O novo ministro da saúde, Nelson Teich, pouco tem falado nas suas primeiras reuniões à frente da pasta. Prefere ouvir. No lugar das afirmações, perguntas. Tem repetido reiteradas vezes aos interlocutores que ainda está tomando pé da situação no ministério.
Na segunda-feira (20), participou de reunião com os governadores do Nordeste. Evitou falar das medidas de isolamento social, alvo de polêmica entre governadores e o presidente Jair Bolsonaro, e pediu um relatório com a situação e as demandas de cada estado.
“Ele foi atencioso. Foi muito econômico nas falas. Mais ouviu do que falou. Disse que responderia na quinta, depois de ver projeções de cada estado. Não quis comentar nada sobre distanciamento social”, afirma Rui Costa, governador da Bahia. Na reunião por videoconferência, os governadores do Nordeste expuseram a preocupação com a falta de equipamentos de proteção individual e de respiradores.
Eles também falaram das dificuldades que enfrentam no financiamento da saúde pública, reclamaram que os critérios adotados pelo ministério na hora de distribuir os recursos beneficiam municípios em detrimento dos estados, e também da demora do governo na hora de fazer o “cadastramento de leitos”, o que garantiria novos repasses.
Outra preocupação é com a lotação dos leitos, à medida em que a curva de contaminação cresce no país. “O grande problema é que o sistema entra em colapso rapidamente, porque pacientes precisam de leito por muito tempo, de 14 a 24 dias. Média de 20 dias ocupando mesmo leito, não tem rodízio e provoca esgotamento rápido”, alerta Costa.
O ministro disse que iria analisar todas as preocupações passadas pelos governadores. Na última sexta-feira (17), logo depois que tomou posse, em conversa por telefone com o presidente do CONASS (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), Alberto Beltrame, defendeu a cooperação com Estados e municípios. “Disse que quer trabalhar em conjunto, quer trabalhar com os estados. Desejei sucesso, disse que os secretários estão prontos para trabalhar juntos”, afirmou Beltrame.
Antes mesmo de tomar posse, o ministro foi colocado numa saia justa. O representante do CONASS foi barrado na porta do Planalto, com a justificativa de que a cerimônia seria restrita para evitar aglomeração em tempos de coronavírus. Preocupado com a relação com os Estados, o ministro, assim que soube da situação, apresentou seu pedido de desculpas.
“Foi um primeiro constrangimento. Não atribuo ao ministro. Mas fomos surpreendidos. Nunca vi isso. Ele fez um pedido de desculpa. Disse: somos parceiros e conta comigo”, afirma Beltrame.
Nelson Teich vem dizendo que, antes de falar sobre a nova linha de ação do governo, quer garantir uma ampliação dos testes em todo o País, para que tenha mais dados sobre a propagação do vírus na hora de tomar qualquer decisão.