A banana produzida no Perímetro Irrigado do Projeto Formoso, zona rural do município de Bom Jesus da Lapa, que já tem o reconhecimento regional e nacional, como o maior produtor de banana do Brasil. Mesmo com esse destaque positivo, os produtores querem dar mais um passo importante. O registro de indicação geográfica, que deve atestar que a qualidade da banana está diretamente ligada a com a região de produção.
No Perímetro Irrigado são 19.500 hectares, com 8.700 hectares utilizadas para a plantação de banana, e uma área de reserva, inapta, de 7.400 hectares. As plantações de banana na área correspondem à aproximadamente 95% das culturas irrigadas no perímetro, que nos últimos 5 anos anos cresceu 16%.
Cerca de 1.124 produtores produzem banana no Perímetro Irrigado do Projeto Formoso, com 4.626 hectares de pequenos produtores, 4.435 de médios produtores, e 2.994 de grandes produtores.
A exemplo do senhor Carlito Pereira, de 25 anos, que mora no Projeto Formoso há 21 anos, onde trabalha em uma área de 4 hectares. Os filhos cresceram e foram morar em outra lugar, e ele continua a atividade com a esposa, cuidando da plantação de banana, investindo numa nova variedade.
Ele destaca, que a banana produzida no Projeto Formoso apresenta uma grande qualidade, e precisa ganhar mais destaque tanto no município como em outros estados. E o reconhecimento do registro de indicação geográfica, que apresenta a origem da banana, tanto vai valorizar a produção local, como melhorar o olhar dos consumidores.
Carlito afirma que o resultado da produção não tem sido boa, principalmente no atual momento que vive o país, que para ter um pequeno resultado é preciso trabalhar muito. “Eu faço uma base aqui, que produzo 24 toneladas por ano, que para ter esse resultado, que não é grande, é preciso trabalhar muito. Porque se você está na área e não produz, não vale a pena. Tem que ser você mesmo, ficar de cima[cuidando da plantação]. Porque, com uma pequena área dessa aqui, não tem como eu pagar um funcionário, que geralmente trabalha só 20 dias no mês, e vai ganhar uns R$ 1.500, fica pesado”, diz.
Ele afirma, que o maior gasto na produção são os custos da água e adubo, e que o momento não está fácil. “Lugar nenhum tá fácil para viver, eu eu prefiro estar aqui, fazendo o meu trabalho, no que é meu, que arriscar outra coisa, acreditando que as coisas vão melhorar pra gente”, destacou.
O agricultor faz parte de um grupo de produtores que resolveu mudar a variedade da plantação, buscando uma perspectiva melhor, com o início do cultivo da banana prata Catarina, e está entre as principais demandas de assistência técnica disponibilizada pelo Distrito de Irrigação(DIF), por ser uma das primeiras referências para os pequenos produtores do perímetro.
Já o jovem Felipe dos Santos, de 28 anos, que se formou em Ciências Agronômicas e retornou para continuar a atividade da família, que já trabalha com a cultura há mais de 15 anos no Projeto Formoso. A área de 115 hectares de banana, no setor empresarial, gera 50 empregos fixo durante todo o ano. “A gente tem buscado ideias novas, junto a experiência que meu pai tem ao longo dos anos, que a vida toda trabalhou com agricultura, e há 15 anos vem trabalhando com banana. A proposta é aprimorar sempre, e viajar em buscar de novas tecnologias para melhorar a produção e a qualidade da nossa fruta”, disse.
Ele fala que a banana já teve momentos melhores, o que fez a produção aumentar no Brasil todo. Porém, além do momento econômico que vive o país e o aumento das áreas de produção, está fazendo o setor passar por uma crise. “A mudança de clima tem interferido não só aqui mais em todo país, como também essa crise econômica que tem diminuído bastante o consumo. Então, há dois ou três anos atrás, a gente vem passando por um momento complicado. E quem não conseguiu levar o negócio de uma forma regular, bem administrada, tá passando grandes dificuldades”, frisa.
Felipe destaca, que a banana é um investimento que tem bons resultados, no entanto, o momento não tem ajudado, já que todos os setores estão também passando por um momento complicado, e que ele acredita que as coisas vão melhorar. “O produtor precisa se profissionalizar mais, passar a gerir mais o negócio dele. E a parte técnica tem que ser mais bem feita. Porque eu acho que a banana vai dar resultados positivos daqui para frente”, afirma.
O agricultor lembra, que a banana é fundamental para o município de Bom Jesus da Lapa, que além de gerar lucro, e ser um negócio viável, ela ajudar a fazer a distribuição de renda para região. “Hoje em média de 50% dos nossos custos é com mão de obra. Conseguimos distribuir uma parte da produção com geração de renda, com empregos”, afirma.
