Dinastias políticas do Brasil lançam mais de 60 candidatos nas eleições de 2018

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Nããããão, de jeito nenhum! Estou em plena atividade”. Aos 88 anos e com 15 mandatos legislativos na bagagem, o deputado federal Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) resolveu enfim deixar a Câmara. Mas não a política. Tanto é que vai tentar emplacar um filho no seu lugar, além de um outro filho e um neto na Assembleia de Minas.

A bicentenária linhagem parlamentar que se inicia com José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), conhecido como o Patriarca da Independência, produziu Andradas políticos em todas essas décadas e, a depender da família, continuará a produzir.

A dinastia sediada em Barbacena (MG), um dos palcos da Inconfidência Mineira, é relevante símbolo de uma prática que apesar de toda a onda antissistema continua forte nas atuais eleições: a política em família.

Ou em famílias. Sobrenomes que se espalham no país e que representam dominação e influência em regiões ou no estado todo. algumas em decadência, outras em ascensão. Umas mais poderosas, outras mais localizadas.

As principais dinastias políticas do Brasil lançaram mais de 60 candidatos nas eleições de outubro, mostra levantamento feito pela Folha nos registros da Justiça Eleitoral. Se levados em conta os núcleos familiares menores, o número aumenta expressivamente.

“A campanha dos meus filhos e do meu neto quem está coordenando sou eu. Estou orientando tudo, estou fazendo tudo, participando ativamente da política”, diz Bonifácio. “Eles serão a sexta geração. Eu sou a quinta geração que ininterruptamente desde 1823 tem um deputado na Câmara dos Deputados. E eu falei com eles: tratem de segurar a bandeira. Até aqui eu segurei, agora vocês têm que levar daqui pra frente.”
O neto de Bonifácio, Doorgal Andrada, já é vereador em Belo Horizonte. Tem 25 anos.

Atualmente o Brasil tem cerca de duas dezenas de grandes clãs políticos.

Um dos mais longevos é comandado pelo ex-presidente José Sarney (MDB), 88, hoje sem mandato, e passa por um momento delicado. Tenta se reerguer no seu reduto, o Maranhão, cujo comando de quatro décadas foi parar em 2014 nas mãos do oposicionista Flavio Dino (PC do B).

A filha Roseana (MDB) tentará retomar o governo. Outro filho, o ex-ministro Sarney Filho (PV), é candidato ao Senado. O neto Adriano (PV) é o nome da família à reeleição para deputado estadual.

Em bem melhor situação estão os Calheiros em Alagoas, os Barbalho no Pará e os Ferreira Gomes no Ceará.

Em Alagoas, Renan Calheiros (MDB) disputa a reeleição ao Senado. O filho, a reeleição ao governo do Estado. Um irmão, a reeleição à Assembleia. Um sobrinho é prefeito de Murici (AL), seu reduto eleitoral.

No Pará, o clã Barbalho lançou cinco nomes: O de Jader (MDB) ao Senado (reeleição), o de seu filho Helder ao governo, além de duas ex-mulheres e de um primo à Câmara dos Deputados.

No Ceará do presidenciável Ciro Gomes (PDT), seu irmão Cid disputa o Senado. Outra irmã, a Assembleia. Outros dois irmãos estão em cargos executivos, no governo do estado e no comando da Prefeitura de Sobral, berço político da família.

Na Paraíba, os Cunha Lima têm quatro candidatos. No Rio Grande do Norte, os Alves e os Maia lançaram oito nomes ao todo. Em Pernambuco, a principal aposta do PSB para a Câmara é João Campos, 24, filho do ex-governador Eduardo Campos (morto em 2014), que era neto do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005). Os Coelho, outro clã do estado, lançaram três nomes.

Embora com projeção geográfica e histórica menor, núcleos políticos familiares se proliferam em todo o país. Um dos mais simbólicos são os Tatto, na Capela do Socorro, em São Paulo, local apelidado de Tattolândia. Três dos cinco irmãos petistas são candidatos em 2018, ao Senado, Câmara e Assembleia Legislativa. Dois são vereadores na capital.

No Rio, há atualmente um clã de candidatos de pais encarcerados. Filhos de Sergio Cabral (MDB), Eduardo Cunha (MDB) e Jorge Picciani (MDB) são candidatos na atual eleição. Antonhy Garotinho (PRP), que chegou a ser preso no ano passado, é candidato ao governo. Dois de seus filhos, a deputado federal.

Entre os presidenciáveis, além de Ciro há outros concorrentes com familiares na política. Como Álvaro Dias (Podemos) e Jair Bolsonaro (PSL). Três filhos do capitão reformado são parlamentares. Dois deles, candidatos em 2018.

Em estudo publicado em 2014, a Transparência Brasil mostrou que quase a metade dos integrantes da Câmara e do Senado alavancou parentes ou foi por eles promovido, com percentual mais alto entre nordestinos, mulheres e detentores de concessão de rádio e TV.

“Entra e sai governo, os oligarcas e seus filhos, netos, cônjuges, irmãos e sobrinhos seguem dando as cartas. A transferência de poder de uma geração a outra da mesma família provoca tanto a formação de uma base parlamentar avessa a mudanças significativas como a perpetuação no poder de políticos tradicionais desgastados ou até impedidos de concorrer em eleições.” (Folhapress)