O ministro da Educação, Rossieli Soares, e a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, fizeram um alerta para que os candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não caiam em notícias falsas, as chamadas fake news, e para que estejam atentos ao horário de verão para não perderem a prova e chegarem após o fechamento dos portões.
Segundo Maria Inês, nos últimos dias, circulou um boato de que o Enem seria adiado, o que é mentira, o exame está mantido nos dias 4 e 11 de novembro. “A fake news é uma doença social e nesse período de exame em que os participantes estão no grau máximo de ansiedade, elas atrapalham e muito”, diz.
Candidatos podem alertar o Inep sobre notícias falsas pela Página do Participante e pelo aplicativo do Enem, disponível para os sistemas Android e IOS. Os participantes podem também entrar em contato com o Inep pelo telefone 0800-616161. Maria Inês pede que os estudantes denunciem as fake news “para que a gente possa desmentir esse tipo de notícia que causa tanto transtorno aos participantes”.
No dia 4 de novembro, serão aplicadas as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Redação, Ciências Humanas e suas Tecnologias, e no dia 11 de novembro, os candidatos farão as provas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias.
Horário de verão
Outro alerta do MEC e do Inep foi para que os participantes estejam atentos ao horário de verão, que começa no primeiro dia de prova do Enem, neste domingo (4). “Temos diferença grande nos estados brasileiros em relação ao horário oficial que é o de Brasília. No estado do Amazonas temos alguns municípios que não seguem as demais cidades. É fundamental que os participantes estejam atentos e procurem se informar”, diz Maria Inês. Os portões abrem às 12h e fecham às 13h, no horário da capital.
Até a manhã de hoje, cerca 1 milhão de candidatos ainda não tinham acessado o cartão de confirmação de inscrição e não sabiam o local de prova do Enem. O Inep vai enviar e-mail e mensagens SMS para esses candidatos. A orientação é que o participante faça o trajeto até o local de prova antes do dia da prova, para conhecer o caminho e evitar imprevistos. O cartão pode ser acessado pela Página do Participante e pelo aplicativo do Enem.
Operação de guerra
Soares comparou a logística para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a uma operação de guerra: “Impressionante a logística, aquilo que precisa ser feito para a aplicação nesses dias”. O Enem 2018 será aplicado nos domingos dias 4 e 11 de novembro, em 1.725 municípios brasileiros, 70 deles de difícil acesso. Ao todo, 5.513.726 estudantes estão inscritos.
A estrutura para aplicação do Enem envolve 10.718 locais de aplicação, 155.254 salas e mais de meio milhão de colaboradores. Foram impressas 11,5 milhões de provas de doze Cadernos de Questões diferentes. Uma videoprova em Libras garante acessibilidade. Ao todo, são quase 600 mil pessoas envolvidas na aplicação do exame.
Fatores sociais podem explicar até 85% da nota
O Estado de S. Paulo
Saber se a escola de um aluno é privada ou pública, a renda de sua família e até a profissão dos pais pode explicar, na média, o resultado obtido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Um estudo feito pelo cientista de dados e mestre em Economia do Setor Público pela Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Sales, a pedido do jornal O Estado de S. Paulo, mostra que fatores socioeconômicos como esses estão correlacionados a até 85% da nota no exame.
O levantamento foi feito com base nos microdados do Enem e do Censo Escolar de 2017 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC). O modelo traça correlações com base nas notas e informações de 1,3 milhão de estudantes que fizeram a prova no fim do ano passado. Segundo o estudo, dez variáveis são as que mais se correlacionam ao desempenho na prova, incluindo se a escola do candidato é privada, a renda da família, a oferta de equipamentos multimídia no colégio, o número de funcionários por aluno, entre outros. Um desempenho mais baixo está associado a variáveis como estudar em escola pública, morar em um domicílio que não tem computador, inexistência de carro e acesso a internet e/ou telefone fixo.
Isso não significa que cada um desses fatores seja o motivo específico pelo qual o aluno foi bem, ou seja, que sejam a causa do desempenho. No caso de variáveis relacionadas aos bens que a família do candidato tem em casa, por exemplo, essas informações estão diretamente ligados à renda. Também não significa que o preparo do aluno não faça diferença, mas que o perfil dos que têm notas semelhantes se repete. “Os dados mostram que existem dificuldades relacionadas às condições sociais que tornam o caminho mais difícil rumo à faculdade. Isso, na verdade, valoriza os que, mesmo com péssimas condições de vida, conseguem um bom resultado”, diz Sales.
Os dados do estudo corroboram análises já existentes sobre o desempenho de estudantes em testes – quanto maior a renda da família e as condições da escola e da comunidade escolar, mais chances eles terão de conseguir melhores resultados. Dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) já mostram essa relação – quanto maior o nível socioeconômico do colégio, maiores são as médias no índice oficial, que é o principal indicador do governo federal de qualidade da educação básica no País.
Isso não significa que o desempenho individual não tenha importância, mas que só isso explica pouco sobre o resultado nas avaliações, segundo especialistas. “O grande fator que pesa no desempenho do aluno está associado à família, pela renda e pelo capital cultural e social. Importa se a criança foi criada em um ambiente letrado, se tem livros, se ela é desafiada. E, é claro, importa a renda”, diz o professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Chico Soares, especialista em avaliações.
“As características individuais também importam”, afirma ele. “Mas é mais difícil que elas, sozinhas, deem conta das características institucionais. Não há como a escola compensar a família. O que não teve na família, dificilmente terá na escola. E se não tiver apoio em nenhum dos dois, fica mais difícil ainda.”
Convívio
O especialista ressalta ainda que, na escola, o que acaba pesando mais é o convívio com outros alunos semelhantes. “O grande diferencial são os pares, ou seja, pessoas que também vieram de família com maior capital cultural e econômico. Isso cria um ambiente muito propício para o aprendizado.”
Variáveis
Afeta positivamente
1. Se o aluno estudou em uma escola privada
2. A renda per capita familiar
3. O nível de utilização de equipamentos multimídia no colégio
4. O número de funcionários (relativo à quantidade de alunos) da escola
5. Se a instituição possui parque infantil
Afeta de forma negativa
1. Se o aluno estudou em uma escola pública estadual ou municipal
2. Inexistência de computador no domicílio
3. Inexistência de carro no domicílio
4. Inexistência de acesso à internet no domicílio.