecular (UESC) e doutor em Biotecnologia (USP). Além de professor e pesquisador na UFOB, ele também coordena a equipe do Laboratório de Agentes Infecciosos e Vetores (LAIVE), que tem analisado os testes de COVID-19 na região.
Durante uma entrevista concedida a uma rádio local, o pesquisador da UFOB comentou sobre a situação epidemiológica em Barreiras e explicou porque acredita que as medidas adotadas pelo poder público são ineficazes para frear o avanço do novo coronavírus.
A variante amazônica da COVID-19 já domina na Região Oeste
Questionado sobre o que provocou o aumento de casos e óbitos no Oeste da Bahia, Jaime Amorim revelou que a equipe do LAIVE identificou que a variante amazônica, que é mais agressiva e transmissível, já predomina na Região Oeste. Os dados foram obtidos a partir do sequenciamento genético do vírus coletado em pessoas infectadas no Oeste Baiano.
“A gente feito estudos de genética do vírus aqui da região e na última vez que a gente fez o sequenciamento, a gente tinha encontrado só um vírus da variante P.1, que é de Manaus. Agora nesse nosso último sequenciamento (…), nós vimos que a P.1 já está dominando, que é uma variante muito mais agressiva. (…) As variantes mais antigas, que geravam infecções mais brandas, elas desapareceram. A gente só vê agora principalmente P.1 e P.2”, explicou Jaime Amorim.
De acordo com o pesquisador da UFOB, além de mais transmissíveis, essas variantes também são mais letais. Isso explica o aumento expressivo de óbitos na Região Oeste, uma vez que não houve uma mudança drástica no comportamento da população.
Segundo Jaime, o número de óbitos por COVID-19 nos quatro primeiros meses de 2021 já está próximo do número de mortos pelo corononavírus durante todo o ano de 2020.
“Pra gente, é claro que são as novas variantes, porque o comportamento em geral da população é o mesmo. A gente, infelizmente, não tem uma adesão em massa às formas de controle, distanciamento. Todo mundo quer o filho vá para a escola presencial. A gente vê muita gente cobrando as escolas assim, o comércio pressionando para abrir, academias e tudo mais. Então a gente ainda tem situações que favorecem muito a transmissão”, declarou o Pesquisador da UFOB.
Para pesquisador da UFOB, faltam medidas eficientes de combate ao vírus
Diante do crescimento expressivo do número de casos e óbitos não só na Região Oeste, mas em todo o país, o que deve ser feito para frear a contaminação? De acordo com Jaime Amorim, as estratégias adotadas por outros países mostram que o distanciamento social é a forma mais eficaz de controle do vírus.
“As formas de contenção que a gente tem para esse vírus, por enquanto, são as estratégias de contenção não-farmacológicas, que são baseadas principalmente em distanciamento. Então a gente tem modelos internacionais, países que fizeram isso e conseguiram diminuir drasticamente a quantidade de infecções e de óbitos, mas aqui, o que a gente tem, infelizmente não só na região, mas no Brasil de forma geral, é uma resistência à isso. Tem a questão do negacionismo também”, admitiu Jaime.
Ainda segundo o pesquisador da UFOB, apesar de já existirem vários dados mostrando o que é eficiente no combate ao vírus, os gestores públicos do país não têm usado essas informações. Além disso, apesar de haverem tantos profissionais qualificados no Brasil para explicar e orientar nesse sentido, como epidemiologistas e virologistas, essas pessoas não tem sido ouvidas.
“Infelizmente os gestores públicos não têm usado as informações científicas no combate à COVID-19. Esse é o ponto. Nós temos as informações, mas infelizmente elas não tem sido utilizadas de maneira inteligente. Estão sendo negligenciadas. Então a gente vai continuar com esse problema, ninguém sabe até quando”, explicou o pesquisador.
O lockdown funciona mesmo?
De acordo com Jaime Amorim, sim, o lockdown funciona. Porém, para que essa medida seja eficiente, é necessário que ocorra no período certo e que seja aplicada da maneira correta, como fizeram outros países que conseguiram reduzir o número de casos e óbitos causados pelo Novo Coronavírus.
“O lockdown é um tipo de quarentena em que você considera o tempo máximo de incubação do vírus. Nesse caso, seria 14 dias. Então, por exemplo, não faz sentido nenhum você fazer um lockdown de 2-3 dias. O seu impacto não vai ser nem estatisticamente significativo. (…) Você tem que fazer um controle de movimento de, no mínimo 14 dias, porque aí o tempo de incubação do vírus vai estar dentro do período de quarentena. Então a circulação dele vai reduzir tanto, que vai ter realmente a diminuição de casos de óbitos, que é o que tem sido feito em alguns países da Ásia, da Europa”, explicou Jaime.
No entanto, essa medida precisa ser aplicada de forma inteligente. Segundo o pesquisador da UFOB, fazer lockdowns curtos e somente modificar o horário de funcionamento do comércio, não terá nenhum impacto nos números da COVID-19.
“Parece até drástico a gente falar isso, mas veja só: fazer um trabalho inteligente requer o seguinte: Você tem uma medida contundente, mas pontual ou pontuais. Fazer 1, 2, 3 lockdowns, fazer medidas restritivas de forma inteligente. Agora ficar, toda hora sai uma nota, e isso vale para todo gestor público do Brasil, faz uma nota, faz um lockdown aqui e ali, não adianta nada. Os números continuam aí. Por quê? Porque as estratégias de contenção não estão sendo feitas de maneira correta”, explicou o especialista.
Ainda de acordo com o pesquisador da UFOB, se as medidas que estão sendo implementadas não só na Região Oeste, mas também em outros locais do país, estivessem funcionando, os números já teriam reduzido. Porém, isso não está acontecendo.
“As estratégias de contenção estão totalmente equivocadas. E eu falo isso porque é a minha área. Se elas estivessem funcionando, a gente teria retorno, a gente teria resultado positivo e, infelizmente, a gente não tem tido”, afirmou Jaime Amorim.