Ao contrário do que havia sido divulgado há quase duas semanas pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os maiores bancos elevaram os juros em todas operações e estão adotando medidas mais duras durante as negociações.
No dia 16 de março, a Febraban anunciou que as cinco maiores instituições financeiras do Brasil, para minimizar os impactos da pandemia provocada pelo novo coronavírus (Covid-19), estavam abertas para negociar e que iriam discutir a prorrogação, por 60 dias, dos vencimentos de dívidas de empresas.
A nota da Febraban destacava que a prioridade dos bancos era apoiar especialmente micro e pequenas empresas, proteger o emprego e a renda, numa eventual crise pela doença. O texto até pontuava que os bancos associados estavam “sensíveis ao momento de preocupação dos brasileiros com a doença provocada pelo novo coronavírus e vêm discutindo propostas para amenizar os efeitos negativos dessa pandemia no emprego e na renda”.
De acordo com proprietários de médios e pequenos negócios ouvidos pela Folha, nenhuma das propostas estão sendo cumpridas, visto que os bancos aumentaram os juros em todas as operações. Capital de giro, antecipação de recebíveis e até de empréstimo de longo prazo, que já estavam em negociação havia tempos e prestes a serem liberados, tiveram as taxas de juros elevadas de uma semana para outra.
Há casos em que as taxas dobraram e até triplicaram. Setores mais atingidos tiveram o crédito cancelado. Roriz Coelho, vice-presidente da Fiesp, federação das industrias de São Paulo, resume um pouco a situação. Para exemplificar, conta que uma grande empresa triplo A (jargão que define um negócio como seguro, com baixíssimo risco de calote) tinha acesso a juro de 6% ao ano.
Agora, diz ele, essa empresa paga juros de 12% e ainda tem que apresentar uma série de garantias adicionais. Roriz questiona em particular o fato de os bancos não estarem oferecendo recursos liberados pelo BC (Banco Central) justamente para dar alívio às empresas.
O BC vem liberando os chamados depósitos compulsórios (parcela de depósitos que, por determinação do BC, são retidas pelos bancos para reduzir o dinheiro em circulação). Foram liberados mais de R$ 200 bilhões desde fevereiro.
“Eu acho que esse dinheiro, de uma forma ou de outra, tem que chegar às empresas, ou vai empoçar nos bancos, que estão fazendo mais exigências. Precisa haver garantia de que esse dinheiro irá para ajudar na folha de pagamento, no capital de giro —o dinheiro precisa ser carimbado”, diz. As informações são da Folha de S.Paulo.