Más condições da  BA-160 aumentam riscos para quilombolas na região de Bom Jesus da Lapa

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Fonte: De olho nos Ruralista 

A Covid-19 pode comprometer a respiração, levando à morte do infectado. O atendimento médico deve ser imediato para garantir a vida do paciente. No oeste da Bahia, porém, quilombolas enfrentam uma situação difícil, a se julgar  pela qualidade da principal via de acesso do Quilombo Rio das Rãs às cidades, onde fica a assistência hospitalar. Eles denunciam uma situação de penúria da BA-160, no trecho entre Bom Jesus da Lapa e Malhada, e os riscos que a rodovia estadual representa para as comunidades da região.

A preocupação aumenta frente ao avanço do novo coronavírus: caso haja um surto, a estrada será um empecilho para a busca de tratamento.  Representantes do movimento quilombola se reuniram, no dia 16, com pescadores, sindicatos e outros movimentos sociais para elaborar uma carta-manifesto em que reivindicam a intervenção imediata do governo da Bahia, comandado pelo petista Rui Costa.

Com cerca de 110 quilômetros, a rodovia liga Ibotirama ao município de Malhada. O trecho de aproximadamente 65 quilômetros entre Bom Jesus da Lapa e Malhada tem muitos buracos e, em alguns pontos, sequer tem vestígio do asfalto. “É uma luta muito antiga”, afirma o padre Marcos Silva, missionário redentorista que trabalha com comunidades quilombolas da Paróquia São João Batista, em Bom Jesus da Lapa. “A estrada é desumana”.

MORADOR PERDEU O PAI NA ESTRADA HÁ TRÊS ANOS

Leandro Pinto de Oliveira, de 33 anos, perdeu a conta do número de acidentes na BA-160. “Tivemos um acidente com meu tio recentemente”, conta o morador do Quilombo Rio das Rãs. “Meu pai faleceu nela em 2017. Isso deixa a gente indignado”. Wilson Pinto de Oliveira tinha 53 anos. Precisava pegar a estrada para ir Guanambi, onde fazia hemodiálise. “Ele passou mal e disse que não daria conta de chegar. Faleceu quando faltavam 13 quilômetros.” No dia 15, quase no mesmo local, o tio Albino Ramos de Oliveira capotou o carro. Quebrou a clavícula e a costela e foi hospitalizado.

O Quilombo Rio das Rãs recebeu a titulação em 1999 e reúne doze comunidades. Leandro lembra que o quilombo conta com um centro de saúde, mas, muitas vezes, os moradores precisam recorrer a atendimento de saúde mais complexo em Bom Jesus da Lapa. “Mas muitos não aguentam e acabam falecendo”, alerta. “Três mulheres grávidas ganharam bebê dentro do carro”. Ainda não foram confirmados casos de Covid-19, mas ele teme um surto. Com as condições da estrada o tratamento dos infectados seria dificultado.

A estrada passa por doze comunidades quilombolas, onde vivem cerca de 3,5 mil famílias. “A estrada é o acesso das comunidades para a cidade”, conta o padre Marcos Silva. “Se chegar um surto nas comunidades, os quilombolas vão morrer. Eles não têm como chegar ao hospital. Imagina fazer o deslocamento de um paciente com crise respiratória? Não tem condições”.

TRECHO REFORMADO BENEFICIA EMPREENDIMENTOS

O recapeamento da estrada é uma promessa do governo do Bahia. Em uma reunião pública, em 9 de julho de 2018, o governador Rui Costa afirmou que o governo transferiria recurso de R$ 650 mil para o consórcio formado pelas prefeituras da região para realizar as obras de recuperação da rodovia.

Na época ele disse o seguinte:

— Recebi um documento da comissão que pedia: governador, o senhor vai fazer, através do consórcio, a recuperação pra gente poder trafegar sem tanta buraqueira. Eles reforçavam que gostariam de ter o projeto definitivo de 60 quilômetros, para poder ter asfalto definitivo. Já autorizei, já determinei que, além desse R$ 650 mil, estamos autorizando o consórcio a fazer a recuperação e dar trafegabilidade da estrada, já determinei ao secretário que publique a licitação do projeto.

Mas o governo recuperou apenas 16 dos 65 quilômetros da estrada. “Temos a fala do governador anunciando”, diz o padre Marcos. “Saiu no Diário Oficial a recuperação dos 65 quilômetros, mas apenas 16 foram recuperados. Nada mais foi feito”.

Na avaliação dos líderes de movimentos sociais, a parte da estrada reformada atende a empreendimentos comerciais implantados na região. “Para eles, não é interessante recuperar a estrada do quilombo”, avalia o padre. “É racismo institucional”.

A reportagem entrou em contato com o governo da Bahia, mas, até o fechamento desta notícia, não obteve retorno.