por Marina Dias | Folhapress
Nos planos de Joe Biden, sua primeira entrevista coletiva como presidente dos EUA seria palco para capitalizar os recentes sucessos de seu governo, como a aprovação do pacote de US$ 1,9 trilhão de alívio econômico e os avanços significativos na vacinação dos americanos.
Nesta quinta-feira (25), o presidente conseguiu dobrar sua meta de campanha e anunciou a imunização de 200 milhões de pessoas até o fim de abril, quando completa cem dias no cargo. Mas, ao subir no púlpito da Casa Branca, o presidente sabia do escrutínio que sofreria diante de uma grave crise imigratória e a pressão por medidas mais rígidas no controle de armas no país.
Diante dos jornalistas, Biden afirmou que dobraria a meta inicial de vacinar 100 milhões de pessoas nos primeiros cem dias de gestão. “No meu centésimo dia de mandato, teremos administrado 200 milhões de doses de vacinas nos braços das pessoas, isso mesmo, 200 milhões em 100 dias”, afirmou Biden. “Eu sei que é ambicioso dobrar a meta inicial, nenhum país está nem perto disso.”
O presidente cumpriu em 58 dias a promessa inicial e, diante dos saltos no programa de imunização –são 2,5 milhões de doses aplicadas em média por dia– decidiu usar o anúncio como boa notícia diante dos temas adversos.
Questionado sobre os problemas sobre imigração e controle de armas, que não têm sido enfrentados com rapidez por seu governo, Biden disse que foi contratado “para resolver problemas e não criar divisões”, mas afirmou que vai resolver as questões, consideradas por ele políticas de longo prazo.
“Eu fui eleito para resolver problemas, e o mais urgente era Covid-19 e a crise econômica para milhões de americanos, por isso coloquei todo o meu foco nisso”, afirmou o presidente. “Os outros problemas de imigração, armas são políticas de longo prazo, estaremos aptos a fazer, mas o fundamental era dar às pessoas alguma paz de espíritio para que elas não estejam preocupadas se vão perder algum membro da família.”
Auxiliares do democrata marcaram a coletiva com nove dias de antecedência, o que foi considerado um erro por quem observa Washington de perto. A dinâmica dentro da Casa Branca, é volátil e as críticas a Biden têm aumentado pelo descontrole na fronteira entre México e EUA, com número recorde de detenção de imigrantes, e cobranças para agir de forma mais assertiva sobre a regulação de armas, após dois massacres a tiros que deixaram 18 mortos em menos de uma semana.
Biden foi aconselhado a tentar falar diretamente à população, controlar a narrativa e mostrar que está preparado para o próximo desafio em meio às crises que ele mesmo elegeu como prioridades: a pandemia, a crise econômica, a desigualdade racial e as mudanças climáticas.
De acordo com levantamento da CNN, o democrata é o presidente que mais demorou para conceder uma entrevista coletiva nos últimos cem anos. Seus 15 antecessores mais recentes o fizeram com até 33 dias de Casa Branca -Biden já está há dois meses no posto.
PANDEMIA
Biden tem capitalizado o avanço da campanha de vacinação, que deu um salto nos EUA desde sua posse e, junto com a queda nas mortes e hospitalizações, levou o país a uma rota de mais confiança. O democrata diz que os americanos poderão viver algo perto do normal até julho.
O presidente havia prometido vacinar 100 milhões de pessoas nos 100 primeiros dias de seu governo, mas atingiu o número em apenas 58 dias e decidiu dobrar a meta. Anunciou que, até o fim de abril, 200 milhões de pessoas terão sido vacinadas no país –duas vezes o previsto inicialmente.
Ao todo, cerca de 125 milhões de doses da vacina já foram aplicadas nos EUA –44 milhões de americanos estão completamente imunizados e 81 milhões receberam ao menos a primeira dose, ou seja, 26% da população.
Os EUA seguem líderes em número de casos e vítimas por Covid-19 –são mais de 545 mil óbitos– mas as curvas têm melhorado, e as mortes caíram 30% nas últimas duas semanas, segundo o jornal The New York Times.
Em 11 de março, Biden havia anunciado que todos os americanos adultos poderiam ser vacinados a partir de 1º de maio, zerando as filas de prioridade, mas a vacinação acelerada fez com que a meta pudesse ser atingida antes disso.
Após um começo de vacinação considerado lento (com média de 900 mil vacinas aplicadas por dia entre dezembro e janeiro), os EUA deram um salto para a média de 2,5 milhões de imunizantes administrados diariamente –a abertura de centros de vacinação em massa, farmácias e supermercados aderindo à campanha, e pesquisas que mostram o aumento do apoio dos americanos ao imunizante contribuíram para os avanços.
IMIGRAÇÃO
A primeira grande crise do governo Biden é o descontrole na fronteira entre México e EUA, onde autoridades não mostram ter capacidade ou recursos para lidar com uma escalada recorde em duas décadas no número de imigrantes que tentam entrar em território americano sem documentos –muitos deles são crianças desacompanhas.
Biden tentou minimizar a crise, disse que o aumento das pessoas chegando na fronteira é sazonal, que acontece “todos os anos” nesta época.
O presidente afirmou que seu projeto é “reconstruir o sistema” para tentar acomodar os números recordes de pessoas que tentam entrar no país. “Não é porque sou um cara legal [que as pessoas estão tentando entrar nos EUA], acontece todo ano”, afirmou Biden.
Jornalistas experientes relatam restrições à imprensa para acompanhar o trabalho das patrulhas na divisa, o que não acontecia nem mesmo no governo Donald Trump, conhecido por adotar medidas agressivas na fronteira.
Sob pressão, Biden começou a agir no início desta semana na tentativa de mitigar o desgaste. Nesta quarta-feira (24), anunciou que a vice-presidente, Kamala Harris, vai liderar os esforços dos EUA para conter a crise na fronteira, em trabalho conjunto com o México e países da América Central.
Um dia antes, o Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) havia publicado fotos vídeos que mostravam as condições de crianças imigrantes detidas, em um movimento que autoridades chamaram de “esforço pela transparência.”
A divulgação das imagens pelo governo foi feita um dia após o site de notícias Axios revelar fotos internas de um centro de detenção no Texas, mostrando condições de superlotação e improviso das instalações em meio à pandemia.
Cerca de 9.400 menores estão entre os detidos e expulsos no mês passado, segundo dados do CBP. Se considerados os números de outubro a fevereiro, o total é de quase 30 mil crianças e adolescentes. Muitas ficam nos centros de detenção mais do que as 72 horas permitidas pela lei americana e em condições pouco apropriadas.