O presidente Donald Trump aproveitou a celebração dos 50 anos do Fórum Econômico Mundial, em Davos, para um discurso eleitoral. Perante um auditório lotado de convidados de todo o mundo, falou durante 50 minutos sobre seu governo, atribuiu à sua política uma prosperidade sem precedente, reclamou para si o mérito de criação de empregos depois da última crise, apresentou-se como defensor dos trabalhadores americanos, pregou otimismo e, no final, declarou adesão a uma recém-lançada campanha de plantio de um trilhão de árvores.
Essa campanha havia sido anunciada pelo fundador do fórum, professor Klaus Schwab, como parte da reação a um “estado de emergência” ambiental. É necessária, disse Schwab, uma plataforma global de cooperação antes de se fechar a janela ainda aberta para a ação. Falando também antes de Trump, a presidente da Confederação Suíça, Simonetta Somaruga, exibiu um vídeo sobre o risco de extinção de abelhas e de outras espécies num mundo em devastação. O mundo está em fogo, disse a presidente, mencionando os incêndios na Amazônia e na Austrália como exemplos mais dramáticos. “Quando o mundo está em chamas”, concluiu, “não podemos deixar o trabalho só para os bombeiros”.
Trump discursou como se o meio século do fórum fosse um evento secundário e desfiou durante quase uma hora as façanhas por ele atribuídas a seu governo. Falou dos governos anteriores como se houvessem devastado a economia dos Estados Unidos e cometido apenas erros em sua diplomacia, especialmente, nos acordos internacionais. Mencionou triunfalmente a renegociação do Nafta, o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte, e prometeu negociações salvadoras com o Japão, a Coreia do Sul e o Reino Unido.
O recente acerto com a China, depois de um ano e meio de briga comercial, foi tratado com ênfase especial. Falou das concessões do governo chinês – promessas de compras maiores, de estabilidade cambial e de respeito à propriedade intelectual – e celebrou sua amizade com o líder Xi Jinping. “Minha relação com Xi é extraordinária. Ele é pela China, assim como eu sou pelos Estados Unidos, mas, à parte isso, nós amamos um ao outro.” Ainda assim, Trump afirmou que a “maior parte” das tarifas comerciais impostas à China vai continuar em vigor durante as negociações da próxima etapa do acordo bilateral, conhecida como “fase 2”, que começarão “muito em breve”.
Trump deixou de mencionar a recuperação econômica iniciada na administração de seu antecessor, Barack Obama, e os cerca de sete anos consecutivos de criação líquida de empregos antes de sua posse em janeiro de 2017. Seus anos de governo, foram caracterizados como o período do “great American comeback”, o grande retorno americano, como se as administrações anteriores só tivessem produzido estagnação, empobrecimento e enfraquecimento dos Estados Unidos.
Meio ambiente.
Sem mencionar o aquecimento global, por ele negado, o presidente americano criticou as previsões sombrias, descreveu seu governo como empenhado na proteção da natureza e declarou, no final, sua adesão à campanha de plantio de um trilhão de árvores lançada nesta terça-feira, 21, por Schwab.
Ambiente é o grande tema da reunião do Fórum Econômico Mundial neste ano. Sem abandonar as habituais discussões econômicas, políticas, geopolíticas e culturais, o programa contém grande número de sessões a respeito dos desafios de conservação da natureza. A Amazônia é tema de uma sessão inteira.
A comemoração do meio século do fórum, assunto da abertura oficial da reunião, teve participação indireta do papa Francisco. No começo da sessão, o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, de Gana, leu mensagem papal sobre o 50.º aniversário da organização. Devemos sempre lembrar, disse o papa, nossa condição de membros de uma família, a humana, e nossa obrigação de cuidar um do outro. Além disso, pediu um esforço ético renovado em todas as discussões, enfatizando os temas econômicos. Toda a mensagem papal foi centrada no trabalho do Fórum e na importância da cooperação internacional e do diálogo. Trump mostrou-se muito menos interessado nas 50 velinhas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.