Zenilda Martins escreve sobre “As redes sociais e a negação da dialética”

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As redes sociais e a negação da dialética

Zenilda Correia Martins
Zenilda Correia Martins

A existência das redes sociais, a formação de grupos virtuais, a possibilidade de se ter milhares de “amigos”, o curtir, o compartilhar, o reagir; seguir e/ ou ter seguidores, ter uma página ou um canal na internet, formar grupos relacionados a uma temática específica ou a determinada faixa etária tornou-se uma realidade para a maioria das pessoas. Junto com todo o avanço da tecnologia para muitos surge a ilusão de que não existe a solidão, uma vez que as pessoas estão conectadas a milhares de outras pessoas. Muitos aproveitam para projetar uma vida “linda e perfeita” para seus “amigos”, para os “amigos dos seus amigos”, para seus seguidores entre outros.

Assim, postam fotos e vídeos de momentos de suas vidas que consideram bonitos ou interessantes, desejando muitas curtidas, compartilhamentos e registros de comentários positivos a respeito de suas postagens. Outro aspecto que também se destaca é o desejo de se ter o maior número de acessos nas suas páginas ou canais. Não se pretende aqui negar a grandiosa contribuição da internet e, consequentemente, das redes sociais para a sociedade contemporânea. Entre tantas, destacaria a capacidade de ir rompendo com a dominação e o controle dos meios de comunicações tradicionais – temática que exige uma reflexão a parte.

Mas, chamar atenção para um aspecto negativo que essa realidade a cima descrita tem provocado e, que nesse sentido, chamaria aqui de “a negação da dialética”. Sem tecer uma grande discussão a respeito do conceito tão profundo que é o termo dialética, mas a compreendendo como uma forma de analisar a realidade a partir da confrontação de teses, hipóteses e teorias, onde as ideias são submetidas à discussão e contraposição com o objetivo de trazer um raciocínio mais claro sobre um tema. Infelizmente, embora as pessoas estejam conectadas a milhares de outras, a grande maioria não usa essa conexão para as discussões e contraposições de ideias.

O que predomina nas redes sociais é justamente a negação desse confronto. Isso porque criam se as novas tribos, uma vez que os grupos são formados com pessoas e ideias semelhantes as suas. Acessam, curtem e compartilham postagens com as quais se tem afinidades. As postagens ou os grupos que apresentam ideias divergentes são simplesmente repudiados – não acontece aí a discussão e a contraposição de ideias, mas reações e comentários negativos.

Assim, uma simples ideia ou concepção do seu grupo ou de determinada pessoa com quem se tem afinidade, é o que é considerado como a verdade. E qual o maior problema de tudo isso, especificamente no Brasil? A maioria da população brasileira é formada por trabalhadores que exercem o trabalho de produção de coisas ou de prestação de serviços, portanto não exercem e nem têm acesso ao trabalho intelectual de produção de ideias. Essa maioria também não se percebe como classe social e sim como indivíduo e, almeja individualmente ser bem-sucedido economicamente nessa sociedade capitalista.

Do outro lado há um pequeno grupo que empenha para manter os seus privilégios a partir da dominação desse primeiro grupo e, para tanto traçam, apoiam e executam planos econômicos, sociais e políticos que excluem e prejudicam essa maioria. Na execução dos planos dessa minoria está a publicação maquiada de suas ideias feitas através de postagens que são curtidas, compartilhadas, reproduzidas pela grande maioria, para suas tribos, que assim fazem justamente pela falta de confronto, discussão e contraposição, e por não ter acesso ao trabalho intelectual de produção de ideias. É a negação da dialética e mais uma forma de reproduzir a desigualdade social.

Zenilda Correia Martins é graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB e Especializada em Formação Socioeconômica do Brasil.