Felipe sinaliza, que tanto o pequeno como o grande produtor está passando por dificuldade, e precisa de mais atenção e apoio. “Acho que o apoio dos órgãos públicos é o mínimo para o Projeto Formoso, considerando a distribuição de renda, poderia ser muito maior. Hoje o Distrito de Irrigação, com os apoios que tem dado aí, ele anda passando dificuldade. Por exemplo, antes a assistência técnica era federal, agora o Distrito faz, assumindo tudo sozinho, com poucos apoios, que eu acho que é pouco, diante do benefício que é oferecido na distribuição de renda. Já que Bom Jesus da Lapa é o maior produtor de banana do Brasil, deveria ser visto com outros olhos”, lamenta.
Sobre o Registro de indicação geográfica, que a banana do Projeto Formoso pode conseguir, o jovem agricultor afirma que pode dar um novo destaque para a cultura produzida em Bom Jesus da Lapa. Já que a banana produzida no Perímetro Irrigado é uma das mais saudáveis do Brasil, considerando que é uma das frutas que menos recebe defensivos agrícola no país. A importância é grande, principalmente no mercado final, onde muita vezes, o comprador não sabe de onde veio a banana e qual a procedência. Já que aqui a gente tem uma particularidade considerando com outras regiões do Brasil, principalmente Centro-Oeste, Sudeste e Sul, que a gente usa ‘muito pouco’ agrotóxicos. São Paulo faz de 11 a 12 pulverizações no combate a sigatoka negra, fora outros controles que eles fazem lá. Já a gente faz aqui, em torno de 3 a 4 por média. Então a gente consegue reduzir em 40% a 60%. Nossa região usa menos, porque ela é privilegiada pelo clima, com calor e luminosidade, favorece pouco aos fungos, principalmente a sigatoka amarela, que é a principal da região. Por exemplo, se pegarmos essa questão de qualidade, agregada a IG (Identificação Geográfica), teremos novos mercados, por nossa banana ser uma das mais saudáveis, que pode ganhar novos mercados, graças a esses fatores”, finalizou.
“As organizações do Perímetro Irrigado Formoso, representantes dos produtores, temos um sonho e um anseio muito grande, de conseguir a Identificação Geográfica para o Perímetro Formoso. Tendo em vista que nos somos um perímetro de produção da banana com alto potencial. Prova disso, recebemos no ano de 2016 o título de maior produtor de banana do Brasil dentro de um município”, afirma Ady Santos, que é presidente da Associação Frutas Oeste.
Ele destaca que o percurso é longo, que precisa de muito trabalho, para ser reconhecido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que é quem vai reconhecer. “Então estamos aí, Distrito de Irrigação, Frutas do Oeste, e algumas representações do Perímetro Formoso, na busca de alcançar essa identificação. Já que esse esse selo de identificação vai mostrar para o Brasil, mais uma vez, a importância do Perímetro irrigado Formoso. Que é esse gigante na produção de emprego e renda, que com sua agricultura familiar e empresarial produze em média, 12 mil toneladas de banana por mês. Isso representa 1.000,00 caminhões mensais, que a gente manda para praticamente todas as unidades da federação.
Ady afirma também, que a fruta do Projeto Formoso é considerada a nível de Brasil uma das mais saudáveis, porque enquanto outros estados com maior incidência de chuva. E e um dos fatores é a pulverização aérea, devido a alta umidade. “Enquanto outros estados pulverizam 12 vezes no ano, nós pulverizamos no máximo 5 vezes por safra. Então isso nos dá uma condição muito confortável, em dizer para o Brasil, que a nossa fruta é uma das mais saudáveis do Brasil”, finaliza.
De acordo Luciano Seixas Ivo, que é o consultor contratado pelo SEBRAE para fazer o levantamento, o selo de Indicação Geográfica que vai apoiar a banana da região, está dentro de um projeto maior do SEBRAE, que já existe há algum tempo. E o objetivo principal é preparar os grupos de produtores para que eles possam pleitear o registro junto ao INPI.
Ele destaca que para conseguir o registro, vários procedimentos são importantes, como a construção de documentos que vão justificar porque o território se tornou notório, como um centro produtor de banana.
Entendendo a indicação geográfica
O registro de IG permite delimitar uma área geográfica, restringindo o uso de seu nome aos produtores e prestadores de serviços da região (em geral, organizados em entidades representativas).
A espécie de IG chamada “denominação de origem” reconhece o nome de um país, cidade ou região cujo produto ou serviço tem certas características específicas graças a seu meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.
Já a espécie “indicação de procedência” se refere ao nome de um país, cidade ou região conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.
O perímetro de irrigação do Projeto Formoso é vinculado a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF). Sendo administrado pelo Distrito de Irrigação Formoso, entidade privada sem fins lucrativos, constituída por todos os irrigantes da área, e que é responsável pelos serviços de operação e manutenção de todo Perímetro Irrigado.