Com poucas mudas de roupa e a mala “pesada de sonhos e desejos”, Ronaldo Rocha deixou, no dia 31 de dezembro de 2012, a casa onde morava com os pais em Barreiras, na Bahia, e partiu em direção à capital federal. Com o pouco dinheiro que sobrou depois de comprar a passagem de ônibus, o jovem desembarcou, após um dia inteiro de viagem, com um objetivo: se tornar jornalista. Na época em que veio, tinha 18 anos e ainda não havia concluído o ensino médio.
Seis anos depois, aos 24, o jovem concluiu o sonho e se formou nessa sexta-feira (22/2) no curso de jornalismo da Faculdade Anhanguera. Antes faxineiro e hoje chefe de comunicação da assessoria de imprensa da Administração Regional da Candangolândia, Ronaldo trocou o balde e a vassoura pelo diploma. O rapaz, inclusive, entrou na sua colação de grau segurando os equipamentos usados por ele no trabalho que financiou sua graduação.
Muito emocionada, a avó de Ronaldo, Valdeci Araújo Novaes, 68, conta como foi a festa organizada pela família para a recepção do neto. “Foi uma alegria muito grande ver as pessoas chegando. Todas orgulhosas do esforço que ele fez para realizar esse sonho desde pequenininho. Essa paixão dele por jornalismo foi algo que desde sempre eu olhava e admirava”, disse.
A mãe do jovem, Aline Novaes Rocha, 43, por sua vez, diz que tem “muito orgulho” do filho. “Desde pequeno, ele correu atrás deste sonho. No colégio, sempre procurava a diretora pedindo para fazer trabalhos relacionados ao jornalismo. O pai dele também está muito orgulhoso, acompanha de perto as coisas que ele posta no Facebook.”
Os pais viraram os maiores fãs do mais novo jornalista da família, que enfrentou as dificuldades para conseguir realizar seu sonho. Quando voltou a Barreiras para comemorar a conquista ao lado dos familiares, dias antes da colação de grau nessa sexta (22), foi surpreendido com uma festa surpresa.
“A gente que é do interior tem essa visão de que quem mora na capital tem dinheiro, então, decidi vir para Brasília morar com meu primo. Queria mostrar para meu pai que conseguiria realizar o sonho de me tornar cineasta e jornalista. Quando voltei, fui recebido com essa festa maravilhosa”, disse Ronaldo
Dificuldades
O caminho percorrido por ele, no entanto, não foi nada fácil. Ronaldo lembra das dificuldades que passou quando bateu na porta do primo para pedir abrigo. Na capital, conta já ter feito de tudo, mas foi com o trabalho de babá que pôde comprar uma filmadora de R$ 800 que mudou sua vida para sempre.
Apaixonado pelo filme amador “Ai que Vida”, dirigido pelo maranhense Cícero Filho e lançado em 2008, decidiu seguir os passos do cineasta e começou a escrever o roteiro de sua própria película.
Até então apenas sonhos, os curta-metragens “Agindo sem Pensar” e “Marcas da Dor” saíram do papel quando o agora jornalista conseguiu reunir atores, produtores e até mesmo viaturas policiais da Cidade Estrutural.
O dinheiro para as produções veio de um trabalho que também mudou sua vida. Na época das gravações, Ronaldo trabalhava como faxineiro na escola onde concluiu o ensino médio, o Centro Educacional 1 da Estrutural (CED 1) – hoje, uma das unidades educacionais públicas do DF que aderiu ao modelo de gestão compartilhada com a Polícia Militar.
Quem ofereceu um lugar para o jovem ficar foi a amiga e atriz de um dos seus curtas Elioene Leão Dias, 58. Foi nos fundos da loja da comerciante que Ronaldo morou enquanto cursava jornalismo. “Ele me procurou dizendo que não podia mais ficar na casa do primo, mas que estava atrás de um sonho e queria continuar em Brasília. Logo concordei, disse que ele poderia ficar o tempo que quisesse”, lembra Elione.
A amiga esteve na formatura de Ronaldo e se emocionou com a entrega do diploma. “A gente fica imensamente feliz, estou muito emocionada. É um garoto que batalhou e que trabalha muito. Será um excelente jornalista, tenho fé.”
Voluntário
Na escola onde estudou e depois trabalhou, Ronaldo sempre foi querido pelos alunos e chegou a realizar trabalhos voluntários como professor de cursos de gastronomia, dança, mágica e até teatro para crianças carentes. Apesar de “pegar no batente” das 6h às 14h em troca dos R$ 834 que ganhava, ele afirma que foi o salário que o permitiu financiar seu sonho.
Paixão antiga
Segundo conta, a paixão pela área e pelo audiovisual “vem desde moleque”. “Sempre me interessei por cinema e jornalismo, mas na minha cidade sabia que nunca teria oportunidade. Quando ainda estava na escola, vendia salgados e, com o dinheiro que ganhava, pagava a lan-house, onde pesquisava o que era preciso para me tornar jornalista”, disse.
O sonho do jovem começou aos 12 anos, e o amor pelo jornalismo tornou-se ainda maior quando passava pelo caminho que fazia sempre até a casa de sua avó, no interior da Bahia. “Ia de bicicleta e vi uma equipe de TV gravando. Fiquei em choque, acompanhando de perto todo o trabalho dos jornalistas, estava fascinado. Naquele dia, decidi que era isso que queria para minha vida”.
Hoje, após a longa jornada, Ronaldo inicia uma nova etapa da vida: a de profissional da imprensa recém-formado.
* Informações do Metrópoles