O futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, disse ao Estado que deve manter a atual direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), comandada por Janer Tesch Alvarenga – oficial de inteligência há 34 anos e no comando do órgão desde setembro de 2016. O general disse que quer a Abin sem viés ideológico e integrada aos demais órgãos de inteligência para atuar no combate ao crime organizado.
Ao ser questionado se pretendia retomar características do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), contestou: “Isso é uma bobagem. Não há ideia de resgatar nada. Não estamos olhando para o retrovisor. Estamos olhando para a frente”. Segundo ele, “a Abin é um órgão de Estado”, “não faz bisbilhotagem” e “não fará nada fora da lei”. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida na sexta-feira passada (21).
O sr. vai manter o atual diretor da Abin no cargo?
Essa decisão não está tomada, mas tudo se encaminha para manter o Janer. Não tenho razão para retirá-lo, mas ainda não consegui ir à Abin, nem conversei com ele. Pretendo manter a estrutura atual. É o mais certo.
Qual será o modelo de inteligência da Abin do governo Jair Bolsonaro?
A ideia é ser o mais inteligente possível (risos). É uma assessoria muito importante para o presidente e para todos os membros do governo. O principal cliente da Abin é o presidente. Mas a Abin trabalha em melhor proveito do Estado, não é do governo. O objetivo é buscar o máximo de eficiência, a maior integração possível entre os diferentes integrantes do Sistema Brasileiro de Inteligência, criar um clima de absoluta confiança com os demais órgãos. A Abin tem um papel bastante relevante e definido dentro do Estado brasileiro. Existe uma política de inteligência que dá as normas e princípios de forma didática, servindo de orientação para todas as atividades.
A Abin vai bisbilhotar a vida dos opositores?
De jeito nenhum. A Abin é um órgão do sistema brasileiro de inteligência. Inteligência não é bisbilhotar a vida de ninguém. Inteligência é fundamental em todos os governos do planeta e trabalha em cima de estudos, análises, coleta de informações. São coisas científicas. Não tem nada a ver com bisbilhotar a vida de ninguém. A Abin não faz isso, não fará nada fora da lei. Existem limites legais muito bem definidos e ela vai se ater a isso.
Qual avaliação o sr. faz da estrutura da Abin?
A ideia é manter a estrutura. Foi feito um excelente trabalho nessa retomada da existência do Gabinete de Segurança Institucional, que tinha sido dissolvido pela ex-presidente Dilma Rousseff. A partir daí, a ideia foi manter o que existia e fazer um grande aperfeiçoamento do sistema de inteligência, inclusive com a aprovação da política que dá os parâmetros do setor. Hoje, temos um compromisso com a modernidade e isso é muito difícil porque há uma evolução constante de tudo, principalmente de tecnologia. Temos de acompanhar as técnicas mais avançadas de produção de informações, com respeito absoluto às normas legais e democráticas.
O fato de o governo Jair Bolsonaro ter um grande número de militares significa que a Abin pode voltar a retomar o antigo Serviço Nacional de Inteligência(SNI) dos governos militares?
Isso é uma bobagem. Um absurdo dizer isso. Não há ideia de resgatar nada. A ideia é de partir para um Brasil novo. Não estamos olhando para o retrovisor. Estamos olhando para a frente.
A Polícia Federal fez na sexta-feira passada (21) buscas na casa do advogado Zanone Oliveira Júnior, defensor de Adélio Bispo de Oliveira, que cometeu atentado contra Bolsonaro. O GSI vai trabalhar nisso?
É uma investigação a cargo da PF. Confiamos plenamente que ela fará, como sempre, um ótimo trabalho.
A Abin pode ajudar a investigar quem cometeu atentado contra Bolsonaro?
Isso não é com a Abin. Isso é questão de investigação policial, a cargo da PF.
Há temor de novo atentado ao presidente eleito, seja na posse ou depois?
As informações sobre isso, o próprio general Sérgio Etchegoyen, atual ministro do GSI, já disse que existem informações que essa possibilidade (de atentado contra Bolsonaro) continua. Mas nós temos absoluta confiança no dispositivo de segurança que está sendo montado para a posse e depois.
A Abin pode trabalhar no mapeamento para ajudar no combate ao crime organizado?
A Abin não só pode, como tem de ajudar. A Abin é um dos elementos mais importantes do Sisbin. Claro que a Abin vai ajudar não só a mapear o crime, trabalho que não é só dela, mas continuar a ir atrás de informações buscando, o mais rápido possível, diminuir a atuação do crime organizado e, se possível, neutralizá-lo. É complicado, mas precisamos perseguir isso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.