Em discurso gravado para a Cúpula da Biodiversidade da ONU (Organizações das Nações Unidas), o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o que chamou de cobiça internacional sobre a Amazônia, insistiu na defesa da soberania sobre os recursos naturais e responsabilizou ONGs (organizações não-governamentais) pelos crimes ambientais, sem mostrar provas.
“Rechaço, de forma veemente, a cobiça internacional sobre a nossa Amazônia. E vamos defendê-la de ações e narrativas que agridam os interessem nacionais”, disse Bolsonaro em vídeo exibido na tarde desta quarta-feira (30).
Alvo de críticas internacionais, o presidente disse que não pode aceitar que “informações falsas e irresponsáveis “sirvam de pretexto para a imposição de regras internacionais injustas, que desconsiderem as importantes conquistas ambientais que alcançamos em benefício do Brasil e do mundo”.
Bolsonaro tem, de forma reiterada, criticado o noticiário sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal, que registram altas históricas ou, no último caso, recorde.
“Ao longo dos anos, como parlamentar, e agora como Presidente da República, sempre deixei claro que uma das prioridades do Estado brasileiro deveria ser a proteção e a gestão soberana de nossos recursos naturais.”
“É preciso que todos os países cumpram com suas responsabilidades, arquem com a parte que lhes cabe e se unam contra males como a biopirataria, a sabotagem ambiental e o bioterrorismo”, afirmou. “Meu governo mantém firme o compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a gestão soberana dos recursos brasileiros.”
Ao defender a atuação de seu governo no combate aos crimes ambientais, responsabilizou “organizações” e ONGs pelo desmatamento -novamente sem mostrar ou citar evidências. “Vamos dar continuidade a essa operação para intensificar ainda mais o combate a esses problemas que favorecem as organizações que, associadas a algumas ONGs, comandam os crimes ambientais no Brasil e no exterior”, disse.
No discurso desta tarde, o presidente defendeu a bioeconomia e o que chamou de “exploração racional e sustentável dos incomensuráveis recursos presentes no território brasileiro”. Ele defende que é preciso preservar biomas, mas, ao mesmo tempo, enfrentar adversidades sociais complexas, como desemprego e pobreza.
Bolsonaro disse que o Brasil estará sempre aberto a contribuir para um debate “fundamentado no respeito aos três pilares da Convenção de Diversidade Biológica: a conservação, o uso sustentável e a repartição de benefícios”, mas disse esperar o mesmo de outros países.
Em seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, no dia 22, o presidente brasileiro já havia insistido que é vítima de uma campanha de desinformação e defendido as políticas de seu governo diante da pandemia de coronavírus e das queimadas .
Nesta quarta, ele já rechaçara, em redes sociais, a alusão do candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, Joe Baden, que no debate eleitoral da véspera contra Donald Trump dissera que “a floresta tropical no Brasil está sendo destruída” ao tratar dos incêndios na Costa Oeste dos EUA, em grande parte decorrentes da mudança climática.
Biden chegou a acenar com medidas retaliatórias ao governo brasileiro, afirmando que se a destruição não parar o país “terá consequências econômicas significativas”.
“O candidato à Presidência dos EUA Joe Biden disse ontem que poderia nos pagar US$ 20 bilhões para pararmos de ‘destruir’ a Amazônia ou nos imporia sérias restrições econômicas”, escreveu Bolsonaro. “O que alguns ainda não entenderam é que o Brasil mudou. Hoje, seu presidente, diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças. NOSSA SOBERANIA É INEGOCIÁVEL.”
O presidente seguiu dizendo que seu governo está realizando “ações sem precedentes” na proteção à Amazônia. “Cooperação dos EUA é bem-vinda, inclusive para projetos de investimento sustentável que criem emprego digno para a população amazônica, tal como tenho conversado com o presidente Trump.”
Bolsonaro disse ainda que “a cobiça de alguns países sobre a Amazônia é uma realidade”, mas ponderou que a “‘externação’ por alguém que disputa o comando de seu país sinaliza claramente abrir mão de uma convivência cordial e profícua”.
“Custo a entender, como chefe de Estado que reabriu plenamente a sua diplomacia com os Estados Unidos, depois de décadas de governos hostis, tão desastrosa e gratuita declaração. Lamentável, Sr. Joe Biden, sob todos os aspectos, lamentável”, encerrou Bolsonaro, antes de repetir o mesmo texto em inglês.
França e o outros países da União Europeia querem incluir cláusulas ambientais no acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Em resposta, o Itamaraty e o Ministério da Agricultura afirmaram que o eventual fracasso do acordo vai aumentar devastação da Amazônia.