As mulheres superam os homens na abertura de empresas e são a maioria entre os trabalhadores com carteira assinada desde 2017 como apontam pesquisas conduzidas pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), como a Global Entrepreneurship Monitor (GEM) e o Anuário do Trabalho nos Pequenos Negócios.
Hoje, as mulheres representam 24 milhões de empreendedoras no Brasil, número pouco inferior ao universo masculino, que é de 25,4 milhões. No entanto, entre os pequenos negócios iniciados nos últimos três anos e meio, elas lideram o ranking, com 14,2 milhões em relação aos homens, que somam 13,3 milhões. Contudo, elas ainda ganham menos que os homens, apesar de serem mais escolarizadas.
Um dos aspectos apontadas é a flexibilidade para administrar o tempo no dia a dia. “Esse é um sonho e ao mesmo tempo o ponto que exige mais disciplina das mulheres, saber organizar bem o tempo é fundamental para ter sucesso no negócio e equilíbrio na vida pessoal”, explica a professora de empreendedorismo da UniCarioca Ana Luiza Azevedo. “Não é um caminho fácil, é preciso saber delegar funções e administrar como qualquer outro empreendedor”.
Destaque
Mulheres como a empresária mineira Rosana Marques não apenas superaram as dificuldades iniciais desse percurso como conquistaram reconhecimento internacional. A criadora da marca de lingerie Ouseuse é finalista do Empretec Women in Business Awards 2018, prêmio conferido pela Unctad-ONU (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento do Comércio). Um reconhecimento às mulheres empreendedoras e que transformaram as comunidades onde atuam.
Rosana começou com uma loja de roupas na pequena cidade de Juruaia, em Minas. “Percebi que não vendia algumas peças porque não havia a lingerie adequada”, lembra ela. “Meu irmão lançou o desafio e começamos uma fábrica sem nunca ter feito um molde”.
No início, o modelo de negócio escolhido foi o de consignação. Principalmente estudantes vendiam as peças para complementar a renda. “Nos aproximamos do Sebrae e percebemos que seria mais interessante se criássemos uma associação comercial”, diz Rosana.
Primeiro foi criada a associação comercial de Juruaia, depois a organização de feiras na cidade. “Nunca tinha feito nada parecido, chorei muito no meio do caminho, a mulher tem dificuldade em ter credibilidade, precisa provar que é capaz, que pode, não foi fácil, mas a emoção de ver tudo pronto foi maravilhosa”, conta. “A feira foi um divisor de águas, mudamos nosso modelo de negócio e transformamos a cidade na capital brasileira da lingerie”.
A cada ano novas empresas do setor abrem na cidade. “Posso dizer que 98% das empresas de Juruaia são geridas por mulheres, temos um espírito associativista que fez a diferença, investimentos em cursos e treinamentos e andamos de mãos dadas, concorremos, mas somos muito unidas e mostramos que as mulheres são capazes”.
Atualmente a Ouseuse tem lojas espalhas por quatro estados, além de franquias e lojas virtuais. Com cerca de 80 funcionários diretos e 120 indiretos. As mulheres são a maioria na empresa: 90% dos seus colaboradores são mulheres, sendo que 100% dos cargos de liderança estão nas mãos delas.
“Transformamos a crise em oportunidade de negócio, as pessoas que perderam o emprego podem vender algo para conseguir uma renda, costumo dizer que o melhor negócio é aquele que você acredita e se dedica”.
Mães Empreendedoras
A maternidade é um dos fatores ou impulso para as mulheres empreenderem como aponta a pesquisa Quem São Elas, publicada em 2016 pela Rede Mulheres Empreendedoras. De acordo com os dados, 55 % dessas mulheres são mães e, entre elas, 75% decidiram empreender após a maternidade.
Para Ana Luiza, uma das características dessas mães empreendedoras é buscar um mercado mais colaborativo e também focado no impacto social. “Claro, muitas mulheres fazem comida em casa para vender, mas observam que muitas apostam na inovação e têm usado as novas tecnologias a favor de seu negócio e de outras mães”.
Justamente foi o foco de Cassiana Buosi, criadora do Talkb4, uma plataforma de aprendizagem colaborativa sobre assuntos delicados. Nela, os adultos, pais e professores são preparados para falar com crianças e jovens adolescentes sobre assuntos delicados e que muitas vezes os mais novos não aprendem em casa. Um exemplo disso foi trazido na capa da revista Wired americana, com a seguinte manchete: “Armadilha para pais: Suas crianças verão pornô. Lide com isso”.
Cassiana começou a empreender aos 12 anos, queria ter o seu dinheiro. Primeiro a menina começou vendendo produtos da Natura, depois passou a produzir as próprias bijuterias e vendia para as colegas da escola. Chegou até a criar uma marca para o seu produto. “Eu sempre tive esse espírito empreendedor, mas aos 16 anos tive a oportunidade de trabalhar na Volkswagen”, diz.
Entre idas e vindas, foram mais de 20 anos atuando em diferentes setores da empresa, mas veio o desejo de engravidar. “Estava com 32 anos, pensando em ter um bebê. Comecei a planejar o que gostaria de fazer, meu problema era o excesso de ideias”.
Com o apoio da Rede Mulheres Empreendedoras, Cassiana percebeu que poderia usar o seu perfil de empreendedora e consultora em um negócio de impacto social. “Passei a ler muito, principalmente artigos internacionais, sobre o futuro dos relacionamentos, tecnologia e percebi que precisava sinalizar para a sociedade questões que não estão sendo discutidas, mas são importantes para os nossos filhos e as futuras gerações”.
Especialistas e adultos (pais, educadores, etc) discutem assuntos delicados como sexo, depressão, suicídio entre outros com o objetivo de preparar os educadores para essa nova geração.
Dessa necessidade de explicar ou orientar as crianças nasceu a Timokids pelas mãos da advogada Fabiany Lima. A startup nasceu depois que as filhas gêmeas de Fabiany nasceram. “Percebi a falta de entretenimento saudável online e opções de leitura digital para as crianças, trabalho com tecnologia há 20 anos e decidi criar uma ferramenta que contém historinhas e atividades para introduzir temas difíceis na vida das crianças usando a linguagem dos pequenos”.