Já foi dada a largada para a contagem regressiva das provas impressas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, que serão realizadas neste domingo(17), e no próximo dia 24 de janeiro. Em entrevista ao site Notícias da Lapa, duas professoras que lecionam na rede pública e privada, falaram sobre o acompanhamento dado aos estudantes de Bom Jesus da Lapa. E pontuaram que no ano de 2020 a pandemia aumentou ainda mais as desvantagens entre os estudantes da rede pública e a privada.
A professora Gabriela Amorim Nogueira Silva, que leciona na Rede Estadual, destaca que acompanhou muitos estudantes do Colégio que ela trabalha, junto com outros colegas, e que foi feito o possível, “de todas as formas”, para que os estudantes não fossem tão prejudicados durante o ano letivo de 2020, e se envolvessem e dessem continuidade aos seus estudos, no entanto as dificuldades foram muitas. “A própria Secretaria de Educação, criou várias possibilidades de estudos em casa. Atividades remotas com planejamento de estudo, roteiros de estudos, aulas gravadas muito interessantes. Mas, infelizmente, numa grande parte, isso não atraiu os alunos”, afirmou.
Ela afirma, que a situação do ensino remoto é muito complexo para boa parte dos alunos da escola pública, já que a realidade do estudante é difícil, mesmo ele tendo boa vontade de fazer parte da proposta, mas a falta de estrutura fez muitos desistirem. “Então, mesmo diante de todos os esforços da Secretaria de Educação do Estado da Bahia e das escolas estaduais, as coisas não andaram como deveriam. Especificamente, cada escola buscou da sua forma, dar o melhor, já que os professores nunca pararam de trabalhar, ao contrário do que se diz. Então, observamos que os alunos não tinham estrutura mínima necessária para o ensino remoto”, e chama a atenção para a realidade vivenciada pelos estudantes da rede pública, que além da dificuldade de adaptação ao novo sistema de ensino, muitos não tiveram como acompanhar as tarefas por falta de estrutura: “muitos não tinham nem se quer um celular para participar das atividades, e quando tinham, esse celular era para dividir com outros irmãos também. Participar das aulas, acompanhar, fazer leituras textuais no celular não é fácil”, lamentou a professora Gabriela Amorim.
Já professora Maria Zilá de Souza Ledo, que leciona na rede Estadual de Ensino, como também na rede privada de Bom Jesus da Lapa, afirma que essas duas realidades despertou nela como educadora uma certa preocupação, quanto ao desempenho desses alunos da escola pública agora no Enem. “Porque, com esse processo da pandemia, nós da escola pública tentamos de todas as forma fazer algo para atingir a proposta da Secretaria Estadual da Educação, e atender as necessidades desses alunos – nós iniciamos com o projeto de enviar a tarefa, criamos grupos em WhatsApp, buscando fazer essa interação. Só que o que percebemos, foi que a gente não atingia os alunos, não chegava até eles”, disse a professora.
“Nós fizemos uma campanha, buscamos, mas eles reclamavam que não tinham acesso à internet em casa. Muitas vezes tinham que usar senha do vizinho, o qual nem sempre permitia que eles usassem. Já outros alunos, tinham os dados móveis, mas não conseguiam ficar por muito tempo”, disse a professora Zilá, e lamentou: “o certo é que nós não conseguimos levar o trabalho adiante. Era uma proposta até boa, e considerando que escola tentou de todas as formas junto com a gente”.
A professora destaca que poucos alunos da escola pública participaram da proposta das aulas remotas, considerando que a maioria não tinha condições tecnológicas. Já os alunos da escola privada, as ações foram iniciadas logo que começou a pandemia, e as aulas online funcionaram, contando com a participação de até 25 alunos por turma, todos os dias. Mas, ela lembra, que não pode garantir que todas as escolas da rede privada foram dessa forma, igual a unidade que ela trabalha, onde foi conseguido cumprir o projeto pedagógico sem deixar de cumprir nenhuma etapa.
A professora Maria Zilá pontua, que a escola da rede privada, que ela trabalha, fez várias adaptações, só que os alunos tinham acesso aos materiais e estrutura, e cumpriram todas as tarefas, fazendo várias avaliações. Ela finaliza a sua fala, afirmando que fica observando a disparidade apresentada pela pandemia. E que fica com uma angustia muito grande, com o fato de que muitos alunos da escola pública mesmo sendo interessados, não tiveram muito o que fazer. “Então, eu não sei como é que vai ficar essa realidade aí, porque é de cortar o coração, falando dessa forma”, finalizou.
Durante a fala das duas professoras, elas afirmaram também, que o Secretário Jerônimo Rodrigues foi sensato quando solicitou pela segunda vez o adiamento das provas do ENEM, mas o Inep afirma que está preparado para aplicar a prova, uma vez que a crise sanitária no estado se agrava e há uma insegurança por parte dos alunos, por parte dos pais e no meio disso tudo, os estudantes da rede pública não tiveram o conteúdo integralizado para fazer a prova do Enem.